DOMINGO: BATISMO DO SENHOR - ANO A - HOMILIA
Evangelho: Mateus, 3,13-17
Naquele tempo, 3,13 da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele.
14 João recusava-se: "Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!"
15 Mas Jesus lhe respondeu: "Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa". Então João cedeu.
16 Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus.
17 E do céu baixou uma voz: "Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição".
UMA NOVA ETAPA
Antes de narrar a sua atividade profética, os evangelistas nos falam de uma experiência que transformará, radicalmente, a vida de Jesus. Depois de ser batizado por João, Jesus se sente o Filho querido de Deus, habitado plenamente por seu Espírito. Alentado por esse Espírito, Jesus começa a anunciar a todos, com sua vida e sua mensagem, a Boa Notícia de um Deus amigo e salvador do ser humano.
Não é estranho que, ao nos convidar para viver nos próximos anos "uma nova etapa evangelizadora", o Papa nos recorde que a Igreja necessita, mais do que nunca, de "evangelizadores com Espírito". Sabe, muito bem, que somente o Espírito de Jesus nos pode infundir força para iniciar a conversão radical de que necessita a Igreja. Por quais caminhos?
Esta renovação da Igreja somente pode nascer da novidade do Evangelho. O Papa quer que as pessoas de hoje escutem a mesma mensagem que Jesus proclamava pelos caminhos da Galileia, não um outro diferente. Temos de "voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho". Somente desta maneira, "poderemos romper esquemas aborrecidos nos quais pretendemos fechar Jesus Cristo".
O Papa está pensando numa renovação radical, "que não pode deixar as coisas como estão; não serve mais uma simples administração". Por isso, nos pede para "abandonar o cômodo critério pastoral do sempre se fez assim" e insiste uma outra vez: "Convido a todos a serem audaciosos e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das próprias comunidades".
Francisco busca uma Igreja na qual somente nos preocupe comunicar a Boa Notícia de Jesus ao mundo atual. "Mais do que o temor de não cometermos erros, espero que nos mova o temor a nos fecharmos nas estruturas que nos dão uma falsa contenção, nas normas que nos tornam juízes implacáveis, nos costumes onde nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus nos repete sem cansar-se: Dai-lhes vós mesmos de comer".
O Papa quer que construamos "uma Igreja com as portas abertas", pois a alegria do Evangelho é para todos e não se deve excluir ninguém. Que alegria poder escutar de seus lábios uma visão de Igreja que recupera o Espírito mais genuíno de Jesus, rompendo atitudes muito arraigadas durante séculos!
Diz o Papa: "Muitas vezes nos comportamos como controladores da graça e não como facilitadores. Porém, a Igreja não é uma alfândega, é a casa do Pai onde há lugar para cada um com sua vida".
A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE DEUS
Jesus viveu junto do Batista uma experiência de Deus que o levou a ver a realidade de uma maneira nova e diferente. Nunca mais ele foi o mesmo. Distanciou-se do Batista, porém não voltou para sua casa. Deixou seu trabalho e sua família, começou a falar com uma força desconhecida.
Não repetia as tradições religiosas de seu povo. Não se apoiava na Lei de Moisés nem fazia eco da teologia do Templo. Sentia-se pleno do Espírito de Deus e anunciava a todos uma mensagem nova: Deus é um Pai que nos quer. Há só uma tarefa a ser realizada: aprender a viver como irmãos.
Não é mais possível ter acesso, historicamente, ao que Jesus viveu [durante seu batismo]. A tradição cristã procurou sugeri-lo, mais tarde, recriando uma cena encantadora: o céu que se abre, o Espírito de Deus que desce sobre Jesus como uma graciosa pomba, e uma voz: "Tu és meu filho querido". Daí em diante, Jesus começou a ver a realidade com uma profundidade diferente: tudo está sob o mistério do amor de Deus. Este é o segredo da vida.
Em geral, não é esta a nossa maneira de viver a realidade. Para nós, somente parece existir aquilo que vemos e tocamos: o mundo material. Inclusive, aqueles que se dizem crentes vivem, muitas vezes, assim. A religião é como um "apêndice" que não influi em nossa maneira de entender e viver a realidade.
Há algo que não podemos esquecer. Se não vivemos a experiência de Deus como a viveu Jesus, as pessoas não nos sentirão como testemunhas de um Deus vivo, mas como representantes de um passado morto. Não acrescentaremos nada especialmente novo ao mundo atual. Buscaremos favorecer a religião, mas não ajudaremos as pessoas crerem no amor de Deus. Cuidaremos das tradições, porém quem atrairemos para Jesus? Pregaremos sobre quase tudo, mas quem terá a sensação de sentir-se amado pela Igreja?
Muitas coisas terão de fazer os cristãos de hoje, porém poucas são tão importantes quanto comunicar a experiência de Deus, "o mistério mais profundo, santo e libertador da existência", e mostrar e mostrar credíveis e concretas as formas de confiar nele. O Evangelho de Jesus somente se pode difundir, vivendo sua experiência de Deus.
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 7 de janeiro de 2014 - 09h46 - Internet: clique aqui.
Naquele tempo, 3,13 da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele.
14 João recusava-se: "Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!"
15 Mas Jesus lhe respondeu: "Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa". Então João cedeu.
16 Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus.
17 E do céu baixou uma voz: "Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição".
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Pintura de Davezelenka, ano de 2005 |
Antes de narrar a sua atividade profética, os evangelistas nos falam de uma experiência que transformará, radicalmente, a vida de Jesus. Depois de ser batizado por João, Jesus se sente o Filho querido de Deus, habitado plenamente por seu Espírito. Alentado por esse Espírito, Jesus começa a anunciar a todos, com sua vida e sua mensagem, a Boa Notícia de um Deus amigo e salvador do ser humano.
Não é estranho que, ao nos convidar para viver nos próximos anos "uma nova etapa evangelizadora", o Papa nos recorde que a Igreja necessita, mais do que nunca, de "evangelizadores com Espírito". Sabe, muito bem, que somente o Espírito de Jesus nos pode infundir força para iniciar a conversão radical de que necessita a Igreja. Por quais caminhos?
Esta renovação da Igreja somente pode nascer da novidade do Evangelho. O Papa quer que as pessoas de hoje escutem a mesma mensagem que Jesus proclamava pelos caminhos da Galileia, não um outro diferente. Temos de "voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho". Somente desta maneira, "poderemos romper esquemas aborrecidos nos quais pretendemos fechar Jesus Cristo".
O Papa está pensando numa renovação radical, "que não pode deixar as coisas como estão; não serve mais uma simples administração". Por isso, nos pede para "abandonar o cômodo critério pastoral do sempre se fez assim" e insiste uma outra vez: "Convido a todos a serem audaciosos e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das próprias comunidades".
Francisco busca uma Igreja na qual somente nos preocupe comunicar a Boa Notícia de Jesus ao mundo atual. "Mais do que o temor de não cometermos erros, espero que nos mova o temor a nos fecharmos nas estruturas que nos dão uma falsa contenção, nas normas que nos tornam juízes implacáveis, nos costumes onde nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus nos repete sem cansar-se: Dai-lhes vós mesmos de comer".
O Papa quer que construamos "uma Igreja com as portas abertas", pois a alegria do Evangelho é para todos e não se deve excluir ninguém. Que alegria poder escutar de seus lábios uma visão de Igreja que recupera o Espírito mais genuíno de Jesus, rompendo atitudes muito arraigadas durante séculos!
Diz o Papa: "Muitas vezes nos comportamos como controladores da graça e não como facilitadores. Porém, a Igreja não é uma alfândega, é a casa do Pai onde há lugar para cada um com sua vida".
A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE DEUS
Jesus viveu junto do Batista uma experiência de Deus que o levou a ver a realidade de uma maneira nova e diferente. Nunca mais ele foi o mesmo. Distanciou-se do Batista, porém não voltou para sua casa. Deixou seu trabalho e sua família, começou a falar com uma força desconhecida.
Não repetia as tradições religiosas de seu povo. Não se apoiava na Lei de Moisés nem fazia eco da teologia do Templo. Sentia-se pleno do Espírito de Deus e anunciava a todos uma mensagem nova: Deus é um Pai que nos quer. Há só uma tarefa a ser realizada: aprender a viver como irmãos.
Não é mais possível ter acesso, historicamente, ao que Jesus viveu [durante seu batismo]. A tradição cristã procurou sugeri-lo, mais tarde, recriando uma cena encantadora: o céu que se abre, o Espírito de Deus que desce sobre Jesus como uma graciosa pomba, e uma voz: "Tu és meu filho querido". Daí em diante, Jesus começou a ver a realidade com uma profundidade diferente: tudo está sob o mistério do amor de Deus. Este é o segredo da vida.
Em geral, não é esta a nossa maneira de viver a realidade. Para nós, somente parece existir aquilo que vemos e tocamos: o mundo material. Inclusive, aqueles que se dizem crentes vivem, muitas vezes, assim. A religião é como um "apêndice" que não influi em nossa maneira de entender e viver a realidade.
Há algo que não podemos esquecer. Se não vivemos a experiência de Deus como a viveu Jesus, as pessoas não nos sentirão como testemunhas de um Deus vivo, mas como representantes de um passado morto. Não acrescentaremos nada especialmente novo ao mundo atual. Buscaremos favorecer a religião, mas não ajudaremos as pessoas crerem no amor de Deus. Cuidaremos das tradições, porém quem atrairemos para Jesus? Pregaremos sobre quase tudo, mas quem terá a sensação de sentir-se amado pela Igreja?
Muitas coisas terão de fazer os cristãos de hoje, porém poucas são tão importantes quanto comunicar a experiência de Deus, "o mistério mais profundo, santo e libertador da existência", e mostrar e mostrar credíveis e concretas as formas de confiar nele. O Evangelho de Jesus somente se pode difundir, vivendo sua experiência de Deus.
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 7 de janeiro de 2014 - 09h46 - Internet: clique aqui.
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