«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de julho de 2016

Papa na Polônia: uma presença que deixa marcas

“Onde está Deus, quando inocentes morrem por causa da violência, do terrorismo, das guerras?”

Andrea Tornielli
Vatican Insider
29-07-2016

«O Senhor quer fazer de vocês uma resposta concreta às necessidades
e aos sofrimentos da humanidade»,
afirmou Papa Francisco durante a Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, na Polônia
PAPA FRANCISCO
dirige a palavra aos jovens presentes à Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude
Parque Błonia - Cracóvia - Polônia (18h00 - hora local)
Sexta-feira, 29 de julho de 2016

“Onde está Deus?
Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas?
Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras?
Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto?
Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – também elas – por causa de graves patologias?”

A meditação do Papa Francisco ao final da Via Sacra na explanada do Parque Blonia (Cracóvia – Polônia) começa com uma série de perguntas “para as quais não há resposta humana”.

Bergoglio reuniu-se com os jovens que há cerca de três horas esperavam por ele, escutando testemunhos, assistindo a filmes, entre cantos e orações. A Via Sacra – Via da Misericórdia – prevê a exibição de vídeos ao vivo de outras partes do mundo. Em cada estação, a cruz é levada por um grupo diferente de jovens que pertencem a diferentes associações do mundo.

Em sua intervenção, o Papa Francisco, após um dia de contato com a memória dolorosa do passado e com os sofrimentos dos mais pequeninos, explicou que diante da falta de resposta para a dor inocente “só podemos olhar para Jesus e perguntar a Ele. E a resposta de Jesus é esta: ‘Deus está neles’, Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um”. 
JOVENS CARREGAM A CRUZ
durante a Via Sacra da 31ª Jornada Mundial da Juventude

O próprio Jesus “escolheu identificar-se com estes irmãos e irmãs que sofrem por causa da dor e da angústia, aceitando percorrer a via dolorosa que leva ao calvário”.

Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta noite, Jesus – e nós com ele – abraça com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afeto e simpatia”.

Em seguida, o Papa recordou as 14 obras de misericórdia:
* dar de comer a quem tem fome,
* dar de beber a quem tem sede,
* vestir os nus,
* dar pousada aos peregrinos,
* visitar os enfermos;
* visitar os presos;
* enterrar os mortos;
* dar bons conselhos,
* ensinar os ignorantes,
* corrigir os que erram,
* consolar os tristes,
* perdoar as injúrias,
* suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo,
* rezar a Deus por vivos e defuntos.

“Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o ‘protocolo’ com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele”. “A credibilidade dos cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. Não nas ideias: aí”.
PAPA FRANCISCO
discursa diante de milhares de jovens reunidos no parque Błonia, em Cracóvia, para a Via Sacra

“O caminho da Cruz não é sadomasoquista, o caminho da Cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte”, é o “caminho da esperança, e eu gostaria que vocês fossem semeadores de esperança”, convidou o Papa.

Hoje, afirmou Francisco, “a humanidade necessita de homens e mulheres, particularmente jovens como vocês, que não queiram viver a sua existência ‘pela metade’, jovens dispostos a entregar suas vidas para servir generosamente os irmãos mais pobres e fracos”. Percorrendo a via da cruz, do compromisso pessoal e “do sacrifício de vocês mesmos”.

“Queridos jovens – concluiu Bergoglio –, naquela Sexta-Feira Santa, muitos discípulos voltaram tristes para suas casas, outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de esquecer a cruz. Pergunto-vos: nesta noite, como vocês querem voltar às suas casas, aos seus locais de alojamento? Nesta noite, como querem voltar a encontrar-se com vocês mesmos? O mundo olha para nós, cabe a cada um de vocês responder ao desafio desta pergunta”.

Traduzido do italiano por André Langer. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Papa se torna convidado incômodo na Polônia

Christoph Strack
Deutsche Welle
29-07-2016

A fama de católicos devotos dos poloneses se aplica em especial a seu governo nacional-conservador. Mas, ao contrariar expectativas em sua visita, Francisco estraga a festa.
Papa acompanhado do Presidente polonês Andrzej Duda e esposa Agata Kornhauser-Duda,
por ocasião de sua chegada ao país na quarta-feira, dia 27 de julho de 2016

A coisa poderia ter sido tão boa: o papa, o sucessor do apóstolo Pedro, de visita a Cracóvia por cinco dias. Centenas de milhares de jovens entusiasmados, os olhos de todo o mundo pregados na cidade no sul da Polônia. E ele está acomodado nos melhores aposentos da cidade, em Wawel, o antigo castelo real, a apenas alguns passos da sepultura do novo "santo" da nação, o ex-presidente Lech Kaczynski, morto em 2010 num acidente aéreo.

Mas aí Francisco vem e simplesmente sai falando. Ele deixa bem claro que não está de acordo com os rumos da política polonesa, diz o que gostaria que fosse diferente. Aí é que a festa começa de verdade. O discurso do líder da Igreja Católica aqui não pôde ser tão arrasador como sua crítica à União Europeia em 2014, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo; como ao receber o Prêmio Carlos Magno há pouco menos de três meses, no Vaticano. Mas ela foi suficientemente direta.

Não se trata apenas do curso restritivo do governo nacional-conservador no tocante ao acolhimento de refugiados. Já na homenagem ao país anfitrião soou uma nota de crítica. Francisco evocou (em palavras, aliás, que em parte poderiam ser de seu grande antecessor polonês, João Paulo II) o "sonho de um novo humanismo europeu", da cultura comum de toda a Europa, norteada pelo cristianismo.

O sumo pontífice falou de uma "consciência de identidade sem qualquer prepotência"; exortou à "abertura para a renovação"; alertou para a "unidade, também em meio a diferenças de opinião". Ele louvou a reconciliação teuto-polonesa, iniciada pelas Igrejas; lembrou, ao seguramente devoto auditório, que Deus "transforma dificuldades em chances e cria novas situações onde parecia ser impossível".

E então se referiu expressamente à migração: é necessária "a disposição de acolher aqueles que fogem da guerra e da fome; a solidariedade perante os que foram privados de seus direitos fundamentais". Resumindo: cabe "fazer o que seja possível para minorar o sofrimento".
PAPA FRANCISCO
discursa às autoridades polonesas e ao corpo diplomático reunidos no Castelo de Wawel, em Cracóvia, Polônia
Quarta-feira, 27 de julho de 2016

Governo polonês posiciona-se contra acolhida aos refugiados

A bela congregação festiva em Wawel: a primeira-ministra Beata Szydlo, que apenas horas antes criticara veementemente a chanceler federal alemã, Angela Merkel, por sua política para os refugiados. Cujo ministro do Interior, Mariusz Błaszczak, anunciara, antes das palavras do papa, que França e Alemanha ilustravam o fracasso do multiculturalismo: que o homem de Roma dissesse o que quisesse, a Polônia permaneceria em seu curso político.

Szydlo e Błaszczak se esforçaram para manter uma cara boa. E, aliás, também os bispos do país, muitos dos quais vivenciaram o comunismo ainda como padres e que agora se mostram tão satisfeitos com tanto conservadorismo, também nacionalista. [O Evangelho deveria vir primeiro e à frente de todo nacionalismo!]
 
BEATA SZYDLO
Primeira-Ministra da Polônia em choque com a chanceler
Angela Merkel que é a favor de acolher os refugiados na Europa
Francisco apelou às consciências deles todos – às dos bispos, ainda uma segunda vez, a portas fechadas. O "papa de longe" lembrou à Europa e à Polônia de valores fundamentais, da mensagem cristã inscrita no continente. Certamente ele não espera que a liderança polonesa repita o que Merkel fez, ignorando as regras europeias numa situação percebida como emergencial.

Mas o papa Francisco formulou expectativas – expectativas que valem para qualquer nação da Europa, diante do novo debate após os hediondos atentados. Extremamente significativo foi o Vaticano ter esclarecido previamente – numa iniciativa inusual, antes de uma viagem desse gênero – que o papa e os bispos da Polônia estavam de pleno acordo na questão dos refugiados. Só que os bispos seguramente ainda não estavam sabendo disso, poder-se-ia imaginar...
MARIUSZ BLASZCZAK
Ministro do Interior da Polônia, radicalmente contrário à acolhida
de refugiados por parte de seu país

Manipulação da notícia pelo governo polonês

Um detalhe demonstra quão necessárias as palavras do pontífice foram para esta Polônia de 2016. O novo governo do Partido da Lei e Justiça (PiS) forçou a emissora estatal à conformidade. O discurso do papa é o lead no site da televisão estatal na internet. E lá se dizia que Francisco teria frisado que a Polônia, esse país de emigrantes, deveria "facilitar o retorno" de seus próprios emigrados. Só mais tarde mudou-se a manchete para aquilo que jornalistas de todo o mundo noticiaram, quase literalmente: "Papa pede que Polônia acolha refugiados".

Dá para imaginar como foi acirrada a disputa na emissora, ainda antes do discurso papal. Pois também sobre outros detalhes do programa da visita o veículo espalhou boatos: consta que a liderança em Varsóvia teria desejado que Francisco visitasse o túmulo de Lech Kaczynski – cujo local de sepultamento, ao lado dos reis da Polônia, é antes inusitado. São apenas alguns degraus até as sepulturas de muitos grandes poloneses, ter-se-ia argumentado.

Não, respondeu Roma, aos degraus altos... é o que disseram os boatos. Vai-se construir então uma escada rolante para ele, teria reagido alguém no mais alto escalão do país. Não, continuou sendo a resposta, e o papa não foi até o túmulo de Kaczynski. Mas talvez alguém tenha reparado a disposição com que o religioso subiu os degraus da estreita escada no Wawel para se encontrar com o presidente Andrzej Duda.

Os próximos dias do papa Francisco na Polônia ainda podem trazer muitas surpresas.

A versão original, em alemão, deste artigo, é acessível aqui.

Fontes: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sábado, 30 de julho de 2016 – Internet: clique aqui; e aqui.

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