População e consumo na Rio +20

José Eustáquio Diniz Alves
EcoDebate
09.11.2011

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio/92) foi aberta oficialmente no dia 03 de junho de 1992. Naquela data a população mundial era de 5.478.595.455 habitantes. No dia 20 de junho de 2012, quando for aberta a Rio + 20 a população mundial deverá estar na casa de 7.052. 135.000 habitantes. Ou seja, em 20 anos a população mundial terá crescido em 1,6 bilhão de habitantes. Houve um aumento demográfico de 29% em duas décadas. Dá pra deixar as questões populacionais de fora da discussão do meio ambiente?


Em 1992, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB mundial – em poder de pardidade de compra (ppp) – foi de 27,9 trilhões de dólares. Isto representou uma renda per capita de 5 mil dólares no ano. Em 2012, o PIB mundial deve ficar em torno de 82,8 trilhões de dólares (ppp) com uma renda per capita mundial de 11,7 mil dólares. Houve um crescimento de 134% no poder de compra médio da população mundial em termos nominais. Deflacionando os números, o aumento foi de 98% em termos reais. Dá pra ignorar a dominação econômica sobre a natureza?


O crescimento do poder de consumo médio da população mundial foi três vezes maior do que o crescimento demográfico. 
Evidentemente, são as parcelas mais ricas da população que concentram a maior parte do luxo do consumo. 
Mas, mesmo que houvesse uma distribuição igualitária da renda, o impacto das presença humana na Terra não deixaria de ser ameaçador para o solo, as águas e a atmosfera.


Não há dúvidas de que o crescimento da população e dos bens e serviços têm aumentado o impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente. Uma forma de medir este impacto é através da metodologia da Pegada Ecológica.


De acordo com os dados da Global Footprint Network, a Pegada Ecológica da humanidade tem crescido de maneira acelerada nas últimas décadas e já atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, ultrapassando em 50% a capacidade de regeneração do Planeta.


Considerando o crescimento da renda per capita e seus potenciais efeitos danosos sobre o meio ambiente, os dados mostram que o desenvolvimento da economia foi mais impactante do que o crescimento demográfico. Mas, com braços e bocas, o aumento populacional alimenta o crescimento econômico. 


E para alimentar a população com comida e o sonho de consumo, quem paga o pato é o meio ambiente e as cerca de 30 mil espécies que são extintas a cada ano.


No ritmo atual a humanidade caminha para o suicídio e o ecocídio. Portanto, é urgente pensar um novo padrão de produção e consumo que torne viável e sustentável ambientalmente a vida dos mais de 7 bilhões de habitantes do mundo. A Rio + 20 precisa apresentar propostas concretas para uma mudança de rota, evitando uma possível queda no precipício. Precipíco que está sendo cavado, sem paz, com mãos, pés e pás.


Em artigo recente, o prestigiado demógrafo George Martine, mostrou qual é a primeira (e complexa) tarefa a ser agendada: “A solução passa pela revisão radical do nosso modelo de desenvolvimento e da sereia que o estimula – o consumismo”.

* José Eustáquio Diniz Alves (foto acima) é doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 09/11/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49258

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