18º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Naquele tempo:
13 Alguém, do meio da multidão, disse a
Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.»
14 Jesus respondeu: «Homem, quem me
encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?».
15 E disse-lhes: «Atenção! Tomai cuidado
contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a
vida de um homem não consiste na abundância de bens.»
16 E contou-lhes uma parábola: «A terra
de um homem rico deu uma grande colheita.
17 Ele pensava consigo mesmo: “O que vou
fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”.
18 Então resolveu: “Já sei o que fazer! Vou
derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo,
junto com os meus bens.
19 Então poderei dizer a mim mesmo:
– Meu caro, tu tens uma boa reserva para
muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!”
20 Mas Deus lhe disse: “Louco! Ainda
nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu
acumulaste?”.
21 Assim acontece com quem ajunta
tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.»
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
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Tela em óleo: "Parábola do Rico Insensato" (1627) - autor: Rembrant Harmenszoon van Rijn (1606-1669) - exposta na Gemäldegalerie, em Berlim, Alemanha |
DESMASCARAR
A INSENSATEZ
O protagonista
da pequena parábola do «rico insensato»
é um proprietário como aqueles que Jesus conheceu na Galileia. Homens poderosos
que exploravam sem piedade os camponeses, pensando somente em aumentar o seu
bem-estar. O povo temia-os e invejava-os: sem dúvida eram os mais afortunados.
Para Jesus, são os mais insensatos.
Surpreendido
por uma colheita que ultrapassa suas expectativas, o rico proprietário se vê
obrigado a refletir: «O que farei?».
Fala consigo mesmo. Em seu horizonte não
aparece ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que trabalham suas
terras. Somente preocupa-lhe o seu bem-estar e sua riqueza: minha colheita,
meus celeiros, meus bens, minha vida...
O rico não se dá conta de
que vive fechado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza, esvaziando-o
de toda dignidade. Somente vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar
material: «Construirei celeiros maiores, neles
vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim
mesmo: – Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come,
bebe, aproveita!».
De
repente, de maneira inesperada, Jesus faz intervir o próprio Deus. Seu grito
interrompe os sonhos e ilusões do rico: «Louco!
Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu
acumulaste?». Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e
uma loucura.
Amplia seus celeiros, mas você não sabe alargar o horizonte de sua
vida. Aumenta a sua riqueza, porém diminui e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade, o amor generoso, a alegria nem a
solidariedade. Não sabe dar nem
compartilhar, somente agarrar. O que há de humano nesta vida?
A crise econômica que
estamos sofrendo, é uma «crise de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os
poderosos da terra... desejamos viver
acima de nossas possibilidades, sonhando em acumular bem-estar sem algum limite
e esquecendo-nos, cada vez mais, daqueles que se afundam na pobreza e na fome.
Porém, imediatamente, a nossa segurança despencou.
Esta crise não é uma a mais.
É um «sinal dos tempos» que devemos ler à luz do Evangelho. Não é difícil escutar a
voz de Deus no fundo de nossas consciências: «Basta de tanta insensatez e tanta falta cruel de solidariedade».
Nunca superamos nossas crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda de nosso estilo de vida: temos de viver de maneira mais austera; temos de
compartilhar mais o nosso bem-estar!
LOUCOS
Uma
das características mais chamativas na pregação de Jesus é, talvez, a lucidez com que soube desmascarar todo o
poder alienante e desumanizador que se pode encerrar nas riquezas.
A
visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa de saber como adquirimos
nossos bens e como os usamos. O risco de
quem vive desfrutando de suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um
Deus Pai e de irmão de todos os homens.
Por
isso, o grito de alerta de Jesus: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».
Não pode um homem ser fiel a um Deus Pai, que busca a justiça, a solidariedade
e a fraternidade de todos os homens e, ao mesmo tempo, viver dependente de seus
bens e riquezas.
O dinheiro pode dar poder, fama,
prestígio, segurança, bem-estar..., porém, na
medida em que escraviza a pessoa, fecha-a a Deus Pai, lhe faz esquecer sua
condição de homem e irmão, e leva-a a romper a solidariedade com os outros.
Deus não pode reinar na vida de uma homem dominado pela dinheiro.
A raiz profunda está em que
as riquezas despertam em nós a necessidade insaciável
de ter sempre mais. E, então, cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e
possuir sempre mais e mais.
Jesus
considera como verdadeira loucura, insensatez e alienação a vida daqueles
proprietários da Palestina, obcecados por armazenar suas colheitas em celeiros
cada vez maiores. É uma verdadeira idiotice
consagrar todas as energias, a imaginação, o tempo e os melhores esforços para
adquirir e conservar nossas próprias riquezas.
Quando,
ao final da vida, Deus se aproxima do rico para recolher a sua vida, revela-se
que ele a desperdiçou. Sua vida carece
de conteúdo e valor. «Louco... Assim
acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus».
Um
dia, o pensamento cristão descobrirá com uma clareza que, talvez hoje nos é
muito vaga, a profunda contradição que
existe entre o espírito que anima o capitalismo e o espírito que anima o
projeto de vida intencionado e querido por Jesus. E esta contradição não se
resolve nem com a profissão de fé de quem vive com espírito capitalista nem com
toda a beneficência que possam fazer com seus ganhos.
Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
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