«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Cristianismo, esperança, alegria (Leia!!!)


Timothy Radcliffe*

Aquilo para o qual nos encaminhamos já está presente em nós


1. Uma sociedade precisa de esperança

Em séculos passados, a sociedade ocidental foi amparada pelo otimismo do Iluminismo, em seguida, alimentada pelas conquistas da Revolução Industrial. É como se tivéssemos sido transportados por uma onda de progresso inevitável. Essa confiança foi abalada por duas guerras mundiais do século XX, pelo horror do Holocausto e pela atrocidade das bombas atômicas que mataram centenas de milhares de civis inocentes em Hiroshima e Nagasaki. Esse otimismo teve uma última floração provocante nos "fabulosos" anos sessenta, mas hoje os nossos jovens têm dúvidas sobre o futuro e se encontram tendo que lidar com as consequências potencialmente catastróficas das alterações climáticas e o surgimento de formas violentas de fundamentalismo em todos os continentes do planeta.

Talvez, desde a época da peste na Europa, nunca uma sociedade foi tão necessitada de esperança como está a nossa. O Iluminismo era suportado pela confiança num futuro que se podia criar, mas resultou nos regimes brutais do século XX que submeteram os seres humanos à sua vontade. Hugh Rayment-Pickard escreveu: "Uma vez que existe um plano, deve ser implementado e é necessário monitorar e gerenciar os recursos para realizá-lo. Devem ser 'administrados', mesmo aqueles que não concordam com o plano ou não cooperam com ele. Todo o projeto de construir um futuro planejado requer a imposição daquela que Adorno e Horkheimer chamam de 'razão instrumental': uma racionalidade controladora, a qual obriga o conjunto da natureza a serviço dos seus objetivos "(H. Rayment-Pickard, The Myths of Time. From St Augustine to American Beauty [Os Mitos do Tempo. De Santo Agostinho à Beleza Americana], Londres, 2004, 119).

A esperança cristã, muitas vezes emerge quando aquele projeto está decadente e não entrevemos mais soluções. A viagem de Dante no Paradiso começou quando "o caminho reto estava perdido" (Inferno, Parte I).

Pessoalmente, fui despertado para este conceito de esperança no fim de um dia em Ruanda [África], no início do genocídio, após um dia de viagem terrível através do país, quando visitei um campo de refugiados e, acima de tudo, quando me encontrei por acaso num corredor do hospital cheio de crianças mutiladas por minas terrestres. Quando à noite encontramos nossas irmãs Dominicanas, o que poderia dizer? Que palavras de esperança se poderia dizer? Contudo, algo precisava ser feito. Recordamos do que Jesus disse na noite antes de morrer, quando parecia não haver nenhum outro futuro a não ser o Gólgota. Teve uma atitude que se referia a uma esperança que não poderia ser compreendida com palavras, mas apenas marcada por meio de gestos: "Isto é meu corpo entregue por vós."

2. Tocar com a mão a esperança realizada: eis a alegria

Nosso desafio é fazer gestos criativos que não só falem da nossa esperança, mas também sejam sinais do fato que aquilo que nós aspiramos já está germinalmente vivo em nós. Eu mantenho em mim a lembrança da vigília de Natal de 1996, da qual participei ao lado do dominicano Pedro Meca, capelão dos sem-teto de Paris. Todo Natal, constrói uma grande tenda no centro de Paris, onde se celebra a vigília para umas mil pessoas, em um altar de papelão, para aqueles que não têm outro abrigo. A alegria daquela festa foi uma antecipação do futuro, daquele Reino onde ninguém vai experimentar a miséria, humilhação e sofrimento, porque estaremos na casa de Deus. Nós precisamos de imaginação e coragem para fazer gestos semelhantes, que indicam a nossa esperança em algo que vai além das palavras.

A alegria daquela vigília de Natal não foi somente uma agradável emoção: estar alegres significa estar humanamente vivos. A palavra em espanhol alegria vem do latim e parece que foi originalmente aplicada aos animais, especialmente aos cavalos: o “alacer equus” era um cavalo vivaz e animado, transbordante de vida, acostumado a correr e escoicear. A alegria cristã é o começo da partilha da vida divina conosco. A alegria de Deus não é uma emoção divina: Deus é aquele que é, é o “Eu sou” que Moisés encontrou no deserto. Mestre Eckhart descreve a alegria de Deus como a exuberância de um cavalo galopando em torno de seu recinto.

Esta alegria deveria derramar-se em nosso louvor, como quando Davi dançou diante da arca: "Louvai-o com o som da trombeta, louvai-o com a harpa e a lira. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com cordas e flautas! Louvai-o com címbalos, louvai-o com címbalos repicantes. Todo ser vivo louve ao Senhor" (Salmo 150,3-6).

Infelizmente, geralmente a Missa de domingo não é muito entusiasmada. Os bispos não dançam mais, como na Idade Média, com o clero nas suas catedrais, na manhã de Páscoa. Esta festividade marcava o início do ministério de Jesus, que transformou água em vinho. Sua alegria era a sua autoridade, mesmo quando despertou escândalo entre as pessoas celebrando junto com os pecadores. Esta é, também para nós, a principal autoridade.

A alegria cristã pode ser opressora se ela é uma alegria forçada. Nada pode ser mais deprimente que ouvir dizer: "Seja feliz, pois Jesus te ama". Muitos jovens se sentem obrigados a ser felizes e, portanto, compreendem os momentos de tristeza como um fracasso e um sinal de sua inadequação. A tristeza não é facilmente reconhecida diante da felicidade "alcançável". Por isso, às vezes, se torna uma poderosa fonte de vergonha e solidão escondida. Esta é uma das razões para a epidemia de suicídios no mundo.

Nos evangelhos, entretanto, o oposto da alegria não é a aflição. Recita as bem-aventuranças: "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados" (Mt 5,4). O oposto de alegria nos Evangelhos é uma dureza de coração que nos isola tanto da felicidade quanto do sofrimento dos outros. Oremos para que nossos corações de pedra possam ser removidos e nos sejam dados corações de carne. A pena amolece o coração escavando o espaço para a alegria. Esta é a razão pela qual os santos mais alegres, como Domingos e Francisco, fossem também os mais tristes. Caso contrário, toda a felicidade a que podemos aspirar nada mais é que uma fuga egoísta de nossa carne e nosso sangue.

Fonte:
© 2011 by Editrice Queriniana. Da: Concilium 2/2011
© 2011 by Teologi@Internet
Forum teologico diretto da Rosino Gibellini
Editrice Queriniana, Brescia (Italia) - http://www.queriniana.it/blog

Tradução: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo (15/04/2011).

* Teólogo e ex-Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, dominicanos. Para saber mais sobre ele e seu pensamento, acesse: http://en.wikipedia.org/wiki/Timothy_Radcliffe; em português (mais curto): http://pt.wikipedia.org/wiki/Timothy_Radcliffe

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