«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Domingo de Ramos da Paixão do Senhor – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 14,1-9 (Extrato de: Mc 14,1-15,47)

 Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Jesus propõe uma mulher como modelo de seguidor

Para o Domingo de Ramos, a liturgia apresenta-nos a Paixão de Cristo segundo o evangelista Marcos. Esta é a oportunidade de conhecer o único episódio que Jesus pediu para ser divulgado ao mundo inteiro. No entanto, este episódio nunca é lido na liturgia dominical, isto é muito estranho; trata-se da unção de Betânia. Leiamos então o Evangelho de Marcos, capítulo 14, o início. 

Marcos 14,1-3a: «Faltavam dois dias para a Páscoa e para a festa dos Ázimos. Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei procuravam um meio de prender Jesus à traição, para matá-lo. Eles diziam: “Não durante a festa, para que não haja um tumulto no meio do povo”. Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Quando estava à mesa, veio uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume de nardo puro, muito caro.»

Há o anúncio de que as autoridades decidiram assassinar Jesus pela Páscoa. Enquanto o povo celebra a antiga libertação, as autoridades decidem eliminar o novo libertador. Pois bem, o evangelista apresenta-nos agora a reação da comunidade ao anúncio da morte de Jesus e Marcos escreve que “Jesus estava em Betânia”. Bet-ânia significa “a casa dos pobres”, ele estava “na casa de Simão, o leproso”. O pobre, o leproso nos faz entender que se trata de uma comunidade de marginalizados e “enquanto ele estava à mesa”, esta citação é importante porque é tirada do primeiro capítulo do Cântico dos Cânticos onde o rei está à mesa e a esposa do rei espalha seu perfume que, como neste caso, é de nardo (cf. Ct 1,12). Na verdade, Marcos escreve: “Veio uma mulher”, a mulher é anônima, a mulher representa a parte da comunidade que dá adesão a Jesus, a um Jesus crucificado. E o evangelista prossegue: “com um vaso de alabastro cheio de óleo perfumado de nardo genuíno”. Além disso, o nardo, este perfume precioso, é genuíno e o evangelista usa o termo grego que indica fé, expressa a fé da mulher, a mulher que dá adesão total a Jesus

Marcos 14,3b: «Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus.»

A mulher quebra o vaso, significa que o dom é completo, ela não retém nada. E, aqui, está a surpresa porque: “Ela derramou o perfume na cabeça dele”. Nos Evangelhos lemos outras duas unções de Jesus, mas ambas nos pés:

* no Evangelho de Lucas (7,37-38) foi a da pecadora em agradecimento a Jesus pelo perdão dos seus pecados,

* no Evangelho de João (12,1-3), é Maria, a irmã de Lázaro, em agradecimento pela ressurreição do irmão, mas tanto a pecadora como Maria ungem os pés.

Aqui, porém, o gesto da mulher é surpreendente e também desconcertante, ela unta a cabeça. Por que na cabeça? A unção da cabeça era uma ação reservada aos sacerdotes e profetas com a qual o rei era consagrado, o Messias era consagrado. Então o evangelista está nos dizendo que o papel desta mulher da comunidade de Jesus é aquele de desempenhar uma função sacerdotal e profética: ela reconhece em Jesus o rei Messias, o rei crucificado e dá-lhe tudo de si, todo o seu amor. 

Marcos 14,4-5: «Alguns que estavam ali ficaram indignados e comentavam: “Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser vendido por mais de trezentas moedas de prata, que seriam dadas aos pobres”. E criticavam fortemente a mulher.»

E aqui está a reação da comunidade: “Alguns que estavam ali”, sabemos que são os discípulos, mas o evangelista evita defini-los como discípulos, não seguem Jesus, acompanham-no, não dão adesão, estão indignados com ele e falam sobre desperdício. Para eles dar a vida é um desperdício, não entendem o valor e usam a desculpa do valor desse perfume. Eles dizem ‘trezentos denários’, achamos que a diária de um trabalhador era de um denário, portanto, essa soma corresponderia a quase um ano de salário. Dizem: “seriam dados aos pobres”. Mas não é só pela razão, pelo pretexto que encontram nos pobres: eles entendem que esta mulher realizou uma ação que é excluída das mulheres, está reservada não só aos homens, mas aos sacerdotes e aos profetas, aquela de ungir a cabeça de Jesus, a ação sacerdotal profética. 

Marcos 14,6-7: «Mas Jesus lhes disse: “Deixai-a em paz! Por que aborrecê-la? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pobres sempre tereis convosco, e quando quiserdes podeis fazer-lhes o bem. Quanto a mim, não me tereis para sempre.»

Pois bem, Jesus toma a defesa da mulher, diz que ela fez uma boa obra, o termo é tirado do livro de Gênesis na criação onde Deus cria e as suas são boas obras, a mulher completa a ação criadora em Jesus e diz que os discípulos não compreenderam nada sobre os pobres. Os pobres não são elementos externos à comunidade que devam ser beneficiados, em suma, fazem parte da comunidade. A esmola pressupõe um benfeitor e um beneficiário e é sempre humilhante, mas Jesus convidou à partilha e a partilha gera irmãos e elimina distâncias. A comunidade cristã primitiva compreendeu tanto isto que falou do pobre como vigário de Cristo: a presença dos pobres representa a figura de Cristo na comunidade. 

Marcos 14,8-9: «Ela fez o que podia: derramou perfume em meu corpo, preparando-o para a sepultura. Em verdade vos digo: em qualquer parte que o Evangelho for pregado, em todo o mundo, será contado o que ela fez, como lembrança do seu gesto”.»

Jesus continua falando que esta mulher fez o que pôde, ungindo previamente o corpo para o seu sepultamento. Qual é o significado? O efeito da morte, sabemos, é o mau cheiro, o perfume é o efeito da vida. O evangelista deixa claro que aquela de Jesus será a vitória da vida, a vitória do perfume sobre a vida. E, seguem as palavras de Jesus, que infelizmente parecem um tanto inéditas, as quais constituem o único episódio de sua existência para o qual Jesus diz: “Em verdade vos digo: em qualquer parte que o Evangelho for pregado, em todo o mundo, será contado o que ela fez”. Isto porque Jesus propõe uma mulher como modelo de seguidor, mas esta passagem do Evangelho, como dissemos no início, nunca é lida na liturgia. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a vida por nós. Ora, também nós devemos dar a vida pelos irmãos.»

(1João 3,16)

Uma mulher desafia todo o establishment (a elite social, econômica e política) da sociedade israelita da época de Jesus! Sim, mas como? Fazendo algo que era reservadíssimo aos profetas e, sobretudo, sacerdotes: ungir uma pessoa, especialmente o rei, o messias. Então ela faz o que nenhum seguidor de Jesus havia pensado e fazer ou feito: reconhecer oficialmente Jesus como o Messias (a unção significa isso), o enviado de Deus para salvar o seu povo. E, como muito bem destacou frei Maggi, a liturgia católica não obedece ao pedido de Jesus que disse: “em qualquer parte que o Evangelho for pregado, em todo o mundo, será contado o que ela fez, como lembrança do seu gesto” (Mc 14,9). O machismo e a misoginia predominavam na antiguidade e seguem dominando, ainda, nos tempos atuais, sem dúvida! 

Neste domingo denominado de “ramos”, não podemos nos esquecer que os ramos não significam proteção, como um amuleto mágico. Há pessoas que o levam para casa, após serem benzidos, a fim de se protegerem de pragas e má sorte. No entanto, os ramos agitados pelo povo, à entrada de Jerusalém, significavam que se reconhecia em Jesus o enviado de Deus para salvar o povo, aquele que viria trazer o reino de Davi (cf. Mc 11,9-10). Portanto, os ramos significam perigo. Jesus é um perigo para o establishment da sociedade judaica, por isso, ele será morto! No entanto, aqui, há uma incompreensão por parte do povo. Pois Jesus não entrou em Jerusalém como um filho de Davi, mas como um humilde servo de Deus, como havia descrito o profeta Zacarias (cf. Zc 9,9-10). 

Por isso, os pequeninos, os mais humildes, pobres e sem importância na sociedade ― como é o caso de Simão, o leproso, que acolhe Jesus em sua casa ― são os que aderem mais facilmente a Jesus e ao seu reino. Como bem constatou José Antonio Pagola:

«Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo puderam suportar a novidade de Jesus. Sua maneira de entender e viver Deus era perigosa. Não defendia o Império de Tibério, convidava todos a buscar o Reino de Deus e sua justiça. Não se importava em romper a lei do sábado nem as tradições religiosas, somente, preocupava-se em aliviar o sofrimento das pessoas enfermas e desnutridas da Galileia».

Portanto, celebrar a Paixão de Cristo é aceitarmos que não podemos prestar culto a Deus sem levar em consideração os pobres e desvalidos deste mundo. Não podemos separar o Cristo Crucificado das milhões ou bilhões de pessoas que sofrem nesta terra devido à miséria, fome, guerras e a violência. Na cruz, todos os sofredores deste mundo podem sentir o mesmo grito de dor: deles e do Messias! 

Porém, assim como Jesus, obediente ao seu Pai até o fim, conseguiu vencer a morte, todos os que crerem nele e buscarem contribuir para que o Reino de Deus comece, nesta Terra, também alcançará a vitória! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus, oramos a ti pelo homem que luta contra a morte e que o mal ameaça nas encruzilhadas do nosso mundo desumano e que o pecado oprime, como o senhor ao escravo. Senhor Jesus, nós somos o homem que não fizeste para morrer; tu, vencedor da morte, liberta-nos de sua tirania e permita-nos encontrar a verdadeira vida em ti. Que eu siga o caminho indicado pelo “véu” rasgado do templo. Entre no “santo dos santos” dos sofrimentos de Jesus Cristo. Ali encontrarei o amor santo e bendito do Pai, do Filho e do Espírito Santo: o amor do Pai que preparou a crucificação, o amor do Filho que se deixou crucificar, o amor do Espírito Santo que triunfa com o poder da cruz. Assim tu, ó Deus, amaste o mundo. Amém.»

(Fonte: FILARETE. Orazione finale. In: In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 175)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – Domenica delle Palme – Anno B – 28 marzo 2021– Internet: clique aqui (Acesso em: 19/03/2023).

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