«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

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Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

"A natureza não nos dará outra chance"

Entrevista com Hans Joachim Schellnhuber

Daniela Chiaretti
Valor Econômico
18-11-2013
Hans Joachim Schellnhuber - físico alemão

O físico alemão Hans Joachim Schellnhuber acredita que o acordo internacional do clima, previsto para ser fechado em Paris, em 2015, será uma plataforma que pode conter ações individuais de países, de grupos de países e até de empresas. "Se for um bom acordo, abrigará muitas iniciativas", diz ele, que chefia o comitê científico que assessora o governo da premiê alemã Angela Merkel e é também conselheiro de José Manuel Barroso, presidente da União Europeia.

Fundador e diretor do renomado Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK, na sigla em alemão), Schellnhuber diz que até Merkel aceita a ideia de que o acordo climático tem de ter um enfoque de emissões iguais per capita. "Todas as pessoas no planeta têm o mesmo direito de usar a atmosfera" com suas emissões, admite ele.

O problema é que não há mais muito "espaço" na atmosfera para emissões de gases-estufa, se se quiser manter o aquecimento da Terra em 2ºC até 2100. Este "espaço" na atmosfera já teria sido muito ocupado pelas emissões de gases-estufa dos países ricos e, mais recentemente, dos países emergentes.

O cientista alemão concorda com a ideia das responsabilidades históricas, defendida pelo Brasil, mas acha injusto recuar até a Revolução Industrial e pretender que os países ricos não emitam mais para dar vez ao mundo em desenvolvimento. A seguir trechos da entrevista que ele concedeu por telefone, de seu escritório em Potsdam.

Eis a entrevista.

O que acontece se nada acontecer, isto é, se não houver avanços na proteção do clima?

Hans Joachim Schellnhuber: Esta não pode ser uma opção. Basta ver o que está acontecendo nas Filipinas e em todos os lugares. A natureza não nos dará outra chance. Se não conseguirmos um acordo climático com algum conteúdo, os cálculos que fizemos indicam que estamos rumando par um aumento de 4°C na temperatura até o final deste século. Nas regiões tropicais, que serão muito impactadas, isso significa que uma onda de calor que nas condições climáticas atuais ocorre uma vez a cada um milhão de anos, poderia, perto de 2100, acontecer a cada dois anos.

Que tipo de acordo podemos ter em 2015?

H. J. Schellnhuber: A conferência de Lima, em 2014, será muito mais importante que a de Varsóvia. Ali devemos ter um texto para discutir. Em Paris, a minha expectativa é que tenhamos pedaços de um acordo. Não será talvez algo que irá limitar o aquecimento global a 2°C, mas uma moldura para todos os tipos de ação, de países individualmente, de grupos de países, de empresas, etc. Se for um bom acordo abrigará muitas iniciativas.

Poderá haver consenso?

H. J. Schellnhuber: Provavelmente será uma plataforma, não um acordo, em Paris. Em um acordo todos têm de concordar por consenso, então sempre se chega ao menor denominador comum. Talvez seja melhor ter um acordo não por consenso, mas por maioria simples. Aí se poderia avançar.

O conflito é sobre como dividir o espaço de carbono que sobra na atmosfera. Os chineses apoiam a ideia das emissões per capita. O Brasil quer a responsabilidade histórica. Como o sr. vê esse assunto?

H. J. Schellnhuber: Como conselheiros do governo alemão, fizemos um estudo sobre o conceito do orçamento de carbono [é a ideia de quanto cabe ainda de gases-estufa na atmosfera para se manter o aquecimento em 2°C até 2100]. Em princípio, até Angela Merkel apoia que temos de ter algum tipo de enfoque de emissões iguais per capita. Todas as pessoas neste planeta têm o mesmo direito de usar a atmosfera, equidade é um conceito importante. O problema é que o espaço de carbono que resta na atmosfera não é muito grande. Se formos incluir todas as emissões históricas, desde a Revolução Industrial, países como EUA, Reino Unido e Alemanha não podem mais emitir. Acho que temos de ter um enfoque de emissões iguais per capita, mas começando em 1990. Foi quando o primeiro relatório do IPCC foi publicado e a ciência deixou claro que havia um problema.

Se alguém construiu uma ferrovia em 1800 na Inglaterra, não dá para culpá-lo pelo CO2 que emitiu porque ninguém sabia disso na época. Acho que devemos ter o enfoque que o Brasil propõe, mas os países industrializados deveriam ter a chance de ter um pequeno espaço na atmosfera para emitir. Acho que esse é o caminho para avançarmos. Equidade é importante em qualquer acordo. Se as pessoas acham que um acordo não é justo, não vão aceitá-lo nunca.

O que esperar desta conferência na Polônia?

H. J. Schellnhuber: Cada país é diferente, com interesses diferentes. Na União Europeia [UE] temos 28 países com geografia, indústria e recursos diferentes. A Polônia está numa posição difícil. Apoia as ambições europeias de proteção do clima e em favor de energias renováveis, mas, por outro lado, 95% da sua geração de energia vem do carvão. Os poloneses acham que, para crescer, vão depender por muitas décadas dos combustíveis fósseis.

Para os outros países europeus a história é outra?

H. J. Schellnhuber: Muitos países europeus acreditam que o futuro das nossas economias, no longo prazo, está baseado num mix diferente de energias e que o carvão não terá futuro. Quando se é o país-anfitrião dessas conferências, deve-se facilitar avanços nas negociações. A Polônia está num dilema: tem que obter algum progresso na reunião, mas sem ferir os seus interesses.

A UE está debatendo o seu plano de clima e energia para 2030. O bloco pode ajudar a Polônia a ter mais energia renovável?

H. J. Schellnhuber: Essa é uma questão interessante. Na Alemanha estamos formando o novo governo neste momento e estão em discussão metas mais ambiciosas para energia renovável. O problema, na Europa, é que no longo prazo não temos mais muitos recursos naturais. Não há muito mais petróleo no Mar do Norte, nem temos gás como os EUA ou a China. Temos de nos mexer em dois pilares: energia renovável e alta eficiência de geração e consumo. Temos de usar menos energia primária por unidade de PIB. A Europa não tem alternativa a não ser a economia de baixo carbono. Não só em função da proteção do clima, mas também pela sua própria sustentabilidade.

A Polônia espera ajuda de dentro do bloco, não só financeira, mas também tecnológica, uma demanda justa porque inovação é chave nessa equação. Mas, como em um casamento, os poloneses têm que aceitar que não podem ter só benefícios. Têm que se abrir para a energia renovável.

A Polônia tem potencial?

H. J. Schellnhuber: Sim. Tem vento, biomassa, pode ter energia solar no sul. Muitos empregos podem ser criados na nova indústria. Mas a opinião pública polonesa só ficará convencida disso se perceber oportunidades econômicas.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 18 de novembro de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/525771-qa-natureza-nao-nos-dara-outra-chanceq-diz-cientista

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