«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

HOMILIA: NATAL DO SENHOR – Ano “B”

Evangelho: Lucas 2,1-14

José Antonio Pagola*

NUM PRESÉPIO


Segundo o relato de Lucas, é a mensagem do Anjo aos pastores que nos oferece as chaves para ler, a partir da fé, o mistério que se encerra num menino nascido em estranhas circunstâncias na periferia de Belém.
É de noite. Uma claridade desconhecida ilumina as trevas que cobrem Belém. A luz não desce sobre o lugar onde se encontra o menino, mas envolve aos pastores que escutam a mensagem. O menino permanece oculto na obscuridade, num lugar desconhecido. É necessário fazer um esforço para descobri-lo.


Estas são as primeiras palavras que ouvimos: “Não tenhais medo. Trago-vos uma Boa Notícia: a grande alegria para todo o povo”. É algo muito grande o que aconteceu. Todos têm motivos para alegrarem-se. Esse menino não é de Maria e José. Nasceu para todos. Não é somente de uns privilegiados. É para todas as pessoas.


Os cristãos não podem monopolizar essas festas. Jesus é de quem o segue com fé e daqueles que o esqueceram, daqueles que confiam em Deus e dos que duvidam de tudo. Ninguém está só diante de seus medos. Ninguém está só em sua solidão. Há Alguém que pensa em nós.


Assim proclama o mensageiro: “Hoje vos nasceu um Salvador: o Messias, o Senhor”. Não é o filho do imperador Augusto, dominador do mundo, celebrado como salvador e portador da paz graças ao poder de suas legiões. O nascimento de um poderoso não é uma boa notícia em um mundo onde os fracos são vítimas de todo tipo de abusos.


Este menino nasce num povo submetido ao Império. Não tem cidadania romana. Ninguém espera em Roma seu nascimento. Porém, ele é o Salvador que necessitamos. Não estará a serviço de nenhum César. Não trabalhará para nenhum império. Somente buscará o reino de Deus e sua justiça. Viverá para tornar a vida mais humana. Nele, este mundo injusto encontrará a salvação de Deus.


Onde está este menino? Como podemos reconhecê-lo? Assim disse o mensageiro: “Aqui tendes o sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. O menino nasceu como um excluído. Seus pais não lhe puderam encontrar um lugar acolhedor. Sua mãe lhe deu à luz sem ajuda de ninguém. Ela própria se valeu, como pôde, de panos para envolvê-lo e deitá-lo numa manjedoura.


Nesta manjedoura Deus começa a sua aventura entre os homens. Não o encontraremos nos poderosos, mas entre os débeis. Não está no grande e espetacular, mas no pobre e pequeno. Devemos escutar a mensagem: vamos a Belém; voltemos às raízes de nossa fé. Busquemos a Deus onde ele se encarnou.



A NOSTALGIA DA NATIVIDADE

O Natal é uma festa plena de nostalgia. Canta-se a paz, porém não sabemos construí-la. Desejamo-nos felicidade, porém cada vez mais parece difícil ser feliz. Compramos presentes uns aos outros, porém o que precisamos é de ternura e afeto. Cantamos a um menino Deus, porém em nossos corações se apaga a fé. A vida não é como queríamos, mas não sabemos torná-la melhor. 


Não é somente um sentimento de Natal. A vida inteira está impregnada de nostalgia. Nada preenche, inteiramente, nossos desejos. Não há riqueza que possa proporcionar paz total. Não há amor que responda plenamente aos desejos mais profundos. Não há profissão que possa satisfazer completamente nossas aspirações. Não é possível sermos amados por todos.


A nostalgia pode ter efeitos muito positivos. Permite-nos descobrir que nossos desejos vão além do que hoje podemos possuir ou desfrutar. Ajuda-nos a manter aberto o horizonte de nossa existência para algo maior e mais pleno que tudo aquilo que conhecemos. Ao mesmo tempo, nos ensina a não solicitar da vida aquilo que ela não pode nos dar, a não esperar das relações o que não nos podem proporcionar. A nostalgia não nos deixa viver aprisionados somente a este mundo.


É fácil vivermos sufocando o desejo de infinito latente em nosso ser. Fechamo-nos numa couraça que nos torna insensíveis ao que possa haver mais além do que vemos e tocamos. A festa de Natal, vivida a partir da nostalgia, cria um clima diferente: nestes dias se capta melhor a necessidade de repouso e segurança. Por pouco que alguém entre em contato com o seu coração, intui que o mistério de Deus é nosso destino último.


Se alguém é crente, a fé o convida, nestes dias, a descobrir esse mistério, não num país estranho e inacessível, mas num menino recém nascido. É simples e surpreendente! Temos de aproximar-nos de Deus como nos aproximamos de uma criança: de modo suave e sem ruídos; sem discursos solenes, com palavras simples nascidas do coração. Encontramo-nos com Deus quando lhe abrimos o melhor que há em nós.


Apesar do tom frívolo e superficial que se cria em nossa sociedade, o Natal pode aproximar-nos de Deus. Ao menos, se o vivemos com fé simples e coração puro.


Tradução: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

* José Antonio Pagola é sacerdote espanhol. Licenciado (= mestrado) em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1965), Diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no Seminário de San Sebastián e na Faculdade de Teologia do norte da Espanha (sede de Vitoria). Desempenhou o encargo de reitor do Seminário diocesano de San Sebastián e, sobretudo, o de Vigário Geral da diocese San Sebastián (Espanha). É autor de vários ensaios e artigos, especialmente o famoso livro: Jesus - Aproximação Histórica (publicado no Brasil pela Editora Vozes, 2010).

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - 21/12/2011 - 17h17 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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