População rejeita e desaprova autoridades
Onda de rejeição alcança até ministros do Supremo
Daniel
Bramatti e Gilberto Amendola
Repúdio ao Executivo e Legislativo chega ao Judiciário,
revela pesquisa Ipsos; apenas Moro e Joaquim Barbosa
mantêm índice elevado, apesar de queda de aprovação
GILMAR MENDES - Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do Supremo Tribunal Eleitoral |
A
onda de rejeição a políticos e autoridades públicas já não se limita ao governo
e ao Congresso e chegou com força ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. Pesquisa Ipsos mostra que, entre julho e
agosto, houve aumento significativo da desaprovação a ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF). Até o juiz Sérgio Moro enfrenta desgaste: apesar de
seu desempenho ainda ser majoritariamente aprovado pela população, sua taxa de
rejeição está no nível mais alto em dois anos.
A pesquisa avaliou a opinião
dos brasileiros sobre 26 autoridades de distintas esferas de poder, além de uma
celebridade televisiva, o apresentador de TV Luciano Huck. Quase todos estão no vermelho, ou seja, são mais desaprovados do
que aprovados. As exceções são Huck,
Moro e o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa. Os dois últimos são
responsáveis pelos julgamentos dos dois maiores escândalos de corrupção do
País: mensalão e Operação Lava Jato.
Para
Danilo Cersosimo, um dos
responsáveis pela pesquisa, o aumento do descontentamento com o Judiciário pode
estar relacionado “à percepção de que a
Lava Jato não trará os resultados esperados pelos brasileiros”. Outros
levantamentos do Ipsos mostram que o apoio à operação continua alto, mas vem caindo
a expectativa de que a força-tarefa responsável por apurar desvios e corrupção
na Petrobrás provoque efeitos concretos e mude o País. “Há uma percepção de que a sangria foi estancada, de que a Lava Jato
foi enfraquecida”, disse Cersosimo.
Na
lista de avaliados pelo Ipsos estão três dos 11 atuais integrantes do Supremo: Cármen Lúcia, a presidente; Edson Fachin, relator dos casos
relacionados à Lava Jato; e Gilmar
Mendes, principal interlocutor do presidente Michel Temer no Tribunal. Os
três enfrentam deterioração da imagem.
Além
de Moro e Fachin, há na lista outros dois nomes relacionados à Lava Jato: o do
procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, e o do procurador Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação em Curitiba. Eles também
sofrem desgastes.
EDSON FACHIN - Ministro do Supremo Tribunal Federal e Relator da Lava Jato |
Líder
No STF, a pior situação é a
de Gilmar:
no último mês, sua taxa de desaprovação subiu de 58% para 67%. Desde abril, o
aumento foi ainda maior: 24 pontos porcentuais.
O
descontentamento com Gilmar cresceu ao mesmo tempo em que ele ficou mais
conhecido: até maio, mais da metade da população (53%) não sabia dele o
suficiente para opinar. Agora, esse índice caiu para 30%. Já a taxa de
aprovação se manteve praticamente estável, oscilando em torno de 3%. A avaliação crítica é maior nas faixas mais
escolarizadas: chega a 80% entre os brasileiros com curso superior, e é de
50% entre os sem instrução.
Nos
últimos meses, Gilmar, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
se notabilizou por constantes e duras críticas ao que classifica como abusos na
atuação do Ministério Público Federal em grandes investigações no País,
incluindo a Lava Jato. O ministro
protagonizou embates com o procurador-geral da República e chegou a chamar
Janot de “desqualificado”.
Na
pesquisa Ipsos, o chefe do Ministério Público Federal – que vai deixar o cargo
em breve – teve seu desempenho reprovado por 52% dos entrevistados. A avaliação
favorável ficou em 22%.
CÁRMEN LÚCIA - Presidente do Supremo Tribunal Federal |
Evolução
Cármen Lúcia teve aumento de
11 pontos porcentuais em sua taxa de desaprovação entre julho e agosto, de 36%
para 47%.
Já sua aprovação está em 31% – queda de cinco pontos porcentuais em um mês e de
20 pontos desde janeiro. A avaliação
favorável de Fachin caiu, em um mês, de 45% para 38%, enquanto a
desfavorável subiu de 41% para 51%.
Conhecido
por sua atuação no julgamento de acusados no escândalo da Lava Jato, Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba,
tem seu desempenho aprovado por mais da metade da população (55%). Sua taxa
de desaprovação, porém, subiu nove pontos porcentuais no último mês, de 28%
para 37% – o ponto mais alto na série histórica do Ipsos, que teve início em
agosto de 2015.
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Lava Jato afeta avaliação, afirmam especialistas
Gilberto
Amendola
Julgamento de políticos, defesa de interesses próprios
e relação
com opinião pública influem em resultado de pesquisa
MARIA DO SOCORRO BRAGA - Cientista Política da UFSCAR |
A
pesquisa Ipsos mostrou que o
desgaste não é mais exclusividade dos Poderes Executivo e Legislativo. Os ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) também já são vistos com desconfiança por parte da população. Para a
cientista política Maria do Socorro
Braga, a avaliação negativa de nomes como Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e
Edson Fachin é resultado da Operação Lava Jato.
“Eles
são avaliados por atitudes e decisões tomadas nesse âmbito ou envolvendo
personagens que estão sendo julgados pela operação. A opinião pública está
muito sensível a esses desdobramentos”, disse. “Toda e qualquer impressão de impunidade recai sobre os ministros”,
afirmou a cientista política e professora da Universidade Federal de São Paulo - Campus de São Carlos (UFSCAR).
A sensação da opinião pública, segundo a
pesquisadora, é de que os ministros do
Supremo atuariam de forma corporativista, decidindo questões do próprio
interesse, como o aumento de vencimentos do Judiciário.
MARCO ANTÔNIO TEIXEIRA - Cientista Político da PUC-SP |
Comparação
O
também cientista político Marco Antônio
Teixeira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), disse
que os ministros mal avaliados também sofrem com uma possível comparação com o
ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, juiz de primeira instância.
“Joaquim Barbosa e Sérgio
Moro encarnaram de alguma forma um certo ativismo político que agradou à
opinião pública”, afirmou. “A sociedade deseja um Supremo que se oponha à classe
política, mas Cármen Lúcia e Fachin têm posicionamentos mais moderados. Já
Gilmar Mendes demonstra outro lado, aquele em que o Supremo está muito próximo
de alguns grupos políticos”, disse Teixeira.
CLÁUDIO COUTO - Cientista Político da FGV |
Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas
(FGV), afirmou que a “boa avaliação alcançada pelo STF no passado estava mais
relacionada à espetacularização dos julgamentos transmitidos pela televisão do
que por qualquer atração autêntica pelas figuras”. “Nesse ambiente do
espetáculo, é natural que juízes como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro apareçam
travestidos de ‘juízes justiceiros’.”
Já
para o professor de Direito Constitucional Oscar
Vilhena, também da FGV, é preciso
cautela ao avaliar a performance de ministros e juízes na pesquisa. “A
qualidade de um juiz não pode ser mensurada pela popularidade nem pela
impopularidade. Às vezes, aplicar a lei é impopular. Não se pode avaliá-los pela mesma régua da política.”
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