«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Beba, mate e fique livre

FREI BETTO *

Nas  últimas semanas, a mídia registrou inúmeros casos de acidentes de trânsito com  mortes, provocadas por motoristas embriagados. Foram presos e, graças à  fiança, em seguida soltos. Detalhe: sem que suas carteiras de motoristas  tenham sido apreendidas. Alguns, aliás, nem possuíam habilitação para  dirigir.


O Brasil é o país da  impunidade. As leis são feitas apenas para os pobres – que não têm dinheiro  para pagar advogados e fianças. Da classe média para cima, nenhum assassino do  volante se encontra preso. Nem condenado em última instância. São 57 mortes  por dia, no Brasil, associadas ao alcoolismo. Vale, pois, a pergunta: quem é a  próxima vítima?


O Brasil é também o  país do paradoxo. Há intensa campanha contra o tabagismo. Daqui a pouco  haverão de proibir, como nos EUA, até fumar em local público. E, não demora,  dentro de casa, sob pretexto de que incomoda os  vizinhos...


A publicidade de  cigarros desapareceu da mídia. As embalagens de tabaco trazem fotos  horripilantes dos efeitos deletérios do produto. Ora, o alcoolismo mata mais  que o tabagismo. É o terceiro fator de morte no mundo, precedido pelo câncer e  doenças cardíacas. Por que não se proíbe publicidade de bebidas?  


Apenas na cidade de São Paulo, em  2010 ocorreram 1.357 mortes no trânsito e 7.007 atropelamentos. O número de  motoristas embriagados, parados em blitzen da PM, subiu 38% de janeiro a  setembro deste ano, comparado a todo o ano de 2010. Entre jovens de 13 a 19  anos envolvidos em acidentes de trânsito, 45% ingeriram bebida alcoólica.  


Os dados são alarmantes: 

  • 68,7% dos  brasileiros ingerem álcool
  • Nos hospitais psiquiátricos, 90% das internações  são de dependentes de álcool
  • Os motoristas bêbados são responsáveis por 65%  dos acidentes de trânsito
  • E o Ministério da Saúde gasta, por ano, via SUS,  mais de R$ 1 bilhão em tratamentos e internações causados por álcool.  

Segundo o Centro Brasileiro de  Informações sobre Drogas e Psicotrópicos, vinculado à Faculdade Paulista de  Medicina, entre estudantes do primeiro e segundo graus da rede estadual de São  Paulo, 70,4% se iniciam na bebida entre 10 e 12 anos. Nos EUA o índice, para a  mesma faixa etária, é de 50,2%.


Volta a  pergunta que não quer calar, e o governo, o Conar e as agências de publicidade  não querem responder: por que não se aplicam as leis de proibição do tabagismo  ao álcool? 


A resposta existe, o  que não existe é a coragem de fechar a torneira do mar de dinheiro que as  empresas de bebidas alcoólicas despejam na publicidade. E o mais grave:  associa-se álcool a celebridades, como jogadores de futebol e cantores, que  fascinam os mais jovens e atraem legião de  fãs.


Uma grande emissora de TV  anuncia uma série de programas antitabagistas. Quando veremos algo semelhante  em relação ao consumo de  álcool?


Nunca tive notícia de  acidentes de trânsito causados pelo vício de fumar, agressão doméstica decorrente da aspiração da fumaça de tabaco, internação psiquiátrica por dependência de cigarro.  Todos nós, porém, conhecemos casos relacionados ao alcoolismo. E haja  publicidade de cerveja no horário nobre! Para os jovens, a cerveja é a porta  de entrada no consumo de bebidas  etílicas.


O cigarro prejudica quem fuma e  quem está próximo ao fumante. O álcool, misturado com volante, gera acidentes  que envolvem passageiros do veículo causador do acidente, passageiros dos  veículos atingidos por ele e pedestres, além de danos à via  pública.


Álcool em excesso  transtorna os reflexos. Associado ao volante, é perigo na certa. Mas não se  preocupe. Você está no Brasil. Confia que jamais terá o azar de ser  parado por uma blitz da lei seca. Se acontecer, oferecerá uma grana aos  fiscais, na esperança de que sejam corruptos. Caso não sejam, se recusará a  pôr a boca no bafômetro. Se for detido, convocará a família e o advogado,  pagará fiança e logo estará na rua. Com a carteira de habilitação no bolso.  Pronto para se dependurar no volante e repetir a façanha.  


Viva o Brasil e a impunidade! E  azar das vítimas por viverem num país como o nosso!


* Frei Betto é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de "Batismo de Sangue", e "A Mosca Azul", entre outros. 


Fonte: DOMTOTAL.COM - 07/11/2011 - Internet: http://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2327

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