Tipos de “amigos”
António
Filipe
Se um amigo deixa de
o ser pelo fato de não se concordar com ele,
será que alguma vez
foi amigo verdadeiro?
MARTIN LUTHER KING (1929-1968) Foi pastor batista, ativista pelos direitos civis dos negros, grande orador nos Estados Unidos e defensor da não-violência e do amor ao próximo |
Isto de defender um determinado
ponto de vista torna-se, por vezes, uma grande chatice. É que há muito boa
gente que encara como ataque pessoal o fato de se defender uma ideia que lhe é
contrária. Há pessoas que acham que todo o mundo devia pensar como elas. Que
grande seca seria esse mundo! Uma das coisas que mais prezo na vida é uma
boa discussão ideológica. Não é necessário que a razão fique dum lado ou
doutro. Os fatos, mais tarde ou mais cedo, encarregar-se-ão de dar razão a
uma das partes. E se isso não acontecer não vem mal ao mundo.
Até há uns anos atrás, engoli
alguns sapos. Ouvia coisas com as quais não concordava e ficava calado ou
porque era o Sr. Fulano de Tal que as dizia ou porque não queria pôr em
risco uma amizade. Mas, como se diz na minha terra, “quem cala consente”.
Portanto, ao ficar calado, dava a entender que concordava. E, depois, ficava
irritado comigo próprio. A partir de certa altura comecei a exprimir a minha
discórdia quando achava que o devia fazer. E até a minha irritação quando ouvia
coisas que, para mim, eram verdadeiras barbaridades. Esta atitude trouxe-me
alguns dissabores e até desilusões em relação a alguns amigos. Mas, mais
importante, vivo em paz comigo próprio.
Se um amigo deixa de o ser
pelo fato de não se concordar com ele,
será que alguma vez foi
amigo verdadeiro?
Por outro lado, há aqueles
amigos que parece que estão de acordo contigo, mas que não mexem uma palha para
mudar as coisas. Mas não te agradecem, quando, pelo fato de tu e outros
irem à luta, as coisas mudam para melhor e eles beneficiam disso. Acham que foi
tudo natural.
Mas pior ainda são aqueles que
acham que o que tu andas a dizer e a fazer é uma perda de tempo. Mas são
os primeiros a aproveitar quando os seus benefícios aumentam, por causa dos
esforços que tu fizeste. Desses não podes esperar nada. Nem te agradecem
nem te dão crédito.
Há ainda aqueles que estão sempre
prontos para pôr defeitos naquilo que tu ajudas a organizar, mas nem sequer te
dão ideias para que as coisas corram melhor da próxima vez. E quando
se lhes pede para, no próximo evento, fazerem parte da organização, a resposta
é imediata: “Eh, pá! Não tenho tempo para essas coisas”. Parece
que fazem muito e, bem vistas as coisas, fazem muito pouco. Raramente dão a
cara por uma causa. Preferem jogar pelo seguro. Estão sempre do lado de quem
ganha. Em suma, são covardes. Vivem numa enorme insegurança, que demonstram
quando, exageradamente, publicitam tudo o que fazem, por mais banal e
insignificante que seja. Tentam sempre fazer passar a ideia de que fizeram
uma grande coisa.
Quando se fala em ir a uma
manifestação, buzinação ou qualquer outra forma de contestação, à mesa do café,
apoiam sempre, mas só com palavras. Arranjam sempre uma desculpa para não
comparecer. Têm medo de si próprios. Dizem que têm uma maneira própria de
tentar mudar o estado de coisas. Mas ninguém sabe qual é. Nem nunca dizem! São
hipócritas. São do contra porque está na moda ou porque é chique.
E, depois, não querem que eu me
irrite!
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