«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 2 de novembro de 2013

Análise dos verdadeiros ganhadores do petróleo do pré-sal

Paulo Cesar
22-10-1013


"A Noruega já arrecada duas vezes mais que o Brasil no regime de concessão e, provavelmente, vai continuar arrecadando duas vezes mais que no regime de partilha. (...) 
O grande derrotado no “leilão” de Libra é a educação e a saúde, pois agora fica até difícil saber quanto essas áreas vão receber."

Na verdade não houve leilão, pois não houve concorrência. Ninguém quis oferecer mais excedente em óleo para a União e, ainda assim, correr o risco de perder a disputa. A Petrobras para arrefecer os “nacionalistas” aumentou a participação de 30% para 40%, os chineses, a Total e Shell acharam melhor dividir o grande tesouro de Libra e ficar, cada um, com 20%, sem correr risco. Afinal, 20% de um tesouro é, também, um tesouro.

Ficou bom para todo mundo, menos para o povo brasileiro, pois 41,65% não é o excedente em óleo mínimo para a União. Com petróleo a US$ 60 por barril e produção média dos poços de 4 mil barris por dia, o excedente em óleo da União é de apenas 9,93%; com o petróleo a US$ 80 por barril, o excedente será de 15,2%. Ou seja, o risco é todo do Estado brasileiro; os contratados sempre ganham.

Em 2009, o campo de Marlim pagou uma participação especial de 30,7%. Se operasse nos termos do edital do regime de partilha de Libra, o excedente em óleo seria de 9,93%. O regime de concessão pagaria três vezes mais que o regime de partilha de Libra. Ressalte-se, contudo, que os royalties no regime de partilha (15%) são maiores que na concessão (10%). No entanto, no cômputo geral, o regime de partilha pode pagar menos para o Estado brasileiro que o regime de concessão, em função do desempenho dos poços e dos preços.

Na verdade, tecnicamente, o edital de Libra é muito ruim!

A Noruega já arrecada duas vezes mais que o Brasil no regime de concessão e, provavelmente, vai continuar arrecadando duas vezes mais que no regime de partilha.

O grande derrotado no “leilão” de Libra é a educação e a saúde, pois agora fica até difícil saber quanto essas áreas vão receber. Os recursos para educação e saúde vão depender muito da produção média dos poços e do preço do petróleo no mercado internacional.

O REGIME DE CONCESSÃO era muito ruim em termos de arrecadação estatal, mas era, pelo menos, consistente tecnicamente. Libra certamente pagaria uma participação especial próxima de 40% da receita líquida, pois vão ser produzidos, no mínimo, 8 bilhões de barris no período do contrato. O que gerará uma produção média da ordem de 1 milhão de barris por dia.

No REGIME DE PARTILHA, o percentual do Estado pode variar de 9,93% a 45,56%, o que representa uma média de 27,8%. Esse percentual é muito menor que o percentual da participação especial no regime de concessão.

O propalado percentual de 75% de receita líquida para o Estado é irreal, basta analisar o balanço de Petrobras em relação ao Imposto de Renda - IR e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL. No ano de 2012, a Petrobras pagou de R$ 15,6 bilhões de royalties, 15,9 bilhões de participação especial e R$ 4,85 bilhões de IR e CSLL.

Se os 75% de Libra fossem verdade, o campo de Lula, que vai gerar uma participação especial próxima de 40%, sem nenhum risco para a União, pois não depende de produção média dos poços e do preço do petróleo, deverá gerar mais de 75%, já que a Petrobras tem uma participação bem maior que em Libra e a participação especial garantida. Em síntese, Lula deve gerar mais arrecadação para o Estado brasileiro que Libra. Dá para acreditar?

Se o regime de concessão é muito ruim, o edital de Libra consegue ser ainda pior! Só que o regime de concessão foi concebido pela “direita” e o regime de partilha pela “esquerda”. A verdadeira esquerda deveria defender o monopólio executivo da União ou a contratação da Petrobras como prestadora de serviços em Libra. Só assim, teríamos receitas estratégicas para as áreas sociais.

Em 2012, a receita operacional líquida da Petrobras com a produção de petróleo e gás natural foi da ordem de R$ 150 bilhões e o pagamento de royalties, participação especial e IR/CSLL foi de R$ 36,25 bilhões. Assim, o retorno por barril para o Estado brasileiro, em 2012, foi de 24,2%. Na Noruega, esse retorno é, em média, de 80%.

Haja IR e CSLL para elevar o retorno do barril do Estado brasileiro de 24,2% para uma participação governamental de 75%.

A figura abaixo mostra a contribuição econômica da Petrobras em 2011 e 2012.

Observação: sempre é bom lembrar que o ICMS, CIDE e PIS/COFINS são pagos pela sociedade brasileira. A Petrobras simplesmente repassa para os preços. Ela é simplesmente uma “repassadora” desses tributos.

Na verdade, o IR e a CSLL não são pagos por campo. No balanço, as empresas utilizam todos os artifícios contábeis imagináveis e inimagináveis para pagar menos tributos. Daí a famosa frase de que são somente os assalariados pagam corretamente o IR.

Os “vencedores” do leilão de Libra vão usar artifícios contábeis semelhantes ao da Vale [maior mineradora do Brasil e uma das maiores do mundo], por exemplo, que tem uma lucratividade enorme no setor mineral e paga baixíssimos valores de IR e CSLL. A participação governamental teórica é acima de 32%, na prática é abaixo de 8%, ou seja 4 vezes menor. O lucro líquido e o custo dos produtos vendidos da Vale, mostrados abaixo, não têm nada a ver com a rentabilidade das jazidas de minério de ferro em produção. Balanço e Demonstração de Resultado são um mundo à parte.
Mas o papel e o discurso fácil aceitam tudo. Quem quiser acreditar em Papai Noel que acredite.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 24 de outubro de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/524958-analise-dos-verdadeiros-ganhadores-do-petroleo-do-pre-sal

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