"Seja mais flexível", pede cardeal Maradiaga ao cardeal Müller
Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga |
John L. Allen Jr.
National Catholic Reporter
21-01-2014
21-01-2014
Aparentemente, uma fenda se abriu entre dois cardeais com níveis significativos de influência no Vaticano, já que o chefe do Conselho dos Bispos, organismo criado pelo Papa Francisco, sugeriu que o czar doutrinal da Santa Sé precisa ser mais “flexível” em suas opiniões a respeito dos católicos divorciados e recasados.
O cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga fez este comentário na última segunda-feira (20-01-2014) durante entrevista ao jornal alemão Kölner Stadt-Anzeiger.
Nomeado em abril como coordenador do grupo de oito cardeais vindos de todo o mundo que compõem o Conselho dos Cardeais, Dom Maradiaga foi questionado sobre um artigo recente no qual o recém-designado cardeal alemão Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, apareceu para desfazer com qualquer possibilidade de revisão das regras da Igreja que restringem católicos divorciados e recasados de participarem nos sacramentos.
“Acho que compreendo este caso”, disse Dom Maradiaga na entrevista.
Cardeal Gerhard Müller - Cong. da Doutrina da Fé |
Maradiaga disse ter certeza de que Müller irá “chegar ao entendimento de outras posições também”, mesmo se, no momento, “ele apenas ouve os membros de seu grupo de assessores”.
Quanto à questão dos fiéis divorciados e recasados, Maradiaga pareceu sinalizar dar apoio a um certo tipo de mudança.
“A Igreja tem a obrigação de [defender] os mandamentos de Deus”, disse, incluindo aquilo que Jesus disse sobre o casamento: “O que Deus uniu, o homem não separa”.
Dito isso, Maradiaga afirmou que “há diferentes abordagens. Por exemplo, após o fracasso de um casamento podemos nos perguntar se os cônjuges foram verdadeiramente unidos em Deus. Há muito espaço para reflexões posteriores aqui”. No entanto, o cardeal hondurenho pareceu também advertir contra expectativas de guinadas dramáticas nas diretrizes da Igreja.
“Não estamos indo na direção daquilo que hoje é preto amanhã será branco”, acrescentou.
No contexto da entrevista, o religioso informa que ainda não falou com Müller, que se tornará cardeal em um consistório marcado para o dia 22 de fevereiro próximo, sobre a questão dos católicos divorciados e recasados.
O vaticanista Marco Tosatti descreveu estas palavras como sendo uma “pequena surpresa” em seu blog ao falar da entrevista, dado o claro contraste entre as duas posições.
O próprio Papa Francisco sinalizou abertura a uma certa flexibilidade quanto ao acesso aos sacramentos para católicos divorciados e recasados, dizendo durante uma conferência de imprensa, a bordo de um avião retornando do Brasil em julho passado, que talvez o catolicismo pudesse aprender algo a partir da prática das igrejas ortodoxas orientais quanto a reconhecer um segundo casamento.
O papa anunciou também que o assunto irá estar na agenda do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Família, a ser realizado no Vaticano em outubro.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 - Internet: clique aqui.
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