«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um festival de mentiras [Os bastidores da Política Internacional!]


THOMAS L. FRIEDMAN*
THE NEW YORK TIMES

Os EUA não dizem a verdade a muitos países com os quais estão envolvidos por serem dependentes, terem medo ou simplesmente para não prejudicar seus interesses

Victor Davis Hanson - historiador
O historiador Victor Davis Hanson escreveu recentemente um artigo extremamente lúcido para a The National Review, sobre as diferentes estratégias usadas pelos Estados Unidos no Iraque, Irã, Líbia, Síria, Egito, Paquistão e Afeganistão, e o fato de que, infelizmente, não se pode dizer que alguma delas tenha funcionado ainda.


"Analisemos as várias opções da política americana no Oriente Médio nas próximas décadas", escreveu Hanson. "Vimos que a assistência militar ou a intervenção punitiva sem um acompanhamento fracassou na maior parte. O veredicto no que se refere a outras operações muito mais caras cuja finalidade era construir nações, ainda não foi dado. Tentar ajudar rebeldes populares a derrubar ditadores impopulares não garantiu alguma coisa melhor. Apoiar ditadores com a ajuda militar é algo odioso e contraproducente. Não nos envolver com regimes delirantes favoreceu a aquisição da bomba ou o genocídio - ou cerca de 65 mil m² de escombros em Manhattan. O que foi que aprendemos? O tribalismo, o petróleo e o fundamentalismo islâmico são uma mistura perigosa que deixa os americanos doentes e cansados do Oriente Médio - tanto quando entram quanto quando tentam se afastar de lá."


Por isso chegou o momento de refletir sobre tudo o que estamos fazendo lá fora. O que o Oriente Médio precisa principalmente é que os Estados Unidos lhe proporcionem, hoje, é de escolas modernas e verdades duras, e nós não encontramos uma maneira de oferecer nem isso. Porque Hanson está certo: o que mais aflige hoje o Oriente Médio na verdade é uma mistura venenosa de tribalismo, sectarismo xiita-sunita, fundamentalismo e o petróleo - o petróleo que constantemente nos tenta a intervir ou a financiar ditadores.


Decência 
Este coquetel corrói todos os requisitos de uma sociedade que olha para o futuro - ou seja, as instituições que permitem ter um governo decente, uma política de consenso que favoreça a rotatividade do poder, os direitos da mulher e uma ética de pluralismo que proteja as minorias e permita uma educação moderna. O Relatório sobre o Desenvolvimento Humano Árabe da ONU, publicado em 2002 por corajosos cientistas sociais árabes, também afirmava algo semelhante: o que aflige o mundo árabe é a falta de liberdade, a falta de uma educação moderna, a falta da delegação dos poderes às mulheres.


Portanto, a política dos EUA deveria tratar de superar estes déficits e, no entanto, parecemos incapazes de sustentá-la. Vejamos o caso do Egito: mais da metade das mulheres e um quarto dos homens não sabem ler. Os jovens egípcios que deflagraram a revolução estão desesperados para dispor dos instrumentos proporcionados pela educação e da liberdade de vencer no mundo moderno. Nós deveríamos tê-los atendido transformando o dinheiro da nossa ajuda para a compra de equipamento militar na criação de escolas de ensino médio e superior de ciência e tecnologia em todo o Egito.


Em vez disso, um ano mais tarde, encontramo-nos na insana situação de pagar US$ 5 milhões de fiança a uma junta egípcia para que trabalhadores americanos pela democracia sejam soltos das prisões daquele país, enquanto provavelmente precisamos verificar se esta junta é liberal e merece outro US$ 1,3 bilhão para a compra de armas. Vamos ter de dar mais US$ 1,3 bilhão em armas a um país cujos únicos inimigos são o analfabetismo e a pobreza.


No Afeganistão, não posso deixar de gargalhar sempre que ouço os funcionários do governo Barack Obama explicando que só precisamos treinar mais os soldados afegãos para combater e então poderemos sair. Existirá algo mais engraçado do que isso? Os homens afegãos precisam ser treinados para combater? Eles derrotaram os britânicos e os soviéticos! O problema é que fingimos não ver quando o presidente Hamid Karzai fraudou as eleições e se instalou num governo corrupto. Então o presidente Obama declarou que nossa estratégia seria mandar novas tropas americanas para acabar com o Taleban a fim de que um "bom" governo afegão pudesse ser empossado e assumisse o lugar dos EUA. Esse governo não existe.


Nosso problema não é o fato de os afegãos não saberem como se combate. É que não basta ter a vontade de combater pelo governo que eles têm. Quantos lutariam por Karzai se nós não os pagássemos? E por aí vai. No Paquistão, pagamos o Exército paquistanês para ter duas caras, caso contrário teria apenas uma e estaria totalmente contra nós. No Bahrein, demos as costas enquanto a linha dura sunita que estava no governo esmagava um movimento liderado pelos xiitas por uma maior participação no poder, e nós ficamos olhando em silêncio nosso aliado Israel construir mais assentamentos na Cisjordânia que, estamos cansados de saber, são um desastre para sua democracia judaica.


Refinaria de petróleo na Arábia Saudita
Verdades
Entretanto, não dizemos a verdade ao Paquistão porque ele tem a bomba. Não dizemos a verdade aos sauditas porque dependemos do seu petróleo. Não dizemos a verdade ao Bahrein porque precisamos da sua base naval. Não dizemos a verdade ao Egito porque temos medo de que ele abandone o acordo de Camp David. Não dizemos a verdade a Israel porque ele representa eleitores. E não dizemos a verdade a Karzai porque Obama teme que John McCain o chame de pusilânime.


Desculpem, mas nada de bom poderá ser construído num solo tão rico de mentiras do nosso lado, e tão rico de sectarismo, tribalismo e fundamentalismo alimentado pelo petróleo do lado deles. Não me entendam mal. Acredito que a mudança é possível e estou disposto a investir nela. Mas eles terão de começar se mostrando dispostos a querer.


Apoiarei quem quer que seja naquela região desde que compartilhe de fato dos valores dos EUA - e do programa do Relatório sobre o Desenvolvimento Humano Árabe - e esteja pronto a lutar por eles. Mas estou cansado de apoiar pessoas somente porque elas parecem menos horríveis do que outras, e que no final acabarão se revelando igualmente horríveis.


Se as pessoas não compartilham dos valores dos EUA, devemos nos isolar reduzindo nossa dependência do petróleo. Mas precisamos parar de querer bons governos mais do que eles querem, de virar o rosto diante de um péssimo comportamento, de dizer para nós mesmos que no ano que vem tudo será diferente, de continuar com uma guerra horrorosa com medo de sermos chamados de pusilânimes e de vender mais tanques a pessoas que não sabem ler.


TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.


* THOMAS L., FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES, É COLUNISTA, ESCRITOR, GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER.


Fonte: O Estado de S. Paulo - Internacional - Domingo, 1 de abril de 2012 - Pg. A23 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-festival-de-mentiras-,856080,0.htm

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