«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 9 de abril de 2011

Wellington morreu depois de despir-se de sua humanidade


ANNA VERONICA MAUTNER *
COLUNISTA DA FOLHA

Desde a primeira linha da carta-testamento, percebe-se que Wellington não consegue distinguir um indivíduo de muitos indivíduos. Para ele, matar um ou matar muitos pode ser a mesma coisa.

Dada a dificuldade que confessa ter com a diversidade, ordena que só deveriam tocá-lo seres iguais a ele, virgens. Pede para ser enterrado sem suas roupas. Quer ser enterrado em uma mortalha, neutra. Quer ficar ao lado da mãe. Quer que rezem por ele.

Pelo tipo de ordens que dispara, percebemos sua necessidade de dar ordens. O homem que cometeu a barbaridade a qual nos referimos era uma criatura atolada numa crise de impotência. Sua companhia mais fiel eram máquinas que comandava (computador, dia e noite). Sua necessidade de comandar segue ao dar destino a seus bens, que quer que sejam doados a instituições que cuidam de animais, pois esses, como ele, não se comunicam com palavras, não sabem pedir socorro. Ele se identifica não com criaturas humanas abandonadas, mas com bichos.

De repente, uma dúvida perpassa a sua consciência: ele pode não ser atendido pelos seus irmãos! Termina dizendo que só os pais o entenderam e concordariam com o destino que resolveu dar a sua casa, deles herdada.

Wellington morreu depois de despir-se de sua humanidade. Ao escolher a mortalha, deixou de ser homem, abandonou o masculino e espelhou-se em animais de estimação, tão parecidos entre si.

Matou mais meninas talvez por não serem como ele e atraírem sua atenção para a diversidade. Os jornais falam que Wellington foi adotado. Donde viria o seu sangue? Ele e os bichos abandonados, para quem ficaria sua casa, são vira-latas sem pedigree.

Wellington, eu diria, não morreu só. Matou e se matou entre virgens, semelhantes.

Provavelmente achou que na escola reencontraria seus pares, junto dos quais escolheu morrer e subir aos céus.

Entendo, mas não perdoo.
Perdoemo-lo, ele não sabia o que fazia?

* ANNA VERONICA MAUTNER é psicanalista

Fonte: Folha de S. Paulo - Cotidiano 1 - Sábado, 9 de abril de 2011 - Pg. C4 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0904201105.htm

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