5º Domingo da Quaresma - Ano C - Homilia

Evangelho: João 8,1-11


Naquele tempo, 
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras. 
2 De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 
3 Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, 
4 disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 
5 Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”
6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 
7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 
8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 
9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. 
10 Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles?” Ninguém te condenou?”
11 Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA
CRISTO E A MULHER ADÚLTERA
Pintura a óleo de Nicolas Poussin (1653)
Museu do Louvre - Paris
TODOS PRECISAMOS DE PERDÃO

Segundo seu costume, Jesus passou a noite, sozinho com deu Pai querido no Monte das Oliveiras. Começa o novo dia, pleno do Espírito de Deus que o envia a "proclamar a libertação aos cativos... e dar liberdade aos oprimidos". Logo, se verá rodeado por uma multidão que veio à explanada do Templo para escutá-lo. De repente, um grupo de escribas e fariseus chega trazendo "uma mulher surpreendida em adultério". Eles não se preocupam com o destino terrível da mulher. Ninguém a interroga sobre nada. Está já condenada. Os acusadores o deixam muito claro: "A Lei de Moisés nos manda apedrejar as adúlteras. Tu, o que dizes?".

A situação é dramática: os fariseus estão tensos, a mulher angustiada, as pessoas em expectativa. Jesus guarda um silêncio surpreendente. Tem diante de si aquela mulher humilhada, condenada por todos. Pronto para ser executada. Seria esta a última palavra de Deus sobre esta sua filha?

Jesus, que está sentado, inclina-se para o solo e começa a escrever alguns traços na terra. Seguramente, busca luz. Os acusadores lhe pedem uma resposta em nome da Lei. Ele lhes responderá a partir de sua experiência da misericórdia de Deus: aquela mulher e seus acusadores, todos eles, estão necessitados do perdão de Deus.

Os acusadores somente estão pensando no pecado da mulher e na condenação da Lei. Jesus mudará a perspectiva. Colocará os acusadores diante de seu próprio pecado. Perante Deus, todos devem reconhecer-se pecadores. Todos necessitam de seu perdão.

Como continuam insistindo, cada vez mais, Jesus se levanta e lhes diz: "Aquele que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra". Quem sois vós para condenar à morte esta mulher, esquecendo os vossos próprios pecados e a vossa necessidade do perdão e da misericórdia de Deus?

Os acusadores "se retiram um após outro". Jesus aponta para uma convivência onde a pena de morte não pode ser a última palavra sobre um ser humano. Mais adiante, Jesus dirá solenemente: "Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo".

O diálogo de Jesus com a mulher projeta nova luz sobre sua atuação. Os acusadores se foram, porém a mulher não se moveu. Parece que necessita escutar uma última palavra de Jesus. Não se sente, ainda, liberada. Jesus lhe diz: "Tampouco eu te condeno. Vá e, de agora em diante, não peques mais".

Oferece-lhe o seu perdão e, ao mesmo tempo, convida-lhe a não pecar mais. O perdão de Deus não anula a responsabilidade, mas exige conversão. Jesus sabe que "Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva".


CRER NO PERDÃO

Muitos pensam que a culpa é algo introduzido no mundo pela religião: se Deus não existisse, não haveria mandamentos, cada um poderia fazer o que quisesse e, portanto, desapareceria o sentimento de culpa. Supõem que é Deus aquele que proibiu certas coisas, aquele que coloca freio a nossos desejos e aquele que, definitivamente, provoca em nós a sensação de culpabilidade.

Nada mais distante da realidade! A culpa é uma experiência misteriosa da qual nenhuma pessoa sadia se vê livre. Todos fazemos, num determinado momento, o que não deveríamos ter feito. Todos sabemos que nossas decisões não são sempre transparentes e que atuamos, mais de uma vez, por motivos obscuros e razões inconfessadas

É a experiência de toda pessoa: não sou o que deveria ser, não vivo à altura de mim mesmo.  Poderia-se, muitas vezes, evitar o mal; sei que posso ser melhor, porém sinto dentro de mim "algo" que me leva a agir mal. Dizia, há muitos anos, Paulo de Tarso: "Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero" (Rm 7,19). Que podemos fazer? Como viver tudo isto diante de Deus?

O Creio nos convida a "crer no perdão dos pecados". Não é tão fácil. Afirmamos que Deus é perdão insondável, porém projetamos, constantemente, sobre ele os nossos medos, fantasmas e ressentimentos obscurecendo seu amor infinito e convertendo Deus num ser justiceiro, cuja primeira atitude é defender-nos.

Temos de libertar Deus dos mal-entendidos com os quais deformamos o seu verdadeiro rosto. Em Deus não há nem sombra de egoísmo, ressentimento ou vingança. Deus está sempre debruçado sobre nós, apoiando-nos nesse esforço moral que devemos fazer para construir-nos como pessoas. E, agora, que pecamos, continua aqui como "mão estendida" que deseja tirar-nos do fracasso.

Deus é, somente, perdão e apoio, ainda que, sob o peso da culpabilidade, nós o convertamos, às vezes, em juiz condenador, mais preocupado com sua honra que com o nosso bem. A cena do Evangelho é esclarecedora. Todos querem "atirar pedras" sobre a adúltera, todos menos Jesus. Todos querem converter Jesus em "juiz condenador", porém ele, repleto de Deus, reage de maneira surpreendente: "Não te condeno. Vai e doravante não peques mais".

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 12 de março de 2013 - 16h45 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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