5º Domingo da Quaresma – Ano B – Homilia
Evangelho: João 12,20-33
Frei
Alberto Maggi
Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)
É na morte de Jesus na cruz que se verá o
amor universal de Deus
Perto da conclusão da passagem evangélica de hoje, que é o capítulo 12 do Evangelho de João, no versículo 28 Jesus pede: “Pai, glorifica o teu nome” e o evangelista nos escreve: “Então uma voz veio do céu: ‘Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!’”. Bem, a reação das pessoas é estranha. O evangelista comenta: “A multidão, que estava presente e tinha ouvido, disse que tinha sido um trovão. Outros diziam: ‘um anjo falou com ele’”. Como isso é possível? Deus fala e, ainda assim, alguns pensam que seja um trovão e outros um anjo? Estes são os efeitos nocivos da religião, que, por um lado, apresenta um Deus distante dos homens, que não se dirige diretamente a eles, que precisa de mediadores, por isso dizem “um anjo”, e, por outro lado, um Deus que assusta, o trovão é o que é assustador. Pois bem, Jesus na sua atividade, no seu ensinamento apresentou um Deus que não está longe, mas que está próximo, que é íntimo do homem, um Deus que não causa medo, mas o afasta.
Pois bem, a reação das autoridades religiosas diante desta nova proposta da imagem de Deus não é de alegria, mas de alarme. Houve uma dramática reunião do Sinédrio, onde o sumo sacerdote disse: “Se o deixarmos fazer isso, todos acreditarão nele” (Jo 11,48). Há alarme entre as autoridades religiosas e, pouco antes do início da passagem de hoje, estão os fariseus, agora desconsolados, que dizem uns aos outros: “Estais vendo que nada conseguis? Olhai, o mundo se foi atrás dele” (Jo 12,19). Por que isso? Em cada pessoa existe um desejo de plenitude de vida e as pessoas sentem em Jesus, no rosto do Pai que ele apresenta, a resposta ao seu desejo de plenitude de vida. Por isso, todos acorrem a Jesus.
João
12,20-21: «Naquele
tempo, havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar
durante a festa. Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e
disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”.»
E entre aqueles que vão atrás de Jesus, escreve o evangelista, há alguns que subiram para o culto, mas, em vez de irem ao templo, sentem-se atraídos por Jesus, porque nele se manifesta e se torna visível a plenitude do amor do Pai. O evangelista nota que havia também alguns gregos; por “gregos” se quer dizer estrangeiros. Estes não se atrevem a aproximar-se de Jesus porque conhecem a desconfiança dos judeus para com os pagãos, e por isso procuram alguém mais aberto entre os discípulos e encontram-no em Filipe, porque Filipe tem nome grego e por isso se presume que tenha uma mentalidade mais aberta. E lhe perguntam: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”.
João
12,22-23: «Filipe
combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. Jesus respondeu-lhes: “Chegou
a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado.»
Mas Filipe, que tinha sido tão ousado em levar
Natanael a Jesus, desta vez hesita, vai perguntar a quem? A André, o
outro dos discípulos que tem nome grego. Isto faz-nos compreender a grande
dificuldade de abertura, por parte da comunidade de Jesus, ao mundo dos pagãos,
ao mundo dos estrangeiros, a resistência que havia. A resposta de Jesus parece
não ter nada a ver com este pedido de ser visto, porque diz: “Chegou a hora
de o Filho do Homem ser glorificado”. Jesus está falando sobre sua morte
na cruz.
Na realidade a sua resposta significa porque é na morte de Jesus na cruz que se verá o amor universal de Deus: um amor que não está reservado a um povo, a um grupo, mas a todos aqueles que o acolhem. É por isso que na cruz de Jesus o sinal com os motivos de sua morte foi colocado nas três línguas principais: a língua local, o hebraico, a língua dos governantes, o latim, e o que era conhecido na época como universal, a língua grega. O amor de Deus é universal.
João
12,24-33: «Em
verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele
continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se
apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á
para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará
também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Agora sinto-me
angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi precisamente para
esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Então, veio uma voz do céu: “Eu
o glorifiquei e o glorificarei de novo!” A multidão que aí estava e ouviu, dizia
que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. Jesus
respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por
causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai
ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Jesus
falava assim para indicar de que morte iria morrer.»
Jesus fala da morte não como uma derrota, mas como uma explosão de vida para o indivíduo e dá um exemplo que todos podem compreender: o grão de trigo. Ninguém, olhando para o pequeno grão de trigo, pode imaginar a energia, a beleza que ele contém; para que isso se manifeste são necessárias condições adequadas. Jesus diz: “Cai no chão, morre e dá muito fruto”. No grão de trigo existe uma energia, uma força que só espera as condições adequadas para se libertar e se manifestar em toda a sua plenitude. Assim é em Jesus e assim é em cada um de nós, a morte não destrói. Em cada um de nós, criados à imagem e semelhança de Deus, existe uma energia, uma capacidade, uma força de amor que não pode ser manifestada no curto e limitado período da nossa existência, por mais longa que seja. Pois bem, quando chega o momento da morte, toda esta energia que está dentro de nós é libertada, manifesta-se e transforma-nos: éramos um grão de trigo, transformamo-nos numa esplêndida espiga de trigo.
* Traduzido e editado do italiano por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
«Aprende
a viver como deves, e saberás morrer bem.»
(Confúcio: nascido entre 552 e 489 a.C. ― pensador e
filósofo chinês)
De fato, Jesus é desconcertante e jamais cabe dentro de nossos pobres e limitados esquemas mentais! Para aqueles que desejam encontrá-lo, segui-lo, caminhar atrás dele, ele oferece um sentido único e verdadeiro para o viver de todos nós: o AMOR! Jesus ajuda-nos a descobrir a imensa e poderosa energia de vida que há dentro de todos nós! Ele canaliza essa nossa energia para o serviço amoroso, desinteressado e total aos irmãos e irmãs, especialmente, para com os mais fracos, pobres, humildes e abandonados de nossa sociedade.
Porém, essa vida de dedicação aos outros (cf. Mt 25,31-46), essa defesa e busca pela VIDA plena (cf. Jo 10,10) cobrará um preço de todos nós! Por mais contraditório que isso possa parecer, à medida que produzimos frutos de vida, de amor, de bondade e de justiça, também estaremos consumindo com a nossa própria vida! Somos como uma vela que, para produzir luz, deve consumir-se e desaparecer em meio à luz que gera!
Há, no entanto, um
sentido em tudo isso! É a chamada “lei do grão de trigo”. Como explica
Johan Konings:
“Deus sabe que o endurecimento do povo
infiel à Aliança só é vencido pela vítima desse endurecimento. É a vitória do
amor, e, quando o adversário quer abafá-la, a verdade do amor se afirma”.
Portanto, ainda segundo Konings: “A justiça se vê afirmada e vencedora na hora em que a violência a quer suprimir”. Portanto, na doação total do Filho de Deus se dá a vitória sobre o mal que nos oprime! O mesmo acontece quando, também nós, nos doamos completamente aos irmãos e irmãs, consumindo a vida que temos nesta terra, transformando-a em uma vida mais plena e digna deste nome. Esta é a vida na intimidade de Deus.
Porque o sentido último da vida é servir e amar! Enfim, é ser bom e fazer o bem!
«Senhor nosso Deus, desvia os discípulos
do teu Filho dos caminhos fáceis da popularidade, da glória barata, e leva-os
aos caminhos dos pobres e dos flagelados da terra, para que possam reconhecer
nos seus rostos o rosto do Mestre e Redentor. Dá olhos para ver os caminhos
possíveis para a justiça e a solidariedade; ouvidos para ouvir as questões de
sentido e salvação de muitos que estão tateando; enriquece os seus corações com
generosa lealdade, delicadeza e compreensão, para que se tornem companheiros de
viagem e testemunhas verdadeiras e sinceras da glória que brilha no crucificado
ressuscitado e vitorioso. Ele vive e reina em glória contigo, ó Pai, para todo
o sempre.»
(Fonte: SEDONDIN, Bruno, O.Carm. Orazione finale.
In: In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli
festivi per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 154)
Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 5ª Domenica di Quaresima – Anno B – 21 marzo 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 12/03/2023).
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