Mudar a nossa dieta e costumes
Cientistas da ONU pedem uma
mudança urgente
na dieta mundial para frear a crise climática
Raúl Rejón
El Diario
Madri - Espanha
08-08-2019
Cessar a crise
climática obriga a mudar o modo de se alimentar.
A fórmula atual para
produzir a comida supõe quase um terço das emissões de gases do efeito estufa...
[...] razão pela qual é impossível
conter o aquecimento global sem que o mundo – sobretudo o rico – modifique sua
dieta com urgência: mais vegetais e carne produzida com sistemas que
utilizem menos energia, segundo o último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em
inglês), publicado nesta quinta-feira [08/08/2019].
O documento, aprovado na
quarta-feira, aponta que não basta aplicar medidas à produção de energia nas
centrais elétricas ou nos motores dos veículos. Não basta a mudança para a
eólica e solar. Em outubro de 2018, o IPCC já tinha avisado que apenas
medidas urgentes e drásticas, na próxima década, poderiam evitar o pior da
mudança climática, limitando o aumento da temperatura global a 1,5 grau.
Este novo relatório acrescenta outro pacote de medidas cruciais.
Os especialistas calculam que a
produção de comida lança 11 gigatoneladas de gases na atmosfera. São 11
milhões de toneladas de gases do efeito estufa com base em práticas agrícolas,
mudança no uso do solo, armazenamento, transporte, processamento, empacotamento
e consumo dos produtos. A ministra em exercício da Transição Ecológica, Teresa
Ribera, após conhecer o relatório, destacou que o estudo demonstra “como é
fundamental o solo. Um bem precioso e escasso que deixou de ser um
sumidouro de gases para ser um emissor” pelo uso intensivo que a humanidade impôs.
O
que vai para o prato
Os cientistas pedem para se adotar
o que chamam dietas mais saudáveis. Quais alimentos citam? Falam de cereais,
legumes, verduras, frutos secos e sementes. Também carne, mas com métodos
de produção que permitam um uso “menos intensivo” de energia. Um dos
coordenadores do relatório, Jim Skea, advertiu que eles não recomendam
uma dieta às pessoas. “Destacamos que, segundo a evidência científica, há
dietas que têm uma menor pegada de carbono”. Ou seja, um impacto climático
menor.
O IPCC considera que estas mudanças
têm um potencial para evitar que entre 1,8 e 3,5 gigatoneladas de CO2
acabem na atmosfera. E acrescentam outro aspecto: frear o desperdício de
comida. Ao se desperdiçar menos alimentos, reduz-se a necessidade de
consumir mais, sendo assim, há uma diminuição na expansão de terras
dedicadas à produção. Os cientistas calcularam que um
terço dos alimentos que são produzidos acabam sendo desperdiçados. Uma
boa proporção do efeito estufa é gerada para nada.
Fatura
climática da comida
A maioria da superfície terrestre
do planeta é dedicada para a produção de alimentos e roupas. Até 72% do solo
livre de gelo é destinado para manter a população. O relatório explica no
que implica esta pressão: o aumento na produção de comida acelerou o uso
intensivo das terras. Também obrigou a aumentar a aplicação de
fertilizantes a base de nitrogênio e o consumo de água para a irrigação.
Tudo isto multiplicou as emissões. A mudança
no uso dos solos para sustentar este crescimento global contribuiu para a quantidade
de CO2 lançado “sobretudo pelo desmatamento”, explicam. Ou seja,
o desaparecimento de árvores para dar lugar a campos de cultivo ou pastos
para o rebanho. Também subiu a quantidade de óxido nitroso emitido
(N2O) pela agricultura e a de metano (CH4) pelo
gado. Até metade deste gás, de grande potencial
estufa, sai dos rebanhos de gado.
As medidas que colocam sobre a mesa
abarcam desde a redução nas emissões de N2O dos fertilizantes,
a do metano dos arrozais, a melhora genética para que os cultivos
suportem melhor as secas e que o gado tenha uma melhor alimentação, além
da gestão de seus dejetos. Atribuem a isso um potencial de poupança de
1,4 a 4 gigatoneladas de gases ao ano.
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A mudança climática degrada os campos
A influência entre a obtenção de
comida e a mudança climática é de ida e volta. Na medida em que a
temperatura cresce, aumentam os danos: maior desertificação, mais degradação do
solo... Isto se traduz em piores rendimentos das colheitas. Como
consequência, um previsível encarecimento do produto. As previsões apontam
que os preços dos cereais podem subir 29%, até 2050.
Além disso, também afetará a
própria qualidade da comida, já que a maior concentração de dióxido de
carbono influenciará na composição dos nutrientes como, por exemplo, as proteínas.
Freio
à fórmula da bioenergia
O biodiesel em escala mundial toma
o lugar da comida, adverte o relatório. Uma das soluções geralmente adotadas
pelos estados para cumprir o seu compromisso de emissões foi a aposta nos
biocombustíveis. A bioenergia que se obtém com base em cultivos como a
palma ou a colza. Os especialistas advertem sobre os riscos e afirmam que há
limites para o cultivo destas variedades. Por quê? A proliferação destas
plantações pode significar efeitos “irreversíveis” na desertificação
da terra.
O que o IPCC descreve é que a
ideia de cortar emissões de CO2 baseada na substituição de
combustível fóssil por biodiesel, por exemplo, tende a criar uma
concorrência pelo solo entre os cultivos para energia e os destinados a produzir
variedades que alimentem à população.
O documento inclui uma advertência:
“Muitas das respostas levam tempo para produzir seus efeitos”. Pedem
paciência. Sem ir muito longe, destacam que medidas como mudar a maneira de
produzir ou variar a dieta precisam de um período de adaptação. Inclusive, o
reflorestamento da coberta vegetal não se consegue rapidamente. As plantas
precisam crescer.
Traduzido
do espanhol pelo Cepat. Acesse a versão original deste artigo, clicando
aqui.
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