17º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho:
Lucas 11,1-13
1 Jesus estava rezando num certo lugar.
Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe:
«Senhor, ensina-nos a rezar, como também João
ensinou a seus discípulos.»
2 Jesus respondeu: «Quando rezardes,
dizei: “Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.
3 Dá-nos a cada dia o pão de que
precisamos,
4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois
nós também perdoamos a todos os nossos devedores;
e não nos deixes cair em tentação”.»
5 E Jesus acrescentou: «Se um de vós
tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser:
“Amigo, empresta-me três pães,
6 porque um amigo meu chegou de viagem
e nada tenho para lhe oferecer”,
7 e se o outro responder lá de dentro: “Não
me incomoda! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não
me posso levantar para te dar os pães”;
8 eu vos declaro: mesmo que o outro não
se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa
da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário.
9 Portanto, eu vos digo: pedi e
recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto.
10 Pois quem pede, recebe; quem procura,
encontra; e, para quem bate, se abrirá.
11 Será que algum de vós que é pai, se o
filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra?
12 Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará
um escorpião?
13 Ora, se vós que sois maus, sabeis dar
coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo
aos que o pedirem!».
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
ESTAMOS
ESQUECENDO DO QUE É ORAR
Talvez, a tragédia maior das
pessoas de hoje seja sua incapacidade para a oração. Esquecendo-se do que é
orar.
As
novas gerações abandonaram as práticas de piedade e as fórmulas de oração que
alimentaram a fé de nossos pais. Reduzimos
o tempo dedicado à oração e à reflexão interior. Até a excluímos
praticamente de nossa vida.
Porém,
não é isto o mais grave. Parece que
estamos perdendo a capacidade do silêncio interior e do encontro sincero
consigo mesmo e com Deus. Distraídos por mil sensações, aborrecidos
interiormente, acorrentados a um ritmo de vida desumanizador, estamos
abandonando a atitude orante diante de Deus.
Em uma
sociedade na qual aceita-se como critério primeiro e quase único a eficácia, o rendimento e a utilidade
imediata, a oração acaba desvalorizada como algo inútil e pouco importante.
Facilmente, afirma-se que o importante é «a vida», como se a oração pertencesse
ao mundo da «morte».
E,
no entanto, necessitamos orar. Não é
possível viver com vigor nossa fé cristã e nossa vocação humana, subalimentados
interiormente. Cedo ou tarde, experimentaremos a insatisfação que produz no
coração humano, o vazio interior, a banalidade do cotidiano, o aborrecimento da
vida e a não-comunicação com o mistério.
Necessitamos
orar para encontrar silêncio, serenidade e descanso que nos permitam sustentar o ritmo de nosso trabalho
diário.
Necessitamos
orar para viver em atitude lúcida e
vigilante em meio a uma sociedade superficial e desumanizadora.
Necessitamos
orar para encontrar-nos,
corajosamente, com nossa própria verdade
e sermos capazes de uma autocrítica
pessoal sincera.
Necessitamos
orar para não desanimarmos no
esforço de irmos nos libertando individual e coletivamente de todo aquilo que
nos impede de sermos mais humanos.
Necessitamos
orar para libertar-nos de nossa própria
solidão interior e poder viver diante de um Pai, em atitude mais festiva,
agradecida e criativa.
Felizes
aqueles que, também nos dias atuais, sejam capazes de experimentar no mais
profundo de seu ser, a verdade destas palavras de Jesus: «Quem pede, está recebendo; quem procura, está encontrando; e, para
quem bate, se está abrindo».
REAPRENDER
A CONFIANÇA
Lucas
e Mateus recolheram em seus respectivos evangelhos umas palavras de Jesus que,
sem dúvida, ficaram muito gravadas em seus seguidores mais próximos. É fácil
que as tenha pronunciado enquanto se movia com seus discípulos pelas aldeias da
Galileia pedindo algo para comer, buscando acolhida ou chamando à porta dos vizinhos.
Provavelmente,
nem sempre recebem a resposta desejada, porém Jesus não se desanima. A sua confiança no Pai é absoluta. Os seus seguidores hão de aprender a confiar
como ele: «pedi e recebereis;
procurai e encontrareis; batei e vos será aberto». Jesus sabe o que está
dizendo, pois sua experiência é esta: «quem
pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá».
Se
temos algo a reaprender de Jesus, nestes tempos de crise e desconcerto em sua
Igreja, é a CONFIANÇA. Não como uma
atitude ingênua daqueles que se tranquilizam esperando tempos melhores.
Menos ainda, como uma postura passiva e
irresponsável, mas como o comportamento mais evangélico e profético de
seguir hoje Jesus, o Cristo. De fato, ainda que seus três convites apontem para a mesma atitude básica de confiança em
Deus, sua linguagem sugere diversos matizes.
«PEDIR» é a atitude própria do pobre
que necessita receber de outro o que não pode conseguir com seu próprio
esforço. Assim Jesus imaginava seus
seguidores: como homens e mulheres pobres, conscientes de sua fragilidade e
indigência, sem traço algum de orgulho ou autossuficiência. Não é uma
desgraça viver em uma Igreja pobre, fraca e privada do poder. O deplorável é pretender seguir Jesus
hoje pedindo ao mundo uma proteção
que somente nos pode vir do Pai.
«PROCURAR» não é só pedir. É, ademais,
mover-se, dar passos para alcançar algo que se nos oculta porque está encoberto
ou escondido. Assim Jesus vê os seus
seguidores: como «buscadores do Reino de Deus e sua justiça». É normal
viver hoje em uma Igreja desconcertada diante de um futuro incerto. O estranho é não nos mobilizarmos para
buscar juntos caminhos novos para semear o Evangelho na cultura moderna.
«CHAMAR» é gritar para alguém que não
sentimos próximo, mas cremos que possa nos escutar e atender. Assim gritava
Jesus ao Pai na solidão da cruz. É explicável que se obscureça hoje a fé de não
poucos cristãos que aprenderam a dizê-la, celebrá-la e vivê-la em uma cultura
pré-moderna. O lamentável é que não nos
esforcemos mais por aprender a seguir hoje Jesus gritando Deus a partir das
contradições, conflitos e interrogações do mundo atual.
Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
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