«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

19º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 14,22-33 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Permitir que Jesus conduza a sua Igreja é deixar-se conduzir por um amor universal

O amor universal de Deus por toda a humanidade, que Jesus veio manifestar com a sua vida e a sua mensagem, encontra resistência precisamente no grupo dos discípulos que não aceita que o amor de Deus seja para toda a humanidade, inclusive os pagãos; eles acham que o privilégio pertença a Israel. 

Mateus 14,22-23a: «[Depois da multiplicação dos pães,] Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós.»

Assim nos escreve Mateus em seu Evangelho, no capítulo 14, do versículo 22 em diante: “Logo depois” (a expressão “Depois da multiplicação dos pães” é um acréscimo ao texto bíblico pelo lecionário da Igreja), o depois está relacionado com a partilha dos pães e peixes na terra de Israel, “Jesus mandou”, porque Jesus deve forçar os discípulos? Porque vai contra a resistência deles, eles não querem saber, tem que obrigar, fazer o quê? “Que os discípulos entrassem na barca” — a barca é a imagem da comunidade cristã e, portanto, da Igreja. “E seguissem, à sua frente” — agora entendemos o porquê da resistência — “para o outro lado do mar”. Quando no Evangelho encontramos esta expressão “a outra margem/outro lado do mar”, indica sempre a margem oriental do lago da Galileia, ou seja, a terra pagã. Os discípulos não têm intenção de ir para terras pagãs e, sempre que Jesus os convida ou os empurra para irem para terras pagãs, acontece um incidente. “Enquanto ele despediria as multidões. 

Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte”, a montanha tem o artigo definido e indica a montanha que apareceu anteriormente, ou seja, a montanha das bem-aventuranças onde Jesus, de fato, anunciou sua mensagem de amor universal; “a sós/à parte”, esta expressão é usada pelos evangelistas para indicar que há resistência, oposição ou incompreensão por parte dos discípulos.

“Para orar”, é a primeira vez que Jesus reza – neste Evangelho, Jesus ora duas vezes – e sempre em situações de dificuldade e perigo para os seus discípulos, isso se dá aqui e no Getsêmani. 

Mateus 14,23b: «A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho.»

A noite chegou”, é estranho que o evangelista repita o que acabara de dizer alguns versículos antes, no versículo 15, por que o faz? “Ao entardecer/ao anoitecer” (grego: opsías) é o mesmo termo que indica a última ceia de Jesus (cf. Mt 26,20); portanto, este amor universal é o que Jesus manifestou com o dom de si mesmo por toda a humanidade. “E Jesus continuava ali, sozinho”, sabe-se que está sozinho: os discípulos não estão lá, a multidão foi dispensada, mas o evangelista sublinha a solidão não só física, mas espiritual de Jesus, os discípulos o acompanham, mas eles não o seguem! 

Mateus 14,24: «A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário.»

Este vento é a resistência dos discípulos ao convite de Jesus para ir para a terra pagã; eles não querem saber disso, não querem saber de levar esse amor universal à terra pagã, onde Jesus então repartirá os pães novamente (cf. Mt 15,29-39), eles acham que isso deve ser e permanecer um privilégio de Israel. Por isso, o vento estava contra, são os mesmos discípulos. 

Mateus 14,25-27: «Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”»

Pelas três horas da manhã”, o detalhe refere-se a um salmo, o Salmo 46[45],6, onde se indica que Deus ajuda ao amanhecer, “Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar”, porque o evangelista nos escreve que Jesus caminha sobre o mar? O mar era a imagem do caos e só Deus poderia domá-lo; no livro de Jó (cf. Jó 38,16), Deus é aquele que caminha sobre as ondas do mar. Assim, caminhar sobre o mar indica a manifestação da condição divina, da plenitude da condição divina por parte de Jesus. “Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar” — vendo, portanto, a condição divina — “ficaram apavorados”, por que eles reagem assim? Porque a religião havia cavado um abismo entre Deus, distante, inacessível, e o homem; era impensável, inimaginável que Deus pudesse se manifestar em um homem e que um homem pudesse ter a condição divina; pois isso “e disseram: ‘É um fantasma’”, então é impossível para eles que um homem também possa ser Deus. “E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: ‘Coragem! Sou eu’”. Jesus com esta expressão — “eu sou/sou eu” — que é a mesma resposta que Deus deu a Moisés no famoso episódio da sarça ardente (cf. Ex 3,6.14), reivindica a plenitude da condição divina: “Eu sou. Não tenhais medo!”. 

Mateus 14,28-29a: «Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. E Jesus respondeu: “Vem!”»

Então Pedro”, este discípulo é apresentado apenas com o apelido negativo, que indica sua obstinação, sua teimosia, deixando assim claro que ele está fazendo algo que não está em harmonia com Jesus. “Disse-lhe: ‘Senhor, se és tu’”, exatamente como o diabo no deserto: “se tu és” (Mt 4,3.6), Pedro faz o papel do satanás tentador, tanto que, mais tarde, Jesus o repreenderá chamando-o de “satanás”. “Se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”: Pedro também quer a condição divina. “E Jesus respondeu: ‘Vem!’”, a condição divina não é exclusiva de Jesus, está à disposição de todos os que a acolhem. 

Mateus 14,29b-31: «Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?”»

Ficou com medo e, começando a afundar”, por que nos diz o evangelista esta expressão? Jesus, na conclusão do Sermão da Montanha (Mt 5—7), onde havia anunciado esse amor universal de Deus pela humanidade, havia falado de uma casa que foi construída sobre a areia; vindo ventos furiosos e águas, a casa desabou (cf. Mt 7,26-27). Isso porque as palavras de Jesus não haviam se enraizado na pessoa; eis que esta é a figura de Pedro, por isso ele afunda. “Ele gritou: ‘Senhor, salva-me!’ Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro”, é interessante que Jesus chamou Simão, convidou-o para ser pescador de homens, e em vez disso é ele quem deve ser pescado!E lhe disse: ‘Homem fraco na fé’”, é a segunda vez que Jesus tem que repreender por falta de fé, “por que duvidaste?” Ele acreditava que a condição divina viesse por uma ordem divina, a condição divina não é alcançada exceto por meio de perseguição, de oposição e, muitas vezes, pelo sacrifício da própria vida

Mateus 14,32-33: «Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”»

Assim que subiram no barco, o vento se acalmou”, esse espírito contrário cessa assim que a comunidade volta a receber Jesus. “Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele”; reencontraremos este verbo no monte da ressurreição, que é o mesmo monte das bem-aventuranças, onde os discípulos encontram o ressuscitado. “Dizendo: ‘Verdadeiramente, tu és’”, e aqui está a novidade, “Filho de Deus”. Eles não dizem “o filho de Deus” (como está na tradução do lecionário festivo brasileiro); o filho de Deus indicava o Deus da tradição, aquele que exterminava os pecadores, aquele que detestava os pagãos. Jesus é Filho de Deus, uma forma completamente nova de manifestar Deus e sua filiação, e qual é? O de um amor universal do qual ninguém pode ser excluído

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo

 

«Eles amam te dizer: “Fique dentro dos limites”. Mas existe algo melhor do outro lado.»

(John Clayton Mayer: nascido em 1997 — cantor e compositor, guitarrista e produtor musical norte-americano)

É forçoso e triste, ao mesmo tempo, admitir que muito das crises e dificuldades pelas quais a Igreja (a barca de Jesus) passa nos tempos atuais tem sua origem no interior da própria Igreja! Sim, essa é a mais pura verdade! Assim como os discípulos, no tempo de Jesus, resistiam à proposta de uma salvação, de um amor que fossem destinados a todos, judeus e não judeus, do mesmo modo, a Igreja resiste, nos tempos atuais, a admitir que sua crise, seus problemas advêm, em grande parte, de sua mediocridade e medo internos! Contentamo-nos com uma Igreja que não evangeliza, de verdade, mas, somente, sobrevive graças às devoções populares e à forte sacramentalização promovida desde há muito tempo! 

É mais fácil viver de rituais, de cultos, de práticas tradicionais e simplistas do que buscar anunciar o Cristo que os Evangelhos nos revelam! Afinal, existe somente um modo de falar de Deus, é falando de seu Filho! Pois, conhecermos e compreendermos o ser mesmo de Deus, nos é impossível! E como Deus não é uma ideia, não é um conceito, um “objeto mental” criado por nós, pois ele, em muito, nos ultrapassa e nos supera, ele é fato, ele é existência, ele é aquilo que é (cf. Ex 3,14), não lhe restou outra alternativa a não ser “encarnar-se” em um ser humano, no caso, Jesus, o Nazareno. Deus se humaniza a fim de tornar-se reconhecível em Jesus! Isso é fundamental para a nossa fé e para a nossa vivência cristã. 

Portanto, somente seguindo Jesus, estando com Jesus, ouvindo e obedecendo Jesus poderemos aprender o que Deus é para nós. E os seus primeiros discípulos reconheceram que Deus é para nós “Filho de Deus” conforme professam ao final do Evangelho de hoje: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!” (Mt 14,33). Eles chegaram a essa conclusão após experimentarem, em si mesmos, que:

«Em Jesus, aprendemos que Deus nos busca na noite, quando nos sentimos assustados, quando temos medo, quando nos vemos desamparados e perdidos... É Deus que se faz presente no amigo que nos ajuda, na situação desesperadora da qual saímos, na bondade das pessoas boas que nos ajudam» (José María Castillo). 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus, às vezes nos enchemos de entusiasmo e esquecemos que tu és a fonte da nossa alegria. Nos momentos de tristeza não te procuramos nem queremos a tua intervenção milagrosa. Agora, sabemos que tu nunca nos abandonas, que não precisamos ter medo. A oração também é a nossa força. Aumenta a nossa fé, estamos dispostos a arriscar nossas vidas pelo teu Reino. Amém.»

(Fonte: SCORRANO, Tiberio, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 484.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni –19ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 9 agosto 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 27/07/2023).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.