«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 28 de novembro de 2015

Papa Francisco aos jovens: "A corrupção não destrua o vosso coração"

Andrea Tornielli
Vatican Insider
27-11-2015

Palavras fortes do Papa no discurso espontâneo no estádio Karasani
de Nairóbi: há casos de corrupção em todas as instituições, 
«incluindo o Vaticano».
Sobre os jovens que são recrutados pelos fundamentalistas, afirma:
«É necessário educação e trabalho»
PAPA FRANCISCO
Chega ao estádio Karasani de Nairóbi (Quênia) para encontrar-se com os jovens

«Toda vez que aceitamos uma propina, e a colocamos no bolso, destruímos o nosso coração, a nossa personalidade e a nossa Pátria. Por favor, não tomai gosto por este açúcar que se chama corrupção! Não somente na política, em todas as instituições, inclusive no Vaticano existem casos de corrupção! A corrupção é doce como o açúcar, agrada-nos, é fácil e, depois, acabamos mal. E assim, nos tornamos diabéticos ou o nosso país acaba diabético». Disse Francisco falando de improviso diante de setenta mil jovens reunidos no estádio Karasani de Nairóbi (Quênia). O Papa colocou de lado o discurso preparado e respondeu de improviso, em espanhol com tradução consecutiva em inglês, às perguntas que lhe fizeram dois jovens, Linette e Manuel.

Os desafios da vida

«Por que acontecem as divisões, as batalhas, a morte, a guerra, o fanatismo, a destruição entre os jovens?». Francisco recordou que nas primeiras páginas da Bíblia, há um irmão que mata o outro irmão: «O espírito do mal nos leva à destruição, à divisão, nos leva ao tribalismo, à corrupção, à droga, leva-nos à destruição pelo fanatismo».

O Papa convidou, antes de tudo, à oração: «Um homem perde o melhor do seu ser humano quando se esquece de orar, porque se sente onipotente, porque não sente necessidade de pedir ajuda, diante de tantas tragédias». Em seguida, convidou os jovens a considerar as dificuldades da vida não como algo que «te bloqueia, te destrói, ti aprisiona», mas como «uma oportunidade». «Não vivemos no céu, mas sobre a terra. E a terra é cheia de dificuldades. A terra é repleta não só de dificuldades, mas também de convites para te desviar para o mal. Mas vós, jovens, tendes a capacidade de escolher. Quero ser vencido pelas dificuldades ou enfrentá-las como uma oportunidade para eu vencer?».

Contra o tribalismo

«Vós sois como os esportistas que quando vêm jogar no estádio querem vencer ou como aqueles que já venderam a vitória aos outros e colocaram o dinheiro no bolso?», perguntou o Papa. Ele, depois, falou da praga do tribalismo, das divisões étnicas e tribais. «O tribalismo destrói uma nação, é ter as mãos escondidas por detrás, tendo nelas uma pedra para atirar contra o outro!». Francisco explicou que o tribalismo se vence com o ouvido, pedindo ao irmão por que é assim e escutando a sua resposta. Vence-se com o coração e, depois, com a mão estendida ao diálogo. «Se vós não dialogais e não vos escutais entre vós, sempre existirá o tribalismo que corrói a sociedade».

O Papa convidou alguns jovens a virem até ele e pediu a todos os setenta mil presentes – incluindo o presidente Uhuru Kenyatta e todas as autoridades – para levantarem-se e segurarem todos na mão do outro, como «sinal contra o tribalismo, todos somos uma nação, assim devem ser os nossos corações! Vencer o tribalismo é uma tarefa de todo dia. Um trabalho de escuta, do coração, para abrir-se ao outro, um trabalho das mãos, dar as mãos um ao outro».

Combater a corrupção

«Pode-se justificar a corrupção pelo fato de que todos estão pecando e são corruptos? Como podemos ser cristãos e combater o mal da corrupção?», perguntou-se Francisco, respondendo às solicitações dos jovens. O Papa recordou o caso de um jovem argentino entusiasta pela política que encontrou trabalho junto a um ministério. Ao ter de decidir sobre o que comprar para o escritório, tinha avaliado três orçamentos escolhendo o mais conveniente. Mas o seu chefe lhe pediu: «Por que você escolheu este? Deve escolher aquele que lhe dá mais para colocar no bolso». «Não somente na política – prosseguiu o Pontífice –, mas em todas as instituições, inclusive no Vaticano, há casos de corrupção! A corrupção é doce como o açúcar, agrada-nos, é fácil e, depois, terminamos mal. E com tanto açúcar é fácil que nos tornemos diabéticos ou diabético o nosso País».

«Toda vez que aceitamos uma propina e a colocamos no bolso – disse Francisco – destruímos o nosso coração, a nossa personalidade e a nossa Pátria. Por favor, não tomai gosto por este açúcar que se chama corrupção!». E se vemos que todos, ao nosso redor, são corruptos, «como em todas as coisas, é necessário que sejamos nós a começar a mudar: se não desejas corrupção em tua vida, em tua pátria, começa por ti! Se não começas tu, não começa o teu vizinho. A corrupção rouba-nos a alegria, a paz. A pessoa corrupta não vive em paz».

«Aquilo que roubais com a corrupção, permanece aqui», explicou Bergoglio depois de ter contado o exemplo de um homem corrupto que morreu e uma senhora havia comentado: o caixão não se fechava porque queria levar consigo todo o dinheiro que havia roubado. Mas a corrupção deixa consequências «no coração de tantos homens e mulheres que ficam feridos pelos exemplos de corrupção. Permanece na falta do bem que poderíeis fazer e não fizeste. Permanece nas crianças doentes ou famintas porque o dinheiro da tua corrupção era para elas. A corrupção não é um caminho de vida, é um caminho de morte».
PAPA FRANCISCO
Em meio aos jovens e autoridades quenianas - estádio Karasani (Nairóbi)

Como usar os meios de comunicação para divulgar o Evangelho?

«O primeiro meio de comunicação – recordou o Papa – é a palavra, o gesto, o sorriso, é a proximidade, é procurar a amizade. Se vós falais bem entre vós e sorrides como irmãos, se sois próximos um do outro, mesmo se sois de diversas tribos, e vos aproximais do pobre, do abandonado, do ancião que necessita de uma visita, estes gestos de comunicação são mais contagiantes que qualquer rede televisiva».

O recrutamento dos terroristas

Referindo-se à pergunta de Manuel sobre como ajudar quem foi recrutado pelos fundamentalistas, Francisco disse: «Devemos compreender o porquê de o jovem ser recrutado ou ir à busca de ser recrutado. Afasta-se da sua família, dos seus amigos, da sua tribo, da sua Pátria, da vida, e aprende a matar. Esta é uma pergunta que deveis fazer a todas as autoridades: se um jovem ou uma jovem não tem trabalho, não pode estudar, o que pode fazer? Praticar crimes ou cair na dependência de drogas, ou suicidar-se. Na Europa, as estatísticas de suicídio não são publicadas. “Ou se envolve em uma atividade que mostra um final enganador na vida».

«A primeira coisa que devemos fazer para evitar que um jovem seja recrutado – prosseguiu o Papa – é educação e trabalho. Se um jovem não tem trabalho, que futuro o aguarda? E, então, aparece a ideia de ser recrutado. Se um jovem não tem possibilidade de educação que pode fazer? Aqui está o perigo. Um perigo social que está além de nós e, mesmo, além do País, porque depende de um sistema internacional que é injusto e que tem como centro da economia não a pessoa, mas o deus dinheiro. O que eu posso fazer para que este jovem retorne? Primeiramente, rezar, mas rezar com força, porque Deus é mais forte que qualquer recrutamento. E depois, falar-lhe com amor, amizade, convidá-lo para estar no grupo, não deixá-lo só». 
Multidões aguardam com alegria a passagem de Papa Francisco
Nairóbi - Quênia

A mão de Deus e as tragédias da vida

Francisco respondeu, então, a outra pergunta do «teólogo Manuel», como ele o definiu. «Como podemos compreender que Deus seja nosso Pai em meio às tragédias de vida? Essa pergunta é feita por homens e mulheres de todo o mundo. E não encontram explicação. Há uma só... não resposta, mas um só caminho: olha o Filho de Deus! Deus deu o Filho para salvar a todos nós. O próprio Deus se fez tragédia, Deus mesmo se deixou destruir sobre a cruz. E quando estás desesperado, olha para a cruz: ali está a destruição de Deus, mas há um desafio para a nossa fé, a esperança! Porque a história não terminou neste falimento, mas na ressurreição que renovou a todos nós».

O Papa contou, em seguida, «um segredo», colocando as mais no bolso. «Nos meus bolsos levo sempre duas coisas: um rosário para rezar e algo que parece estranho, que é isto, é a história da falência de Deus. É uma pequena Via Crucis» disse retirando uma pequena imagem dobrada como livro. «Jesus sofreu, desde quando o condenaram à morte até a sepultura. Com estas duas coisas, vivo como posso, mas graças a estas duas coisas, não perco a esperança».

O auxílio a quem não experimenta o amor em família

Finalmente, Francisco falou a respeito dos jovens que não experimentam o amor das suas famílias. «Em todos os lugares há crianças abandonadas, porque lhe abandonaram quando nasceram, e não sentem o afeto da família. Defendei a família, defendei-a sempre. Por toda parte, há não somente crianças abandonadas, mas também anciãos abandonados que estão lá sem que ninguém os visite. Como sair desta experiência negativa de abandono e de falta de amor?».

O Papa falou de um «só remédio» para sair desta experiência. «Fazei aquilo que vós não recebestes! Se não haveis recebido compreensão, sede compreensivos com os outros. Se não haveis recebido amor, amai os outros. Se haveis experimentado a dor da solidão, aproximai-vos daqueles que estão sozinhos. A carne se cura com a carne! E Deus se fez carne».

Traduzido do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Vatican Insider / La Stampa – Vaticano – Sexta-feira, 27 de novembro de 2015 – Internet: clique aqui.

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