«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Nas mãos do pastor

KENNETH SERBIN *

Sob a reclusa liderança de Bento XVI, a maior organização religiosa do mundo se afasta do diálogo com a modernidade

Enquanto os sinais de descontentamento das ruas dominavam boa parte das manchetes em 2011, a maior organização religiosa do mundo parecia definhar.


Quase sete anos de papado de Bento XVI e a Igreja Católica Romana, com quase 1,2 bilhão de fiéis e mais de 400 mil padres, continua lutando com profundas dificuldades internas.


A liderança de Bento XVI tem sido fraca. Seria difícil rivalizar com o papa viajante João Paulo II (morto em abril de 2005), com seu carisma, imensa popularidade e papel crucial que teve nos acontecimentos mundiais, incluindo o colapso do comunismo. Mas Bento XVI, que prefere temas intelectuais a assuntos pastorais e administrativos, pouco fez para criar uma marca ou oferecer nova inspiração para os católicos. Sua visita em 2007 ao Brasil ilustrou como é mínima a atração que ele exerce sobre as massas.


O papa completará 85 anos em abril de 2012, mas em 2011 já mostrou sinais de estar afrouxando o passo. O Vaticano precisou instalar uma plataforma rolante para poupá-lo da fadiga que sente ao caminhar apenas cem metros para chegar ao principal altar da  Basilica de São Pedro.Um artigo recente referiu-se a ele como “o papa de meio período”.


Bento XVI [foto ao lado] admitiu que a renúncia é uma medida legítima a ser adotada por um papa incapacitado, embora ainda não tenha dado a entender que optará por essa alternativa. Independentemente disso, em 2012 devem surgir especulações sobre sua saúde e nos bastidores a campanha para a sucessão provavelmente vai esquentar.


O mal-estar parece ter permeado a Igreja, talvez como ocorreu nos anos 50, quando os católicos de todo o mundo sentiram a necessidade de uma renovação espiritual e institucional, mas depararam com uma resistência tenaz da hierarquia. Esse mal-estar acabou levando à convocação do Concílio Vaticano II (1962–1965), que reescreveu a constituição da Igreja e implementou a mais abrangente reforma nos 2 mil anos de história da instituição.


Como perito em teologia no Vaticano II, o então padre Joseph Ratzinger participou da elaboração dessas reformas, embora tenha rejeitado as correntes mais radicais que se desenvolveram nos anos 60 e 70, incluindo a simpatia pelo marxismo. Como se sabe, durante o papado de João Paulo II ele conduziu um ataque contra a teologia da libertação e impôs 11 meses de silêncio a seu ex-aluno e um dos líderes desse movimento, o frei Leonardo Boff.


O ano de 2012 marca o 50º aniversário do início do Concílio Vaticano II, e contudo a Igreja ainda se debate para assimilar grande parte do espírito e letra das suas reformas. As tensões entre tradição e modernidade (agora, a pós-modernidade) continuam a governar a Igreja. João Paulo II fez o pêndulo oscilar para o passado e Bento XVI tem reforçado essa tendência – às vezes adotando mesmo práticas anteriores ao Vaticano II, tais como o retorno da missa em latim para os fiéis ultratradicionalistas.


Ao centrar o foco em tais assuntos, a Igreja se afastou de temas importantes abordados no Concílio Vaticano II: o diálogo com a modernidade e o compromisso com as realidades políticas e sociais do presente.


Como resultado, a Igreja hoje parece presa ao passado e não chegou a um acordo no tocante a questões monumentais. Suas 740 mil religiosas superam significativamente o número de padres, mas as mulheres não têm, basicamente, nenhum poder no Vaticano ou em outras áreas da hierarquia. A ideia da ordenação das mulheres continua sendo tabu, como também a de padres casados, duas mudanças que poderiam aliviar a escassez crônica e mundial de padres.


A Igreja também não chegou a reconhecer o fato de que, embora proíba que gays sejam ordenados padres, uma grande proporção do clero na verdade é constituída por gays, que formaram a própria subcultura dentro da instituição. Não existem estudos estatísticos no Brasil, mas nos Estados Unidos estima-se que o número de padres gays chegue a 50% do clero.


Em vez de resolver tais assuntos à luz das tendências modernas, à medida que 2012 se aproximava, a Igreja continuou se afundando nos escândalos de abusos sexuais cometidos por padres. Uma década se passou desde o primeiro grande escândalo revelado pela mídia. A hierarquia acobertou tais abusos por pelo menos 70 anos, talvez ainda mais. No mais recente capítulo dessa sórdida história, as tensões aumentaram entre o governo irlandês e o Vaticano por causa do acobertamento desses abusos.


Embora os padres não tenham cometido mais abusos do que homens em outras profissões, o escândalo transformou-se num desastre de relações públicas para o Vaticano.


Para muitas pessoas dentro da Igreja, um Concílio Vaticano III deveria ser convocado para consolidar as reformas preconizadas no Vaticano II e resolver outros problemas abrasadores enfrentados pelo catolicismo. À medida que as manobras pelo controle do Vaticano avançarem em 2012, qualquer sugestão no sentido de uma perspectiva mais liberal pode provocar apelos se não de um novo concílio, pelo menos no sentido de um debate mais sério sobre esses assuntos.


Em 2012, os católicos vão marchar nas ruas em apoio a tais mudanças. Mas, se elas não se verificarem e a liderança continuar titubeante, eles provavelmente continuarão caminhando silenciosamente, permanecendo católicos de nome, mas cada vez menos envolvidos com a Igreja.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.

* KENNETH SERBIN [foto acima] - CHEFE DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE SAN DIEGO, AUTOR DE PADRES, CELIBATO E CONFLITO SOCIAL: UMA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL (COMPANHIA DAS LETRAS).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Suplemento ALIÁS - Domingo, 25 de dezembro de 2011 - Pg. J8 - Internet: http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/nas-maos-do-pastor-kenneth-serbin.html

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