18º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 12,13-21

Naquele tempo:
13 Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.»
14 Jesus respondeu: «Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?».
15 E disse-lhes: «Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens.»
16 E contou-lhes uma parábola: «A terra de um homem rico deu uma grande colheita.
17 Ele pensava consigo mesmo: “O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”.
18 Então resolveu: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens.
19 Então poderei dizer a mim mesmo:
– Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!”
20 Mas Deus lhe disse: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”.
21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.»

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Tela em óleo: "Parábola do Rico Insensato" (1627) - autor:
Rembrant Harmenszoon van Rijn (1606-1669) - exposta na Gemäldegalerie, em Berlim, Alemanha

DESMASCARAR A INSENSATEZ

O protagonista da pequena parábola do «rico insensato» é um proprietário como aqueles que Jesus conheceu na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade os camponeses, pensando somente em aumentar o seu bem-estar. O povo temia-os e invejava-os: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais insensatos.

Surpreendido por uma colheita que ultrapassa suas expectativas, o rico proprietário se vê obrigado a refletir: «O que farei?». Fala consigo mesmo. Em seu horizonte não aparece ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que trabalham suas terras. Somente preocupa-lhe o seu bem-estar e sua riqueza: minha colheita, meus celeiros, meus bens, minha vida...

O rico não se dá conta de que vive fechado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza, esvaziando-o de toda dignidade. Somente vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar material: «Construirei celeiros maiores, neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: – Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!».

De repente, de maneira inesperada, Jesus faz intervir o próprio Deus. Seu grito interrompe os sonhos e ilusões do rico: «Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?». Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma loucura.

Amplia seus celeiros, mas você não sabe alargar o horizonte de sua vida. Aumenta a sua riqueza, porém diminui e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade, o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar nem compartilhar, somente agarrar. O que há de humano nesta vida?

A crise econômica que estamos sofrendo, é uma «crise de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os poderosos da terra... desejamos viver acima de nossas possibilidades, sonhando em acumular bem-estar sem algum limite e esquecendo-nos, cada vez mais, daqueles que se afundam na pobreza e na fome. Porém, imediatamente, a nossa segurança despencou.

Esta crise não é uma a mais. É um «sinal dos tempos» que devemos ler à luz do Evangelho. Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo de nossas consciências: «Basta de tanta insensatez e tanta falta cruel de solidariedade». Nunca superamos nossas crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda de nosso estilo de vida: temos de viver de maneira mais austera; temos de compartilhar mais o nosso bem-estar!

LOUCOS

Uma das características mais chamativas na pregação de Jesus é, talvez, a lucidez com que soube desmascarar todo o poder alienante e desumanizador que se pode encerrar nas riquezas.

A visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa de saber como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando de suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um Deus Pai e de irmão de todos os homens.

Por isso, o grito de alerta de Jesus: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro». Não pode um homem ser fiel a um Deus Pai, que busca a justiça, a solidariedade e a fraternidade de todos os homens e, ao mesmo tempo, viver dependente de seus bens e riquezas.

O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar..., porém, na medida em que escraviza a pessoa, fecha-a a Deus Pai, lhe faz esquecer sua condição de homem e irmão, e leva-a a romper a solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de uma homem dominado pela dinheiro.

A raiz profunda está em que as riquezas despertam em nós a necessidade insaciável de ter sempre mais. E, então, cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre mais e mais.

Jesus considera como verdadeira loucura, insensatez e alienação a vida daqueles proprietários da Palestina, obcecados por armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores. É uma verdadeira idiotice consagrar todas as energias, a imaginação, o tempo e os melhores esforços para adquirir e conservar nossas próprias riquezas.

Quando, ao final da vida, Deus se aproxima do rico para recolher a sua vida, revela-se que ele a desperdiçou. Sua vida carece de conteúdo e valor. «Louco... Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus».

Um dia, o pensamento cristão descobrirá com uma clareza que, talvez hoje nos é muito vaga, a profunda contradição que existe entre o espírito que anima o capitalismo e o espírito que anima o projeto de vida intencionado e querido por Jesus. E esta contradição não se resolve nem com a profissão de fé de quem vive com espírito capitalista nem com toda a beneficência que possam fazer com seus ganhos.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo C (Homilías) – Internet: clique aqui.

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