«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Os pontos não resolvidos da assembleia sinodal


Gianni Gennari
Vatican Insider
07-10-2012
Sínodo dos Bispos - Vaticano
Começou nesse domingo [dia 7 de outubro] no Vaticano o Sínodo dos Bispos: é a XIII Assembleia Geral Ordinária
Houve outras nove assembleias chamadas de "especiais" por serem dedicadas a uma única parte da Igreja: 

  • duas para a Europa (1991 e 1999), 
  • duas para a África (1994 e 2009), 
  • uma para o Oriente Médio (2010), 
  • uma para a Ásia (1998), 
  • uma para as Américas (1997), 
  • uma para o Líbano (1995) e 
  • uma para a Oceania (1998). 

Ao todo, portanto, nada menos do que 22 assembleias sinodais.

Uma[s] pergunta[s]: 

  • quem tem memória ativa dessas assembleias, no interior do Povo de Deus que é a Igreja, instituição histórica e mistério humano-divino? 
  • Quais foram os benefícios dos 22 Sínodos percebidos seriamente pelo Corpo vivo da Igreja inteira? 
Talvez, só com um ato de fé pura se poderia responder concreta e positivamente... É um fato, ao menos medido pelas nossas medidas humanas, limitadas e falíveis, mas constatável por todos.

Giovanni Battista Montini - Papa Paulo VI
Em qualquer caso, no entanto, a história dos Sínodos para a Igreja Católica é longa. Se olhássemos apenas para o nome, Sínodo, trata-se de quase todos os últimos 20 séculos do passado, mas para a forma do Sínodo dos Bispos como é agora, depois do Concílio Vaticano II, e portanto como se apresenta aquele que começou nesse domingo, deve-se lembrar que a primeira ideia remonta ao próprio Paulo VI. No verão de 1963, exatamente três meses após a sua eleição ao pontificado, portanto no dia 21 de setembro, falando com a Cúria Romana, ele afirmou que se o Concílio então em andamento prospectasse a ideia de "associar alguns representantes do episcopado de um certo modo e para certas questões (…) ao Chefe supremo da própria Igreja (...) seguramente não será a Cúria Romana que se oporá a isso".

Quem conhece a história daqueles tempos e a história pessoal de Giovanni Battista Montini entende também o não dito dessa expressão. Ele se tornara papa há três meses e sabia bem que "a Cúria Romana" em grande parte não havia sido entusiasta da a sua eleição. Era aquela Cúria Romana que sempre o havia considerado como um vigiado especial e que 10 anos antes o havia afastado de Roma, enviando-o certamente a Milão, a diocese italiana mais importante, mas sem prover a sua elevação à púrpura cardinalícia. Em 1958, recém-eleito papa, João XXIII imediatamente havia agido, como primeira nomeação, para preencher esse vazio...

E mais: eu me lembro de um episódio significativo. No momento da eleição de Paulo VI (21 de junho de 1963), foi forte o desconforto em alguns ambientes da Cúria, e mesmo um homem da Igreja muito estimado, de grande cultura e de grande espiritualidade, Dom Pericle Felici, então "secretário-geral do Concílio" em andamento, muito estimado por João XXIII, que o quisera nesse papel até a antepreparação do evento, chegou a comentar diante de testemunhas: "Para nós – e ele se referia aos homens da Cúria Romana – realmente acabou!".

Essa era a realidade nas previsões humanas, que, na verdade, eram muito humanas, e eu posso contar o seguinte, com testemunhas ainda vivas: alguns dias depois da sua eleição, Paulo VI recebeu em audiência justamente os homens da Cúria Romana, e uma das primeiras coisas que ele fez quando se encontrou diante da multidão dos curiais foi chamar Dom Felici pessoalmente para perto dele. Este se aproximou, e o papa o abraçou e, na frente de todas, pediu que continuassem ajudando-o na difícil tarefa de levar adiante o Concílio, reconfirmando-o no posto de secretário-geral. É inútil lembrar que o pobre Felici chorou na frente de todos!

Sínodo versus Concílio?

Voltemos ao Sínodo. Depois daquela indicação de Paulo VI em setembro de 1963, passaram-se dois anos em que houve apenas algumas discussões sobre a ideia do Sínodo, prós e contras, até que no dia 15 de setembro de 1965, no início da última sessão do Concílio, o próprio Paulo VI instituiu formalmente o "Sínodo de Bispos Católicos", com o fim explícito de "manter viva a experiência do [próprio] Concílio".

Um evento, portanto, o Sínodo, dentro de outro evento maior, o Concílio. Não ficou imediatamente claro para todos o que se poderia fazer, mas eu me lembro que, nos anos seguintes, de 1967 a 1969, realizaram duas primeiras assembleias, e pessoalmente eu pude ouvir amigavelmente, dentre outros, o então bispo de Vittorio Veneto, Albino Luciani, durante longas caminhadas no grande pátio do Pontifício Seminário Romano Menor, onde eu era professor, nas quais eu pude acompanhá-lo: ele dizia que, depois do almoço, precisava passear por um longo tempo, e eu estava entre aqueles que mais estavam com ele...

Falávamos sobre tudo e, por ocasião das primeiras duas sessões, também sobre o próprio Sínodo e a sua utilidade. Às vezes, no seu sorridente interrogar-se e interrogar, ficava claro que ele não pensava que era tão fácil essa colaboração pronta e imediata da Cúria Romana às solicitações e aos aprofundamentos dos bispos de todo o mundo presentes no Sínodo.

Isso aconteceu principalmente – e comigo também se lembram disso outros presentes naquela época nessas conversas espontâneas – por ocasião do 1º Sínodo Extraordinário de 1969, em que o tema tratado era justamente o das Conferências Episcopais e da colegialidade, como delineada pelo Concílio e depois tratada pelos livros e pelos artigos dos teólogos, também daqueles "sobreviventes" da experiência do Concílio – Rahner, Ratzinger, Congar, De Lubac e outros tantos – com perspectivas que certamente não eram as da "Cúria Romana" da época.

Eis-nos, portanto, no dia de hoje: o tema da Colegialidade "afetiva e efetiva" dos bispos com o Sucessor de Pedro parece-me totalmente importante e atual. Voltemos ao dado histórico: no primeiro anúncio da própria ideia do Sínodo, Paulo VI, no seu sábio e direto conhecimento das coisas de Roma e da Cúria, havia dado explicitamente por óbvio que "seguramente a Cúria Romana não faria oposição" à associação do episcopado, "em certas questões", ao próprio papa.

Pois bem, em retrospectiva, nessas décadas passadas, mais de quatro, eu sinceramente acredito que se possa ter a opinião, fundada, de que o verdadeiro problema do Sínodo de Bispos atual é este: o de fazer com que a colaboração dos bispos também seja "eficaz", e não só teórica e exposta desde já, por estatuto, ao esquecimento institucional previsto e como que quase automático.

Nova Evangelização

Nesse domingo, começou esse Sínodo sobre a "Nova Evangelização", que na prática diz toda a tarefa da Igreja como tal, com um tema que é totalmente "conciliar" em sentido pleno, muito vasto e já de partida superdimensionado. Talvez, a distinção entre Sínodo e Concílio, no estado atual da ideia corrente para eles, também deveria estar na limitação de objetivos do primeiro em comparação com o segundo. É o que é frequentemente afirmado por cardeais, bispos, conferências episcopais e também teólogos no decorrer desses anos...

Na realidade – e aqui o discurso para quem escreve se torna total e opinavelmente proposto, e certamente discutível –, o nó que toca tudo já está presente naquela frase da primeira proposta na boca de Paulo VI, ou seja, no fato de deveria ser certo de que, por parte da Cúria, não sejam postos obstáculos para uma concreta colaboração eficaz entre o papa e o episcopado convocado em Sínodo. De fato, até agora, vimos Sínodos que sempre produziram uma série, mais ou menos ampla e aprofundada, de "propostas" destinadas ao papa, que foram discutidas primeiro em assembleia, depois votadas, aprovadas e finalmente publicadas, mas, muitas vezes, ao invés de pontos de vistas, sempre ou quase permaneceram como páginas de documentos até mesmo solenes, mas escritos e depositados nos autos... Nos documentos oficiais que, mesmo depois de meses e às vezes de anos, tornavam oficiais os Sínodos relativos, muitas vezes é difícil encontrar uma pista verdadeira de muitas das propostas aprovadas...

O fato é, definindo por princípio as propostas sinodais como "consultivas" para respeitar o primado de Pedro, na realidade, isso significava que, na realidade efetiva – diria Maquiavel – tudo foi posto nas mãos da Cúria, de um modo ou de outro, ao longo dos anos, tudo foi filtrado por ela e sem nenhum controle real dos próprios episcopados, tudo foi transformado em documentos escritos pouco a pouco nos escritórios curiais e depois assinados pelos papas

As propostas mais fortes, que nos fatos eram resistidas no debate interno da assembleia, e embora presentes na listagem posteriormente publicada, geralmente foram simplesmente deixadas de fora dos documentos finais publicados com a autoridade do papa... Bastaria comparar as listagens destes à fonte e depois procurar suas pistas nos documentos finais publicados meses depois, e até anos depois, em que tudo foi decidido, sem controle, pelos escritórios curiais... Daí a solenidade dos documentos, muitas vezes, e a relativa, senão nula, eficácia pastoral e também doutrinal das resoluções finais...

"Nota 3"

Como resolver esse inconveniente? Sem nenhuma pretensão, e talvez uma indevida ingenuidade de pensamento, valeria a pena lembrar o que aconteceu no Concílio sobre o tema da colegialidade e das relações com o Magistério e com a própria autoridade do papa no episódio da famosa "Nota 3" de Paulo VI na Lumen Gentium, o solene documento sobre o mistério da Igreja como tal...

O que eu quero dizer? Simplesmente isto: que as propostas e as decisões do Sínodo deveriam ser "consultivas", e portanto não vinculantes, mas apenas com relação à autoridade do bispo de Roma e do Sucessor de Pedro. Sem um "não" papal, portanto – como aquele expresso no exemplo da "Nota praevia" de Paulo VI à Lumen Gentiumelas deveriam ser vinculantes para todos, nos termos a serem fixados com disposições novas depois de cada Sínodo.

Uma proposta do Sínodo discutida e aprovada em assembleia, salvo explícita rejeição do papa em pessoa, deveria se tornar, o mais rápido possível, norma para a Igreja. 

Isso, na prática, salvando e respeitando plenamente a autoridade do papa, evitaria o que já aconteceu em muitas circunstâncias, isto é, que, na prática, os ambientes curiais mais diversos, mesmo em conexão entre si, e mesmo com discordâncias internas a eles próprios, serviram de filtro também com relação ao papa e deixaram cair no nada as propostas mais audazes, talvez, mas também, talvez, mais úteis à autêntica "reforma" sempre necessária, à luz da Revelação, obviamente, mas também da renovação conciliar e dos sinais dos tempos, pouco a pouco oferecidos pela transformação da realidade do mundo e da própria Igreja...

Um Sínodo que, portanto, e verdadeiramente, com o papa e sob a suprema autoridade do papa, delibera e realiza o que é decidido, respeitando os tempos necessários, as precauções devidas, as tarefas respectivas da Cúria, do episcopado e do próprio Sucessor de Pedro e bispo de Roma... De fato, é claro que, muitas vezes, e no que se refere a certos aspectos, se deveria dizer que, quase sempre, o filtro da Cúria, ou mesmo uma certa inércia eclesial de bispos e também teólogos, fez com que, mesmo diante das necessidades mais fortes, faltasse uma verdadeira assunção de responsabilidade...

Sobre esse ponto, eu gostaria de retomar um fato preciso, que mostra como, às vezes, se o papa realmente fosse levado a sério e ouvido, alguma coisa de importante poderia se mover, os "saltos para a frente" – lembro a feliz expressão joanina na aurora do Concílio, há 50 anos mais ou menos – da compreensão da Palavra de Deus aos homens e mulheres do nosso tempo poderiam ser mais fortes e mais virtuosos para todos, até mesmo como sinal de esperança para tantos irmãos e irmãos que olham para a Igreja Católica como um possível lugar de caminho para todos os filhos e filhas de Deus, dispersos por todas as partes...

Em vista da conclusão, no entanto, um outro pensamento... No limiar do terceiro milênio, João Paulo II, na sua encíclica Ut Unum Sint, de 1995, pediu com tons fortes aos bispos e teólogos de todo o mundo uma ajuda para repensar os "modos" do exercício do primado de Pedro, certamente desejado por Cristo Senhor.

A pergunta que eu me faço e que, nesse ponto, poderá ser feita por qualquer pessoa que reflita sobre a realidade atual, também em vista desse Sínodo, é a seguinte: quem – bispo, teólogo, indivíduo ou comunidade eclesial local – levou a sério esse pedido de ajuda por parte de Pedro, vivo no seu Sucessor? E a única resposta que eu posso me dar, no estado talvez insuficiente dos meus conhecimentos, é esta: inexistente!

Talvez, no momento em que começa esse Sínodo, que tem como tema aquela que desde sempre é a missão inteira da Igreja, vale a pena pensar a respeito, com confiança e esperança indomável, missão que animava João XXIII quando convocou e abriu o Concílio, missão que nos faz dizer sempre qual é a realidade visível da nossa humana fragilidade eclesial: "Tantum aurora est" (estamos longe da aurora!).

Para ler a íntegra do "instrumento de trabalho" ou Lineamenta como é chamado o documento base formulado para este Sínodo, basta acessar:

Tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Terça-feira, 9 de outubro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514392-os-pontos-nao-resolvidos-da-assembleia-sinodal

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