«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

HOMILIA: 4º Domingo do Advento - Ano Litúrgico "B"

José Antonio Pagola *

Evangelho: Lucas 1,26-38


O PRESENTE DA NATIVIDADE


Quantos são os que acreditam, de verdade, na Natividade? Quantos são os que sabem celebrá-la no mais íntimo de seu coração? Estamos tão entretidos com nossas compras, presentes e ceias que torna-se difícil lembrar-se de Deus e acolhê-lo em meio a tanta confusão.


Nos preocupamos muito de que, nestes dias, não falte nada em nossos lares, mas a quase ninguém preocupa se ali falta Deus. Por outro lado, estamos tão cheios de coisas que não sabemos alegrar-nos da «proximidade de Deus».


E, mais uma vez, estas festas passarão sem que muitos homens e mulheres tenham podido escutar nada de novo, vivo e alegre em seu coração. E desmontarão o presépio e retirarão a árvore e as estrelas, sem que nada grande tenha renascido em suas vidas.


A Natividade não é uma festa fácil. Somente pode celebrá-la, em seu íntimo, quem se atreve a crer que Deus pode voltar a nascer entre nós, em nossa vida diária. Este nascimento será pobre, frágil, débil como foi aquele de Belém. Porém, pode ser um acontecimento real. O verdadeiro presente de Natal.


Deus é infinitamente melhor do que nós cremos. Mais próximo, mais compreensivo, mais terno, mais audaz, mais amigo, mais alegre, maior do que nós podemos suspeitar. Deus é Deus!


Nós, homens, não nos atrevemos a crer completamente na bondade e ternura de Deus. Necessitamos nos deter diante do que significa um Deus que se nos oferece como menino débil, vulnerável, indefeso, sorridente, irradiando somente paz, alegria e ternura. Uma alegria diferente seria despertada em nós, nos inundaria uma confiança desconhecida. Daríamo-nos conta de que não podemos fazer outra coisa senão dar graças.
Este Deus é maior que todos os nossos pecados e misérias. Mais feliz que todas as nossas imagens tristes e raquíticas da divindade. Este Deus é o melhor presente que se pode fazer aos homens.


Nosso grande erro é pensar que não necessitamos de Deus. Acreditar que nos basta um pouco mais de bem-estar, um pouco mais de dinheiro, de saúde, de sorte, de segurança. E lutamos para ter tudo isso. Tudo, menos Deus!


Felizes aqueles cujos corações são simples, limpos e pobres porque Deus é para eles. Felizes aqueles que sentem necessidade de Deus, porque Deus pode nascer ainda em suas vidas.
Felizes aqueles que, em meio à confusão e torpor destas festas, souberem acolher com coração crente e agradecido o presente de um Deus Menino. Para eles terá sido Natal.


PARA ONDE VAI O MUNDO?


Um filósofo assegurava que “o mundo não vai a nenhuma parte”. Opunha-se, assim, a partir de seu ponto de vista filosófico, a tantos homens e mulheres que, através dos séculos, se atreveram a esperar um futuro não somente melhor, mas novo.

Para onde vai o mundo com tanta dor? Esta pergunta não é nova. Repetiram-na de mil maneiras, os homens em momentos trágicos de guerra, terríveis flagelos de pestes, em meio ao exílio ou perante catástrofes naturais. Hoje, de novo, cristãos e não cristãos colocam-na nas profundezas de sua consciência: Para onde vai o mundo?



Não é uma questão arbitrária. Não é, tampouco, uma pergunta científica que busca satisfazer nossa curiosidade. É uma interrogação profundamente humana, pois, de alguma maneira, intuímos que nessa questão se encontra a vida e o destino último da humanidade.


A pergunta é despertada em nós quando nos informam sobre a velocidade com que se cortam as árvores nas selvas, ou da desertificação de grandes zonas da Terra; quando nos alertam sobre os danos irreparáveis dos acidentes nucleares, ou nos advertem dos efeitos perigosos de certo tipo de resíduos. Pode-se chamar de progresso a essa louca produção de bens que somente beneficia a uns poucos, enquanto provoca tanto dano à maior parte da humanidade?


Por detrás de tudo isso, está o ser humano, que não consegue conduzir as coisas por caminhos mais seguros. Por isso, a pergunta mais concreta é outra: Para onde nós, os humanos, vamos ao deixar sem pão e sem trabalho a tantas pessoas a fim de proporcionar bem-estar aos mais afortunados? Aonde vamos, mergulhando na fome e na miséria povos inteiros? Aproximamo-nos, assim, de alguma meta digna do ser humano? Caminhamos, desse modo, para uma plenitude?


Com este horizonte, não é estranho cair no pessimismo e em atitudes derrotistas. Por isso, são tão surpreendentes as palavras com as quais o anjo anuncia a Maria o nascimento do Salvador e que, no fundo, são dirigidas a toda a humanidade: “Alegra-te... O Senhor está contigo!”. É certo que o horizonte pode parecer sombrio; o ser humano pode destruir o mundo e provocar seu próprio colapso. Porém, ele não está sozinho. Deus está conosco. É possível a salvação.


Esta fé é a que sustenta o crente na esperança e o anima a trabalhar sempre por um mundo mais humano. Chegará um dia no qual, segundo as belas palavras do Apocalipse, Deus mesmo “enxugará as lágrimas de seus olhos, já não haverá morte nem pranto, não haverá gritos nem fatiga, pois o mundo velho terá passado” (Ap 21,4). Esta é a promessa de Deus aos homens. E os que tem fé confiam nele. Maria, a mãe do Salvador, é nosso modelo.


COM ALEGRIA E CONFIANÇA


O Concílio Vaticano II apresenta Maria, Mãe de Jesus Cristo, como “protótipo e modelo para a Igreja”, e a descreve como mulher humilde que escuta a Deus com confiança e alegria. Com essa mesma atitude, devemos escutar a Deus na Igreja hoje.

“Alegra-te”. É a primeira coisa que Maria escuta de Deus e que devemos escutar também hoje. Falta alegria entre nós. Com frequência, nos deixamos contagiar pela tristeza de uma Igreja envelhecida e desgastada. Jesus já não é uma Boa Notícia? Não sentimos alegria de ser seus seguidores? Quando falta a alegria, a fé perde frescor, a cordialidade desaparece, a amizade entre os fiéis se esfria. Tudo se torna mais difícil. É, portanto, urgente despertar a alegria em nossas comunidades e recuperar a paz que Jesus nos deixou em herança.



“O Senhor está contigo”. Não é fácil a alegria na Igreja de nossos dias. Ela somente pode nascer da confiança em Deus. Não estamos órfãos. Vivemos invocando, cada dia, a um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e busca sempre o bem de todo ser humano. Esta Igreja, às vezes tão desconcertada e perdida, que não consegue voltar-se ao Evangelho, não está sozinha. Jesus, o Bom Pastor, nos está buscando. Seu Espírito nos está atraindo. Contamos com seu alento e compreensão. Jesus não nos abandonou.


Com ele tudo é possível.
“Não temas”. São muitos os medos paralisam os seguidores de Jesus. Medo do mundo moderno e da secularização. Medo de um futuro incerto. Medo de nossa fraqueza. Medo da conversão ao Evangelho. O medo está nos causando muitos danos. Impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. Bloqueia-nos na conservação estéril do passado. Crescem nossos fantasmas. Desaparece o realismo sadio e a sensatez cristã. É urgente construir uma Igreja da confiança. A fortaleza de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas humilde.

“Darás à luz um filho e lhe porás o nome Jesus”. Também a nós, como a Maria, nos foi confiada uma missão: contribuir para trazer a luz em meio à noite. Não somos chamados a julgar o mundo, mas a semear esperança. Nossa tarefa não é apagar a mecha que se extingue, mas ascender a fé que, em não poucos, está querendo brotar: Deus é uma pergunta que humaniza.



A partir de nossas comunidades, cada vez mais pequenas e humildes, podemos ser fermento de um mundo mais sadio e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós aqueles que não nos atrevemos seguir a Jesus com alegria e confiança.

* José Antonio Pagola é sacerdote espanhol. Licenciado (= mestrado) em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1965), Diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no Seminário de San Sebastián e na Faculdade de Teologia do norte da Espanha (sede de Vitoria). Desempenhou o encargo de reitor do Seminário diocesano de San Sebastián e, sobretudo, o de Vigário Geral da diocese San Sebastián (Espanha). É autor de vários ensaios e artigos, especialmente o famoso livro: Jesus - Aproximação Histórica (publicado no Brasil pela Editora Vozes, 2010).

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - 14 de dezembro de 2011 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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