«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 24 de julho de 2016

Um filme que faz refletir sobre o racismo

“Chocolate”
Filme aponta a cor da pele como um fator limitante e indelével na inserção social do indivíduo

Luiz Zanin Oricchio

O racismo é questão que está longe de ser liquidada, sabemos. Aqui e em outros lugares do mundo. Por isso, nada mais oportuno do que o lançamento da produção francesa Chocolate, de Roschdy Zem, sobre o famoso clown [palhaço] francês interpretado por Omar Sy (do filme “Intocáveis”).

Chocolat é um negro de origem cubana, que ganha a vida num circo mambembe. Quem nele vê potencial de palco (ou melhor, de picadeiro) é o palhaço Footit (vivido por James Thierrée, neto de Chaplin). Ambos formarão uma parceria que se tornará famosa, a união entre um clown branco e um “augusto”. O augusto é o que toma pancadas e serve de escada ao palhaço branco. Mas não é raro que as posições se invertam. Enfim, quem quiser uma lição informal sobre o tema veja o documentário fake Os Palhaços (I Clown), de Federico Fellini, um clássico.

A dupla formada chama a atenção de um empresário, que a leva a Paris. E à fama. E, claro, ao dinheiro. De certo modo, boa parte do desenvolvimento do filme será consagrada a mostrar a dificuldade de Chocolat em se relacionar com o êxito, uma questão secular envolvendo os que, vindos “de baixo”, se tornam “celebridades”, como dizemos hoje. Nunca sabem (e talvez jamais saibam) se os que deles se aproximam o fazem por suas próprias qualidades como seres humanos ou por simples interesse.

Chocolat vive esse problema, mesmo porque o exotismo de ser um negro de sucesso na Paris da belle époque o torna em particular atraente para as mulheres. Mais ainda porque na (boa) interpretação de Omar Sy, Chocolat é dono de uma consciência tanto aguda como perversa, que faz com que jamais se acomode com o que conquistou. E que não é pouco. No entanto, ele quer mais. 
OMAR SY e JAMES THIERRÉE
atores que interpretam, respectivamente, os palhaços Chocolate e Footit

Hoje, diríamos que não se acomoda na “zona de conforto” e busca além. Nada menos que seu reconhecimento como pessoa humana na fechada sociedade francesa, e como ator dramático. Deseja ser ninguém menos que o primeiro ator negro a representar Shakespeare na França. E num papel que, sente, foi escrito para ele pelo Bardo: o de Otelo.

Zem trabalha com afinco sobre a personalidade complexa de Chocolat, aliás, Rafael Padilla. No cume do êxito, Chocolat entrega-se à bebida e ao jogo. Mantém intacta sua ambição e desejo de reconhecimento - essa universal fraqueza humana. Sonhar alto fará sua grandeza e será a sua desgraça. Mas é por causa disso que lembramos dele ainda hoje, embora tenha andado esquecido nos últimos decênios e só agora volte a despertar interesse.

De acordo com os especialistas, o filme de Zem toma muitas liberdades em relação à biografia de Chocolat. Não é documentário. É obra de ficção. Debruça-se no essencial, sem cuidar do acessório. Inventa, quando necessário. E o essencial é mesmo o racismo latente ou explícito que prepara o terreno para a derrocada de um vencedor.

Dirigido de maneira nem tanto inventiva, Chocolate tem momentos muito bons, em especial os propiciados pela dupla Sy e Thierrée. Os bastidores do mundo do espetáculo francês da belle époque, entre os séculos 19 e 20, são retratados com sensibilidade. Mostram o lado cruel da fama, o reverso do êxito e da conquista.
ROSCHDY ZEM
Diretor e Produtor do filme "Chocolate"

 O filme aponta a cor da pele como um fator limitante e indelével na inserção social do indivíduo, mesmo quando este se destaca dos demais, como era o caso de Chocolat. É denúncia do racismo quando este mais uma vez mostra sua força e permanência.

São também momentos especiais do filme os diálogos entre Chocolat e um antigo companheiro de prisão, Victor (Alex Descas), dono de agudo senso político. Victor funciona como consciência crítica de Chocolat e mostra como ele ganha dinheiro estimulando o sadismo racista do público. É um espelho para Chocolat.

Outra sequência especial é quando Chocolat, rico e vestido à europeia, vai visitar uma espécie de zoológico humano no Jardin de Acclimatation, em Paris, e vê uma família de negros expostos à curiosidade pública como bichos selvagens. É como se olhasse para um outro espelho, que devolvesse uma imagem deformada de si mesmo, produzindo um misto de reconhecimento e estranheza.

Pena que esta ideia não tenha sido mais explorada neste filme forte em alguns momentos, mas que deixa passar algumas oportunidades de se mostrar mais incisivo.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Caderno 2 / Cinema – Domingo, 24 de julho de 2016 – Pág. C4 – Internet: clique aqui.

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