«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

''É da indiferença que é preciso ter medo''

Entrevista com 
Enzo Bianchi

Bruno Quaranta
La Stampa (Itália)
30.10.2011

Ele não é um bispo. É um monge, o Prior de Bose, a comunidade encravada na Serra d'Ivrea em 1965, que se destaca entre os sopros residuais do Concílio. Mas Enzo Bianchi (foto ao lado), assim como Pe. Pellegrino a ele tão caro da Camminare insieme, a carta pastoral publicada exatamente há 40 anos, poderia e pode se espelhar em [santo] Agostinho quando afirma que o pastor serve "com o coração, com a voz, com os escritos".

E, saindo da gráfica, Perché avete paura? (Ed. Mondadori, 109 páginas) é uma leitura do Evangelho de Marcos, um novo retorno à Palavra, peculiaridade da apreciada oficina de Bose, depurada de toda incrustação, apologética ou cosmética, isto é, de adaptação a esta ou aquela passagem de tempo.

Eis a entrevista.

Qual medo encarna o homem com o qual nos encontramos costumeiramente?

O medo da morte. É a suma injustiça que contradiz profundamente a vida humana e o amor. Também pertence ao cristão, apesar da fé da Ressurreição.

Das coisas últimas às coisas penúltimas...

Eis o medo do cristão: ser insignificante, não conseguir mais comunicar a Boa Notícia. Passou-se do ateísmo militante ao rochedo que é a indiferença. As formas amadoras de espiritualidade não os induzem ao erro: da New Age ao sincretismo.

O Evangelho de Marcos...

É o primeiro. Marcos, discípulo de Pedro, inventou o gênero literário Evangelho. O seu é anterior a 70 d.C. É o texto mais elementar, aquele que mais se aproxima do Jesus da História. O cardeal Martini o definiu admiravelmente como o Evangelho do catecúmeno. Catecúmeno por excelência é o desorientado homem hodierno.

Católicos e política depois de Todi. Entre a tentação partidária e a perseverança da diáspora. Qual caminho o Evangelho indica?

Os cristãos são o sal da terra, destacam-se na sua identidade. O Evangelho cria a diferença cristã oposta à indiferença. Quanto ao resto, ele não fornece receitas. As respostas mudam com a mudança das estações. Houve a era da Democracia Cristã, uma força que, sem dúvida, favoreceu o crescimento italiano. Uma experiência que não esgota a relação católicos-política.

Onde a unidade dos católicos, quando muito, pode se manifestar?

Em uma dimensão pré-política, onde os católicos se interroguem sobre a sua inspiração, a definam, a confirmem. Portanto, caberá aos leigos a tradução técnica dos princípios na esfera política.

Meio século atrás, em 1963, o início do Concílio, que recomendaria "um contato contínuo com as Escrituras". Em que ponto estamos?

Deram-se passos, e significativos. Por último, a exortação apostólica de Bento XVI Verbum Domini: é um documento epocal; pede e encoraja o contato pessoal do cristão com a Palavra de Deus. É um convite a tirar o pó das Bíblias que dormem nas nossas prateleiras.

O senhor deseja um Vaticano III?

Não, ainda é preciso que o Vaticano II dê plenamente os seus frutos.

O que, em particular, o senhor espera que se realize?

O caminho sinodal, o "caminhar juntos" do Padre Pellegrino: papa, bispos, presbíteros e fiéis juntos.

O senhor, em Perché avete paura?, diz sobre Jesus: "Não teólogo, mas narrador de Deus". Não acredita que a teologia, o raciocinar sobre Deus, corre o risco de exaurir Deus?

Sim, isso pode acontecer, e acontece. É preciso voltar à narração, feita através de uma vida humana. Jesus contou Deus, diz João. Ninguém jamais viu a Deus, mas a vida humana de Jesus O revelou.

As vidas de Jesus além dos Evangelhos. Há alguma que o senhor prefira?

Eu tinha 18 anos, o romancismo de Renan me fez sonhar. A melhor, de longe, é Um judeu marginal, de [John P.] Meier *: o Jesus da fé não é uma invenção, é a meditação do Jesus na História.

O Evangelho de Marcos e as suas interpretações. Nos anos 1970, o senhor enfrentou o Evangelho de Fernando Belo, a análise marxista de Marcos, arrefecendo o entusiasmo ideológico que ele despertava. O que resta daquela época?

Nada. Ou talvez sim. No sentido de que a pluralidade dos métodos exegéticos corrige a pretensão de uma única interpretação da figura de Jesus.

O senhor recém voltou de Assis. Em que ponto está o diálogo inter-religioso?

Não estamos no ano zero, ao contrário. Bento XVI, nas pegadas de João Paulo II, desfez a tentação integralista de opor o Ocidente ao mundo árabe, ao islamismo: diálogo, não cercas.

Por um templo que – segundo Marcos – seja "para todos os povos". Não hesitando, porém, em expulsar os mercadores. Cristo é inexorável, não como a Igreja.

A expulsão dos vendedores do templo é um dos trechos de Marcos predileto de Ratzinger. Ele recorria a ele desde quando era cardeal. Eu acho que é uma garantia certa de palingênse [metamorfose brusca].

Tradução de Moisés Sbardelotto.

* Título dessa obra no Brasil: Um Judeu Marginal está sendo publicada pela Imago, do Rio de Janeiro, desde 1993, já há vários tomos.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 02/11/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=48994

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