«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Como somos cegos!!!

Paulo Guedes, o todo-poderoso Ministro da Economia, se formou em Chicago com bolsa
que governo está cortando

Angela Alonso
Professora de sociologia da USP e pesquisadora sênior do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)

Turma da pepita e do cascalho inviabilizarão não só a universidade,
mas os negócios no Brasil
PAULO GUEDES
Ministro da Economia de Jair Bolsonaro

O presidente fala para chocar e distrair. Jair repete Fernando (Collor), com motos, jet-skis e escatologias.

Para muitos, essa vitrine obscurantista acha contraponto no fundo liberal da loja. A despeito das presidenciadas cotidianas, lá estão Paulo, Tarcísio e Tereza Cristina a embalar a esperança do mercado na melhora do ambiente de negócios. Seriam o ouro escondido em meio ao cascalho. Cascalhada precificada.

Como sabe Bolsonaro, que já garimpou, peneira-se muito para achar pepita. A jazida da pujança deveria luzir aos cem dias de governo, mas impôs reentrâncias políticas e jurídicas incontornáveis mesmo para o gênio de Chicago. Guedes pede paciência, mas não pede água. É movido pela crença no triunfo da vontade —a sua.

Acontece que o brilho da pepita e a opacidade do cascalho se amalgamam no mesmo riacho. Não são as cabeças de Janus, uma olhando o passado e a outra, o futuro. São serpentes da mesma Medusa, como mostra a tópica das universidades públicas.

A turma do cascalho [Bolsonaro & sua banda] ataca ciência, pesquisa, liberdade de pensamento. Na retórica obscurantista, crença vale mais que argumento, fé mais que demonstração. Seu dogma é o da verdade revelada. Como pensam assim, supõem que os demais também assim pensem.

Daí julgarem a universidade um celeiro de esquerdistas que passariam, como os bolsonaristas, o dia todo produzindo fake news e incitando estudantes a repeti-las.

Creem nisso porque, decerto, nunca usufruíram do ambiente intelectual de uma universidade. Nesta instituição convivem diferentes credos, valores e opções políticas. A convergência está no engajamento na produção e transmissão intergeracional de conhecimento.

A universidade é o contrário de tudo o que diz a turma do cascalho. É espaço de pluralidade de disciplinas, teorias, argumentos e métodos. Não se rege por ideologia unificadora, mas por ethos comum, a adesão aos pilares da produção do conhecimento científico: o raciocínio lógico, o rigor dos métodos, a apresentação de provas e a legitimação intersubjetiva dos resultados.

Tudo isso dá trabalho e leva tempo. Pesquisadores estão em processo de atualização permanente, nunca param de estudar. E estão sob constante avaliação.

Cada artigo submetido a um periódico, cada projeto de pesquisa enviado a uma agência de fomento, cada passo na carreira universitária, tudo está sob escrutínio. Ninguém de fora precisa fazê-lo, a comunidade acadêmica controla-se a si mesma. É assim aqui e em todos os sistemas universitários de respeito do mundo.
CAMPUS DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Uma das mais caras do mundo - Paulo Guedes estou lá com dinheiro do contribuinte brasileiro,
com bolsa do CNPq que, agora, ele nega aos demais brasileiros

A hipocrisia escancarada:
nega-se aos outros aquilo que eles usufruíram

A turma da pepita [Paulo Guedes & sua banda] o sabe. Reconhece a racionalidade econômica, brandindo planilhas e gráficos. Ampara-se na ciência e se beneficia do investimento público nela. De 1974 a 1978, Guedes estudou na caríssima Universidade de Chicago com a mesma bolsa do CNPq que o governo agora nega a novos pesquisadores. Sua turma acha que ascendeu por mérito, sem reconhecer a catapulta dos incentivos estatais à educação e à pesquisa.

Por isso não mexe uma palha pela ciência. Delegou o assunto à turma do cascalho, com seu ataque, este sim ideológico, à autonomia universitária.

Nenhuma das turmas está nem aí para a universidade pública. Compartilham o diagnóstico nunca fundamentado de que ensino superior público não funciona. E direcionam recursos e filhos para instituições privadas.

Magnatas brasileiros doam para universidades americanas, caso de Jorge Paulo Lemann, em vez de investir nas nacionais. Boa parte de nossa elite social retirou apoio à ideia da universidade pública acessível pelo mérito, independentemente de renda, cor ou credo.

A tática para enfraquecer as universidades públicas

Pepitas e cascalhos convergem numa operação de asfixia. Um lado amordaça, com desrespeito à lista tríplice para reitor e perseguição funcional e legal a dirigentes ou ex-dirigentes de universidades e institutos de pesquisa. O outro sangra, secando os cofres.

O corte de verbas para custeio, pesquisa e bolsas porá a perder esforços cumulativos dos governos FHC, Lula e Dilma na consolidação, democratização e internacionalização da ciência brasileira. Em país sério, educação e ciência são prioridades do Estado. Mesmo na pátria do liberalismo, os Estados Unidos, as universidades não sobrevivem sem a mãozinha pública. Aqui, o governo nos passa o pé.

A turma da pepita está pagando caro a turma do cascalho, que inviabilizará não só a universidade, mas os negócios, com sua verve antiambientalista e anti-humanista.

A crer no presidente, no fundo não há um poço, mas uma fossa sanitária. Quem nela busca pepitas acabará com a peneira cheia de ouro de tolo.

Fonte: Folha de S. Paulo – Ilustríssima – Domingo, 18 de agosto de 2019 – 02h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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