«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 5 de maio de 2012

A quente e seca Primavera Árabe [Muito interessante!]


BRUNO CALIXTO

Um estudo associa a severa estiagem enfrentada pela Síria à instabilidade que levou aos protestos contra Assad. O clima define o rumo de um país?

Francesco Femia
O levante contra a ditadura de Bashar al-Assad na Síria não começou nem na capital, Damasco, nem na cidade mais populosa, Aleppo. Há 13 meses, o epicentro dos levantes ocorreu em Daraa, no sul do país, com menos de 100 mil habitantes. O estopim foi a prisão e a tortura de 15 crianças como punição por terem pichado slogans anti-Assad no muro de sua escola. Os protestos populares se fortaleceram porque os agricultores de Daraa, uma cidade basicamente rural, se juntaram aos insatisfeitos contra o governo. Eles pediam mais atenção à situação calamitosa em que se encontravam por causa das perdas na colheita, resultado de uma severa estiagem na região. A mobilização dos camponeses sírios em meio à adversidade climática está descrita num recente relatório dos pesquisadores Francesco Femia e Caitlin Werrell, do instituto Centro para o Clima e Segurança, de Washington. O documento lança a ideia de que o tempo quente e seco foi um dos fatores para que as sementes da revolta germinassem no solo da Síria antes de a onda de manifestações populares se espalhar pelo mundo árabe.


Caitlin Werrell
Fenômenos climáticos podem levar um país a uma ruína? A questão foi levantada por alguns autores no século XIX, mas só passou a ser estudada sistematicamente a partir da década de 1970, quando os primeiros cursos de história ecológica foram criados nos Estados Unidos. Dali surgiram pesquisadores como Alfred Crosby e Jared Diamond. Este fez sucesso em 2005 com o livro Colapso – Como as sociedades escolhem o sucesso ou o fracasso. Diamond afirma que várias civilizações antigas entraram em decadência porque não lidaram com seus problemas ambientais. “Antes, os historiadores deixavam os impactos ambientais de lado. Considerávamos que apenas governantes, tratados e guerras definiam o destino dos povos”, diz Fernando Fernandez, professor de ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Nicholas Stern - economista
Em 2006, o governo britânico encomendou ao economista Nicholas Stern um estudo sobre o impacto das mudanças climáticas na geopolítica mundial num prazo de 50 anos. O Relatório Stern alertou que o planeta poderia testemunhar diversos conflitos em decorrência do agravamento de questões ambientais. Em 2009, um grupo de estudiosos liderado pelo economista Marshall Burke, da Universidade da Califórnia, concluiu que, no intervalo entre 1981 e 2002, cada grau célsius a mais na temperatura média dos países da África subsaariana correspondeu a um aumento de 50% na incidência de conflitos. A pesquisa foi contestada pelo cientista político norueguês Halvard Buhaug, do Instituto Oslo de Pesquisa para a Paz. Para Buhaug, o estudo de Burke falhou porque limitou a análise até 2002 e associou o pico de mortes de um conflito aos dados climáticos do ano anterior, sem analisar a influência do clima na eclosão da guerra. Segundo sua “contrapesquisa”, o número de vítimas em confrontos na África vem caindo desde então, ao passo que as temperaturas médias seguem em alta e os índices pluviométricos em queda.


A tréplica veio de outro estudo, do Instituto da Terra da Universidade Colúmbia, de Nova York. A pesquisa, liderada pelo economista Solomon Hsiang, afirma que o El Niño, fenômeno climático que causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, foi o gatilho para o início de um quinto dos conflitos mundiais, entre 1950 e 2004. Recentemente, a seca acima do normal no sul do Deserto do Saara foi apontada como um dos fatores de instabilidade no Mali, cujo governo sofreu um golpe em março. O levante foi liderado por rebeldes tuaregues e radicais islâmicos do norte do país, onde a estiagem arruinou a economia.
Jared Diamond - geógrafo
No caso da Síria, o artigo de Femia e Werrell sugere que a longa estiagem enfrentada pelo país criou um cenário propício para a contestação do regime de Assad. A seca na região tem sido registrada há 40 anos, mas se agravou de 2000 para cá (leia o quadro abaixo). Em 2008, os índices pluviométricos na Síria foram 70% menores que a média anual. Desde então, quase 75% dos agricultores perderam totalmente sua produção. O fracasso agrícola foi causado também pela inépcia do próprio governo, por ter incentivado técnicas de irrigação ineficientes que levaram a um grande desperdício de água. Com isso, mais de 800 mil sírios se viram forçados a migrar para as cidades. A infraestrutura oferecida pelo Estado para a população urbana, já insuficiente, ficou ainda mais precária.


Alfred Crosby - historiador
Num país em que a agricultura empregava 40% da força de trabalho e representava um quarto do PIB, uma estiagem dessa intensidade é um evidente fator de tensão social. Os autores do estudo dizem que a influência do clima adverso sobre o cenário político atual é “significativa”, mas reconhecem não ser possível dimensionar o peso do colapso agrícola na revolta contra Assad. A pesquisa também passa ao largo de um fato ignorado igualmente por outros estudos: secas severas não ameaçam a paz social em países com instituições políticas sólidas e dinamismo social.


Um dos méritos do estudo de Femia e Werrell é pedir à comunidade internacional que não se concentre apenas na ofensiva diplomática para interromper o massacre de sírios. Esse é o primeiro passo. Mas a oposição também precisa ser auxiliada para ter acesso a recursos naturais, como comida, água e terra arável. Se a teoria de que tragédias climáticas definem o rumo de um país ainda pode ser contestada, o exemplo da Síria mostra que elas contribuem, no mínimo, para a derrocada de quem já está no caminho errado.
Fonte: Revista ÉPOCA - Ideias/Meio Ambiente - 30 de abril de 2012 - nº 728 - Páginas 62-63 - Internet: http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/04/quente-e-seca-primavera-arabe.html - 27/04/2012 22h16 - Atualizado em 04/05/2012 - 15h52

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