«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Palavra é traída e humilhada!

Marco Tosatti
Vatican Insider
22.11.2011

Há algum tempo eu havia escrito alguns apontamentos para um artigo quase sério depois de ter ido à missa e ter sofrido durante uma homilia. O início da celebração havia sido muito bonito, tínhamos entrado em um singelo crescendo em direção ao momento central; mas mais de 15 minutos de homilia, talvez não do mesmo grau de intensidade, me haviam feito experimentar um processo inverso.


Havia escrito o que vocês podem ver mais abaixo com a intenção de não publicá-lo; um escrito destinado ao lixo, melhor dito, aos “arquivos” dos escritos nunca publicados. Mas, há alguns dias, me caiu diante dos olhos uma notícia de agência, protagonista: o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, biblista de renome, inventor do Pátio dos Gentios, e disse a mim mesmo: então...


O cardeal Gianfranco Ravasi [foto ao lado], convidado – na qualidade de biblista e intelectual – para abrir, na Pontifícia Universidade Gregoriana, um curso sobre a palavra, afirmava: “A palavra está sofrendo. Também para a comunidade eclesiástica, a Igreja e sua comunicação. A palavra é traída e humilhada”. Inclusive no púlpito. Ravasi chama à causa diretamente os sacerdotes. 


Porque “com frequência, os sermões são tão incolores, insípidos, inodoros, que são irrelevantes”. 


Em compensação, “é necessário recuperar a palavra que ‘ofende’, fere, inquieta, julga”, a “palavra saudável, autêntica, que deixa marcas”. 


É preciso não esquecer que hoje, goste-se ou não, quem escuta “é filho da TV e da internet”.
E continua: Ravasi recorre a Voltaire e a Montesquieu, e diz que com eles “a eloquência sacra é como a espada de Carlos Magno, longa e plana: aquilo que não pode dar em profundidade, o dá em comprimento”. O tom do cardeal é leve, mas cortante. 


“O sacerdote não deve aceitar que a palavra seja humilhada. Está claro que a capacidade de falar é, em parte, dom natural, mas também existe a formação, o aspecto pedagógico, os instrumentos técnicos com os quais se dotar. E isto é algo que hoje falta nos seminários”.


Para terminar: “Umberto Eco estima que hoje os jovens utilizam apenas 800 palavras. Isto impõe a quem fala essencialidade, força, narração, cor”.


Então, tomei coragem e trouxe à tona o meu pedido, que espero seja formalmente correto, porque não tenho experiência no campo; é a primeira vez que escrevo a um papa.


“Santidade,


Permito-me fazer-lhe um pedido, simples, mas apenas até certo ponto.
Tem a ver com as homilias. Aquelas que ouvimos, cada domingo, quando vamos à missa.


É um pedido que, na realidade, contém várias sugestões, propostas e ideias; e como é costume ao se dirigir a você, com toda humildade, naturalmente.


A primeira ideia é um tanto radical. Proclamar um período (você pode decidir sua duração) de jejum de homilias. Isto é: estabelecer que, durante um ano nas igrejas (com exceção, obviamente, do Papa e dos bispos) não se façam homilias. Não me peça explicações nem razões. Não desejo ofender os sentimentos (bons) de ninguém. Peça explicações, caso desejar, a Giulio Andreotti, que – se não me falha a memória – procura(va) ir às missas matutinas, exatamente para não ouvir homilias. Eu creio que, se a homilia fosse substituída por um breve momento de recolhimento e de meditação das palavras ouvidas nas Leituras, poderia ser benéfico para todos.


Segunda sugestão. Isto, obviamente, com um tom de brincadeira. Obrigar os sacerdotes a fazerem um curso de jornalismo e, em particular, de jornalismo de agência ou televisivo. Mais de uma vez nos disseram, durante a nossa presença já de longa data em redações, que em 50 linhas se pode descrever a história de uma vida. É possível que seja impossível escrever, no mesmo espaço, uma reflexão sobre o Evangelho do dia?


Terceira possibilidade (também tem um tom de brincadeira, mas...): solicitar à Congregação correspondente a redação de um documento em que estabeleça taxativamente que o tempo dedicado à homilia não deve ultrapassar os cinco minutos. Um santo, ou um padre da Igreja, disse certa vez: “nos primeiros cinco minutos fala Deus, nos outros cinco fala o homem, nos restantes mais de cinco minutos fala o diabo”. Tendo a acreditar que, na realidade, depois dos primeiros cinco minutos em muitos púlpitos continua falando o homem; e, lamentavelmente, nem todos estão à Sua altura, ao escrever e pronunciar os discursos. E a experiência nos torna palpável – sem culpa de ninguém, os sacerdotes estão animados pelos melhores sentimentos, e estão cheios de santo entusiasmo – que uma homilia que se alonga, se perde, divaga, toca muitos pontos diversos, o que, muitas vezes, não ajuda a manter a concentração e a tensão espiritual criadas pelas Leituras. Pelo contrário. Naturalmente, estariam isentos o Papa, os cardeais, os patriarcas e os arcebispos metropolitanos. Sobre os bispos e os abades, pode-se discutir...


Esperamos que estas linhas sejam lidas por alguém.


Tradução do Cepat.


* Marco Tosatti [foto acima] nasceu em Gênova (Itália), em 1947, é jornalista e escritor. É autor de uma vasta obra, que inclui João Paulo II – Retrato de um Pontífice, Dicionário do Papa Ratzinger e La profezia di Fatima.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 23/11/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49697

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