Excesso de cesarianas?
HÉLIO SCHWARTSMAN
A polêmica em torno do excesso de cesarianas, que já respondem por 52% dos partos realizados no Brasil, opõe a perspectiva da saúde pública à visão individual de mães e obstetras clínicos.Em termos globais, não há dúvida de que a maior parte desses procedimentos são desnecessários. Segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde - ONU], cerca de 15% das gravidezes teriam indicação de parto cesáreo. Os 37 pontos percentuais de diferença ocorrem devido ao desejo da mãe, do médico ou de ambos.
E essa superabundância tem um custo, que, em grandes populações, pode ser verificado na maior incidência de complicações para a mãe (morte, infecções, hemorragias) e para o bebê (morte, nascimento prematuro), sem mencionar os gastos extras para o sistema (o parto normal é mais barato do que o cesariano).
Ocorre que, do ponto de vista da mãe, não é absurdo optar pelo procedimento cirúrgico mesmo quando não há uma indicação clínica. Embora os riscos sejam comparativamente maiores, eles são baixos o suficiente para ser relevados.
A chance de a grávida morrer numa cesárea no Brasil é 3,9 vezes maior que num parto normal, mas, ainda assim, é inferior a uma em cada mil nascimentos - 0,54 contra 0,14 por mil, para ser mais preciso.
Se a mulher não é devota da falácia naturalista e, por não querer sentir dor ou qualquer outra razão subjetiva, escolhe fazer a cesárea, não há razão médica ou moral para repreendê-la por isso.
Mais complicada é a situação do obstetra que pressiona para que suas clientes façam cesarianas. Em muitos casos, eles estão colocando sua própria comodidade e ganhos à frente dos interesses do paciente, o que é eticamente questionável.
De toda maneira, a civilização ocidental já resolveu esse dilema há tempos, ao advogar por democracias que dão aos indivíduos o direito de tomar as decisões relevantes para a sua saúde e sexualidade.
Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião - Quarta-feira, 23 de novembro de 2011 - Pg. A2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/10542-excesso-de-cesarianas.shtml
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