«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O teólogo que, silenciosamente, faz a revolução

Alberto Melloni*
Jornal “La Repubblica” – Roma
07-07-2016

Libertar a pessoa dos reducionismos que oferecem chaves simplistas
para se compreender a realidade e viver a fé
TIMOTHY RADCLIFFE
Teólogo dominicano inglês que dialoga com o mundo atual e busca o novo sentido do ser Igreja

Entre as duas guerras mundiais do século XX, aconteceu algo imprevisível no catolicismo. A Igreja de Roma trazia dentro de si instâncias integristas. Mais datadas, mas não dessemelhantes aquelas que percorriam, na mesma altura cronológica, os batistas estadunidenses, que tinham se dado o nome de "fundamentalistas", ou os islãs da Arábia, pegos entre a utopia política da Irmandade Muçulmana e a fundação do novo reino wahabita.

No catolicismo, o intransigentismo [movimento intransigente, que não cede, não dialoga] tinha nas mãos todas as alavancas do poder eclesiástico. No entanto, encontrou-se diante de uma geração de teólogos capazes de descobrir na história a chave dos modos de serem esquecidos:

* Marie-Dominique Chenu (1895-1990): dominicano francês, especialista em Idade Média, realizou estudos teológicos, era grande especialista em São Tomás de Aquino;
* Yves Marie-Joseph Congar (1904-1995): teólogo dominicano francês, foi considerado um dos maiores eclesiologistas do século passado;
* Henri Marie-Joseph Sonier de Lubac (1896-1991): teólogo francês jesuíta, foi professor de Teologia Sistemática, mas pesquisa em todos os campos teológicos;
* Jean Guenolé Marie Daniélou (1905-1974): teólogo jesuíta francês, estudou a conexão entre a fé e a teologia contemporânea, o problema da Verdade, a relação entre a natureza e a graça e aprofundou também o tema do marxismo;
* Hans Urs von Balthasar (1905-1988): presbítero e teólogo suíço, foi jesuíta até 1950, é considerado um dos maiores e mais influentes teólogos do século XX;
* Alois Grillmeier (1910-1998): teólogo jesuíta alemão, especializado em Teologia Dogmática e história dos dogmas;
deslegitimavam a ideia de um cristianismo monolítico, satisfeito por resistir imóvel às ondas. Pagaram por isso. E, se fizeram teologia de joelhos ou de pé, foi porque lhes removeram a cadeira, embora alguns fizeram deles cardeais em idade pré-mortuária.

Assim como a condenação do "modernismo" no início do século passado tinha descerebrado o catolicismo [feito o catolicismo perder o tino, o juízo], tornando-o cego diante dos fascismos, a perseguição das "nouvelle théologie" [a nova teologia produzida, sobretudo, por franceses] poderia ter entregue a Igreja de Roma a processos involutivos de resultados impensáveis. Se isso não aconteceu foi pela sua capacidade de (não) esperar por aquilo que tardava e que apareceu de repente: o Papa João XXIII, o Concílio.

Em vez de esperar por reabilitações ou de pedir ressarcimentos, acumularam uma inteligência que não enrijeceu na repreensão e geraram a herança intelectual que fecundou o Concílio Vaticano II.

Essa herança se prolongou, e dela faz parte Timothy Radcliffe. Um dominicano que foi discípulo de Chenu, depois Mestre Geral da Ordem dos Pregadores [dominicanos] de 1992 a 2001, para finalmente voltar a ser frade em Oxford, com naturalidade.
MARIE-DOMINIQUE CHENU
teólogo dominicano que foi professor de Radcliffe

Radcliffe é um homem corajoso. Quando dizer aquilo que hoje o papa diz sobre os gays significava dar um chute no chapéu cardinalício e na carreira eclesiástica, Radcliffe tomava posição, sem tormento, sem arrependimentos.

E mesmo agora, quando uma conferência sua é interrompida por um grupo de zelotes armados com rosário para lhe tirar a palavra, quando os seus coirmãos depreciam o neorritualismo garboso de tantos jovens padres e frades, ele não se amargura: e continua o seu trabalho de desconstrutor das caricaturas sobre o cristianismo.

Fazem parte disso as conferências reunidas no livro Il bordo del mistero [A borda do mistério] (Ed. EMI). Para aqueles que esperam que o ex-mestre geral abra um livro citando o papa ou São Tomás ou, ao menos, Jesus, ele oferece como início Naomi Klein – feminista, judia e laica.

Para aqueles que pensam que um dominicano deve ter um mínimo complexo de culpa diante dos albigenses (os hereges exterminados na cruzada do início do século XIII), ele explica que os frades pregadores devem continuar combatendo o desprezo do corpo e da alegria, que ainda tentam o cristianismo e a cultura secular atual.

Para aqueles que gostam de um uso vingativo ou corporativo do registo autobiográfico, ele oferece apenas episódios úteis para testemunhar que a fé cristã pode (não mais do que isto: pode) libertar da prisão do eu insaciável. E mostra a sua alegre liberdade interior quando confessa que, segundo ele, as pessoas veem a Igreja como um grupo de "homens idosos vestidos de modo estranho que dizem às pessoas como elas devem se comportar na cama".

O estilo de Radcliffe é leve; as citações são graciosas; as questões bíblicas e teológicas, reduzidas ao mínimo. Porém, nem mesmo essas suas intervenções pertencem à insuportável série de livros piedosíssimos, feitos de uma gosma espiritualista. Aqueles que pregam a alegria obrigatória do "Jesus te ama" (que Radcliffe define como deprimente) e denunciam, pensativos, o "vazio" dos jovens.

Não, Radcliffe é diferente: ele põe com graça "a" questão. Que não é especificamente religiosa. Na modernidade global, de fato, os fundamentalismos como busca de uma pequena pátria, como adesão a um círculo de seguidores, são a única coisa comum a todos os pertencimentos: há um fundamentalismo científico, um fundamentalismo de mercado, muitos fundamentalismos religiosos: portanto, "somos afligidos por diversos modos de pensar reducionistas, que oferecem chaves simplistas para compreender a realidade".

Sim, a realidade: qual é a realidade do cristianismo? Depois:

* de um catolicismo satisfeito com as suas condenações e
* de um catolicismo satisfeito com o seu Concílio,
* depois de um catolicismo reivindicado como um comprimido de "sentido" a ser tomado após as refeições,
* de um catolicismo especializado em desgraças,
qual é o futuro da Igreja?

Federar [compartimentar, isolar] gostos suavizando os seus conflitos? Ou esperar que um papa – no mínimo, o "papa jovem" pintado por Paolo Sorrentino – expulse aquilo que não lhe agrada, ao custo de expulsar a todos? Tornar-se uma Igreja low cost que se alegra por ser apocalíptica? Ou deve se resignar a servir de pneu reserva para identidades políticas reacionárias e frágeis, induzidas a desprezar o estrangeiro e a defender o presépio?

Para Radcliffe, as fés têm outra função: a de narrar um tempo longo em que não acontece nada e no qual a alegria é silenciosa: "Eu acho que, no coração do cristianismo, há uma alegria tranquila, suficientemente profunda a ponto de abraçar até os momentos de sofrimento e de escuridão. É uma alegria que é fruto da intensa oração e do silêncio".

Porque só a impotência de uma pergunta permite tocar na borda do mistério, deixando que o vazio não se encha com banalidades sentimentais e arrogância teológica, perdendo a sua característica mais preciosa.

L I V R O

Título: Il bordo del mistero. Aver fede nel tempo dell'incertezza
Autor: Timothy Radcliffe
Editora: EMI
Língua: italiano
Ano de publicação: 2016
Páginas: 141
Preço: € 14,00

* ALBERTO MELLONI é historiador italiano e professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto com adaptações livres realizadas por Telmo José Amaral de Figueiredo. Para acessar a versão original do artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 8 de julho de 2016 – Internet: clique aqui.

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