«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“A Igreja dos ‘não’ e do medo, onde não há pluralismo, deve acabar”

Entrevista de: 
José Manuel Vidal

José Manuel Vidal [foto abaixo] é doutor em Ciências da Informação e licenciado em Sociologia e Teologia. Vidal, que dirige o Religión Digital, portal de referência para a informação religiosa em língua espanhola, falou no Fórum Gogoa sobre os 50 anos de recepção e distanciamento do Concílio Vaticano II

A entrevista é de Javier Pagola e está publicada no jornal Noticias de Navarra, 18.12.2011

Como descreveria a situação da Igreja na Espanha?


Na Igreja católica da Espanha é cada vez mais difícil respirar. O controle e o poder da alta hierarquia são muito diferentes e aqueles que o exercem não admitem o pluralismo, de tal forma que aqueles que não são dos seus não saem na foto. Há setores submetidos a uma tensão aguda o que fez com que diminuísse a qualidade de boa parte do pensamento religioso e teológico. Existe também uma onda mística de resistência ativa no laicato, clero e ordens religiosas onde muitas pessoas se desvelam para construir uma Igreja plural e servidora da humanidade. A mais alta hierarquia pretende dominar, com os movimentos conservadores, todo o espaço eclesial que ocupam e herdam por cooptação. As autoridades estão escoradas em posições de poder muito conservadoras. É decisiva a nomeação de bispos cinzentos, doutrinariamente seguros, particularmente em aspectos de moral sexual, e que aspiram a subir no escalão, quando o normal deveria ser que permanecessem longo tempo nas igrejas locais que lhes são confiadas.


O que aconteceu durante os 50 anos posteriores ao Concílio?


Viemos de uma primavera luminosa, iludida e sedutora. Às vezes excessiva, mas primavera. Em todo o caso, em nosso país a recepção do Concílio se fez muito rapidamente, em apenas cerca de 10 anos, ao passo que em outros países europeus a mudança se vinha fazendo, paulatinamente, desde cerca de 40 anos atrás. Nos tempos dos cardeais Tarancón e Díaz Merchán e do núncio Dadaglio, a Igreja na Espanha adotou uma linha conciliar e, separando-se marcadamente de qualquer opção partidarista, converteu-se em uma referência moral e foi uma das instituições melhor avaliadas. A partir de 1982, ano da visita do papa Wojtyla e dos gritos de “totus tuus”, e depois com os cardeais Suquía e Rouco e do núncio Tagliaferri, vieram os tempos de uma “longa noite obscura de pedra”, de combate contra o laicismo, perseguição de teólogos progressistas, e alinhamento claro da hierarquia com a direita política. Hoje, a Igreja é uma das instituições pior avaliadas pela população de nosso país, e será muito difícil que recupere aquele capital simbólico, de prestígio e consideração como referência moral, que teve antes.


O acontece aqui tem muito a ver com o que acontece em Roma. Observa-se algum sinal de mudança?


Comecemos por dizer que a Igreja católica esteve muito pior em tempos de Pio XII, e veio João XXIII, o Papa bom que quis colocar a Igreja em diálogo com o mundo e fazer suas as alegrias e as esperanças da humanidade. Desde já, Bento XVI não é João Paulo II. O Papa polonês rodeou-se de colaboradores que vinham unicamente dos movimentos conservadores: Comunhão e Libertação, Opus Dei, ou Caminho Neocatecumenal (os kikos). O Papa Ratzinger chamou à cúria membros de ordens religiosas: salesianos, jesuítas, franciscanos, que são muito mais abertas em seu pensamento e em sua práxis. Mas seria preciso impulsionar uma mudança combinada de cima e de baixo. Na Conferência Episcopal, quando acabar o mandato de Rouco, pode haver um relevo que gire para posições mais suaves. É preciso acabar com a Igreja dos ‘não’ e do medo, muito vinculada a uma opção política partidarista conservadora. Mas, sobretudo, esta é a hora para que homens e mulheres laicos, bem formados, se corresponsabilizem, digam aos seus pastores que as coisas devem mudar e pressionem, de boas e eficazes maneiras, para consegui-lo. É particularmente intolerável a situação das mulheres na Igreja. Só me ocorre o nome de uma outra instituição onde não se aceita as mulheres: o Comitê Olímpico Internacional.


Como está a informação no interior da Igreja?


Os canais de TV confessionais e os semanários diocesanos respondem fielmente às diretrizes de uma conferência episcopal muito conservadora. Há um grupo notável de revistas e editoras de informação e pensamento católicas em uma linha de fé comprometida, progressista e libertadora, mas atravessam momentos econômicos difíceis e várias delas orientam sua produção para a América Latina, onde encontram outras possibilidades de mercado. Mas, no que tange à informação religiosa em geral, o manual do inquisidor veio abaixo nos últimos 10 anos, com a difusão da internet, que é um meio livre, eficaz, rápido e direto de intercomunicação. Há páginas excelentes de informação religiosa.


Como os meios de comunicação tratam a informação religiosa?


Creio que os meios de comunicação locais e autônomos dão boa entrada a uma informação plural sobre a Igreja. É uma pena que as Igrejas locais sejam às vezes lentas ou que lhes falte iniciativas para apresentar à sociedade as muitas boas coisas que fazem ou os testemunhos exemplares de serviço, às vezes abnegado, de muitas pessoas ou grupos cristãos. Seria preciso encontrar manchetes expressivas e ser capaz de divulgar notícias de maneira sucinta, por exemplo, usando apenas os 140 caracteres de uma mensagem no Twitter. E cuidar da relação com os meios de comunicação, os quais a Igreja nunca deveria olhar com medo, como se fossem inimigos.


E o que acontece nos meios de comunicação estatais?


À parte de que existe um anticlericalismo certo, os meios de comunicação estatais costumem ser alérgicos a dar informações de tipo religioso porque suscitam polêmica ou bloqueiam suas caixas eletrônicas, pois há um grupo muito bem organizado e ativista de pessoas ultraconservadoras que mandam correios. Mas a informação, em geral, converteu-se em conteúdo banal, mercadoria ou espetáculo, e a informação religiosa pouco importa. Quando eu mesmo, como redator do jornal El Mundo, devo informar sobre o contexto e o conteúdo de uma encíclica do Papa, me concedem, no máximo, 15 linhas. O jornal de referência, o El País, maltratou durante muito tempo a informação religiosa. De alguns anos para cá vem retificando um pouco sua linha, após compreender que para uma parte importante dos leitores de seu espectro ideológico de centro-esquerda esses temas lhe interessam, e não atende apenas à atualidade imediata, mas retoma temas que respondem a uma atualidade mais difusa, em reportagens, informes ou entrevistas. Seu redator especializado, Juan G. Bedoya, borda a redação de seus artigos, mas o El País segue sendo seletivo e enviesado ao referir-se a temas religiosos. Não se atende unicamente a critérios jornalísticos e profissionais; às vezes parece que há uma vontade decidida de provocar a Igreja católica. Outro problema é que nos meios de comunicação de nosso país são cada vez mais escassos os jornalistas profissionais bem formados sobre o fato religioso e a informação é confiada a bolsistas ou principiantes muito inexperientes.


A tradução é do Cepat.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - 20/12/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505193-a-igreja-dos-nao-e-do-medo-onde-nao-ha-pluralismo-deve-acabar-entrevista-de-jose-manuel-vidal

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