«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O caso de Dom Negri e as oposições ao Papa Francisco

Massimo Faggioli*
L'HuffingtonPost
26-11-2015

«O arcebispo de Ferrara, na Itália, é um daqueles bispos para os quais o catolicismo deve ser compreendido, anunciado e aplicado em termos ideológicos.»
DOM LUIGI NEGRI
Arcebispo de Ferrara, na Itália, ligado ao movimento
"Comunhão e Libertação"

Uma das tantas contribuições do "efeito Francisco" é a ruptura dos alinhamentos ideológicos dentro da Igreja e das suas divisões.

Segundo Faggioli, "o que foi dito e feito por Dom Negri em Ferrara em menos de três anos lança luz sobre as qualidades humanas e intelectuais de muitos dos bispos nomeados por João Paulo II e Bento XVI. Esse é o principal problema da Igreja Católica hoje".

Eis o artigo.

Em cada país, há bispos que representam uma clara oposição ao Papa Francisco. Na Itália, o caso de Dom Luigi Negri, arcebispo de Ferrara-Comacchio desde dezembro de 2012 (depois de sete anos de episcopado em San Marino), já era conhecido dos adeptos aos trabalhos e especialmente aos cidadãos e diocesanos de Ferrara (entre os quais se encontra este que escreve, embora residente nos Estados Unidos desde 2008).

Dom Negri fez-se conhecer por um estilo de relação invariavelmente agressivo e irritadiço com a cidade e com a diocese, e por decisões no mínimo bizarras sobre a mensagem a ser enviada à cidade sobre questões importantes como o casamento e a família (refiro-me ao convite como palestrante em um congresso diocesano dirigido a Mario Adinolfi).

O que foi dito e feito por Dom Negri em Ferrara em menos de três anos lança luz sobre as qualidades humanas e intelectuais de muitos dos bispos nomeados por João Paulo II e Bento XVI. Esse é o principal problema da Igreja Católica hoje.

O caso estourou com um relato publicado pelo jornal Il Fatto Quotidiano no dia 25 de novembro [veja esta matéria ao final deste artigo], segundo o qual Dom Negri teria feito, ao celular e no interior de um trem, diante de testemunhas, afirmações graves sobre a pessoa do papa e as decisões por ele tomadas (as recentes nomeações episcopais em Bolonha e Palermo).

Não se sabe, no momento, quanto daquilo que foi relatado pelo Il Fatto Quotidiano foi efetivamente dito pelo arcebispo de Ferrara. O fato, porém, é que a desmentida de Dom Negri não desmente, mas, ao contrário, parece quase confirmar, no momento em que pede um encontro com o Papa Francisco.

E outro fato é que o Comunhão e Libertação publicou nessa quinta-feira um comunicado em que claramente se distancia de Dom Negri, desde sempre próximo do movimento (o comunicado afirma que, desde 2005, Negri não tem mais nenhum cargo no Comunhão e Libertação; o fato é que, na diocese de Ferrara Dom Negri foi muito atento ao Comunhão e Libertação).

O caso de Dom Negri é importante por alguns motivos que vão além da diocese de Ferrara ou da Itália:

[1º] O primeiro motivo é que esse caso diz algo sobre os movimentos internos de oposição ao Papa Francisco. Desde o momento da eleição de Francisco, uma parte consistente do episcopado mundial e italiano teve que se submeter a um processo de recepção e interpretação do novo papa. Isso acontece a cada mudança de pontificado.

Mas a passagem do bastão entre Bento XVI e Francisco foi substancialmente diferente dos anteriores: não só porque Bento XVI deixava o papado por renúncia ao ofício e ia viver no Vaticano não muito longe de Francisco, mas também porque o episcopado mundial – e especialmente italiano – foi moldado por João Paulo II e por Bento XVI, e muitos bispos veem esse jesuíta latino-americano como um papa em boa parte estranho à cultura do catolicismo de Wojtyla e Ratzinger.

Ora, é evidente que uma oposição a Francisco existe e vai continuar existindo, mas o caso Negri é um dos casos em que é claro que essa oposição está se radicalizando e perdendo aquilo que, em teologia, se chama de sensus Ecclesiae – um sentimento de realidade e de responsabilidade em relação a toda a Igreja.

Viu-se isso no Sínodo dos bispos de outubro passado: as iniciativas não regulamentares dos bispos poloneses, a carta (depois desmentida por alguns) dos 13 cardeais ao papa, a falsa notícia da doença do papa não impediram que Francisco levasse ao seu destino o Sínodo e o documento final aprovado em todos os seus parágrafos pela maioria qualificada dos bispos.

A oposição a Francisco sai cada vez mais do jogo (para usar um termo do futebol). Jorge Mario Bergoglio é teologicamente centrista, e a oposição a Francisco mostra o seu rosto extremista e ideológico.

[2º] O segundo motivo tem a ver com a posição de Negri dentro da Igreja italiana, as relações com o Comunhão e Libertação e com o discurso do Papa Francisco em Florença no congresso da Igreja italiana no dia 10 de novembro passado.

Francisco pediu que os bispos sejam pastores e redefiniu o papel das elites eclesiais e, em particular, dos movimentos como o Comunhão e Libertação, que, na Igreja italiana de João Paulo II e de Bento XVI, desempenharam um papel particular.

Francisco é por uma Igreja do povo e não das elites – e as elites conhecidas como "movimentos eclesiais" estão indo ao encontro de uma fase de reelaboração da sua mensagem. As mensagens enviadas por Francisco aos vários movimentos (Comunhão e Libertação, neocatecumenais, escoteiros católicos etc.) nesses dois anos e meio de pontificado são muito claras quanto à necessidade de se repensar como contribuição para a unidade da Igreja e não como elemento de divisão.

O comunicado do Comunhão e Libertação dessa quinta-feira, por isso, não deve ser lido tanto como um cínico reconhecimento da queda em desgraça de um dos seus bispos e ponto de referência na Itália, mas como um sintoma de um debate interno ao Comunhão e Libertação, entre as suas várias almas teológicas e políticas.

Uma das tantas contribuições do "efeito Francisco" é a ruptura dos alinhamentos ideológicos dentro da Igreja e das suas divisões. O arcebispo de Ferrara é um daqueles bispos para os quais o catolicismo deve ser compreendido, anunciado e aplicado em termos ideológicos.

Não é por acaso que Dom Negri se tornou o emblema de desconforto entre as elites ideologizadas que ascenderam a postos de responsabilidade na Igreja Católica que, agora, Francisco tem que governar.

* Massimo Faggioli, historiador de origem italiana, professor de História do Cristianismo e diretor do Institute for Catholicism and Citizenship, na University of St. Thomas, nos Estados Unidos.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 30 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

"Francisco deveria ter o mesmo fim daquele outro papa",
afirma arcebispo italiano

Loris Mazzetti
Il Fatto Quotidiano
25-11-2015

Este é o desabafo de Dom Luigi Negri ao seu colaborador,
interceptado no dia 28 de outubro no trem que
partiu da estação Roma-Termini, depois da designação de dois
“padres de rua” para serem bispos de duas dioceses que estavam em mãos
do movimento Comunhão e Libertação 
DOM MATTEO ZUPPI
Novo arcebispo de Bologna (Itália) famoso pela simplicidade e despojamento pessoal,
bem como, pelo contato estreito com o povo

"Esperamos que, com Bergoglio, Nossa Senhora faça o milagre como fez com o outro." A referência ao Papa Luciani [João Paulo I, que morreu 33 dias após assumir o papado] é apenas velada. A frase é do arcebispo de Ferrara, Luigi Negri, alto prelado em profundo desacordo com Francisco e ponto de referência do movimento Comunhão e Libertação.

Negri, aluno do Pe. Giussani, também é conhecido por ter contestado o Poder Judiciário italiano quando acusou Berlusconi pelo caso Ruby. Àqueles que, na época, lhe apontaram que grande parte do mundo católico estava indignado com o caso das garotas de programa, ele respondeu: "A indignação não é uma atitude católica".

Contra a nomeação dos padres das ruas

O motivo da sua contestação: as recentes nomeações do Papa Francisco a Bolonha e Palermo, dioceses durante anos nas mãos do Comunhão e Libertação, dos bispos Matteo Zuppi e Corrado Lorefice, dois padres das ruas.

Dom Negri, no dia 28 de outubro, no trem Frecciarossa [Flecha vermelha] que partiu de Roma-Termini (testemunhas oculares relataram o incidente), deu rédeas soltas aos seus pensamentos em voz alta, como parece ser o seu costume, sem se importar com os poucos presentes no vagão de primeira classe, com o seu secretário, um jovem padrezinho com aparência de Cúria, com duplo celular, pronto para filtrar os telefonemas do arcebispo.

"Depois das nomeações de Bolonha e Palermo – deixou escapar – até eu posso me tornar papa. É um escândalo! Incrível! Estou sem palavras. Nunca vi nada parecido com isso."

O alto prelado, deixando perplexas as testemunhas, não se resignava, tinha que falar com alguém, pediu ao secretário para telefonar para um amigo de longa data, também ele do Comunhão e Libertação, Renato Farina, conhecido como o "agente Betulla", reforçando a dose.

Ainda não satisfeito, continuou com o jovem padre: "São nomeações ocorridas no mais absoluto desprezo por todas as regras, com um método que não respeita nada nem ninguém. A nomeação de Bolonha é incrível. Eu prometi a Caffara (o bispo cessante por limites de idade) que vou fazer com que aquele ali (Dom Zuppi) veja o que é bom para a tosse: em cada encontro, não vou deixar passar uma oportunidade. A outra nomeação, a de Palermo, é ainda mais grave. Este (Dom Lorefice) escreveu um livro sobre os pobres – o que ele sabe dos pobres! – e sobre Lercaro e Dossetti, seus modelos, dois que destruíram a Igreja italiana". 
DOM CORRADO LOREFICE
Novo arcebispo de Palermo, na Sicília (Itália) foi responsável pela pastoral

na diocese siciliana de Noto, especialmente dedicado aos pobres e vocacionados

A conferência e a barriga da Cúria

O jornal Fatto, nessa terça-feira, tentou contatar o arcebispo Negri para perguntar se ele queria esclarecer as suas palavras. "Sim, eu acho que ele estava naquele trem no dia 28 de outubro", explicou o seu porta-voz, Pe. Massimo Manservigi, ouvindo as frases de Negri que lhe repetimos. "Mas agora (eram as 21h30), o monsenhor está dando uma conferência na universidade e não é possível contatá-lo."

O jornal Fatto permanece à disposição para ouvir eventualmente as explicações do prelado. No entanto, é difícil acreditar que Dom Negri estivesse falando a título pessoal e não revelasse um estado de espírito compartilhado pela casta vaticana.

Bergoglio, se quiser levar a termo, como prometeu, os propósitos de João XXIII – "Igreja povo de Deus" –, acima de tudo, deve afastar os mercadores do templo.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 26 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

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