«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

21º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 16,13-20

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)

Famosa gruta que dá acesso a um grande abismo - "portão do inferno" - em Cesareia de Filipe, atual BANIAS (Israel)
 

Somos pedra de construção ou de tropeço na edificação do Reino de Deus?

O Evangelho deste domingo é Mateus capítulo 16, versículos 13 a 20, também muito importante para a história da Igreja. Qual é o contexto? Jesus alertou seus discípulos sobre o “fermento dos fariseus” (cf. Mt 16,11-12), uma doutrina religiosa baseada no deus da lei, do sacrifício, do mérito, do puro e do impuro. Jesus quer que eles entendam que Deus é um pai que é só amor. Para isso, leva-os ao extremo norte do país -— além do mais, em terras pagãs — a Cesareia de Filipe, cidade em construção, onde existe uma das três nascentes do rio Jordão e sobretudo onde existia um grande abismo, uma caverna, que se acreditava ser a entrada para o reino dos mortos. 

Mateus 16,13-14: «Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e aí perguntou a seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”.»

Aqui neste lugar – portanto longe da influência dos fariseus – Jesus pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” E o evangelista contrasta o filho do homem – o homem que tem a condição divina – e os homens que não a têm. A resposta é decepcionante e é consequência da confusão que os discípulos têm em suas cabeças e da pregação que fizeram. Na verdade, falam de todos os personagens do passado, dos grandes reformadores; alguns dizem João Batista porque se pensava que os mártires seriam ressuscitados; outros Elias, o famoso profeta que viria antes do messias; outros Jeremias ou alguns dos profetas. Todas respostas que dizem respeito ao passado, não compreenderam a novidade de Jesus: são todos personagens reformadores das instituições, mas Jesus não veio para reformar as instituições, mas para eliminá-las. O que se acreditava permitir a comunhão com Deus, para Jesus, é o que a impedia. 

Mateus 16,15-16: « Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.»

Então Jesus pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?Simão Pedro responde por todos afirmando que: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Finalmente um dos discípulos, Simão Pedro, compreende que Jesus não é o filho de Davi, mas o Filho de Deus. O filho de Davi é aquele que se assemelha ao famoso rei Davi, que impôs o reino tirando a vida de inimigos, o Filho de Deus é aquele que dará a vida até pelos seus inimigos. Então, finalmente, Simão Pedro entende, mas veremos que essa situação será por pouco tempo. 

Mateus 16,17: «Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.»

E Jesus o elogia, o chama de bem-aventurado, é a bem-aventurança dos puros, dos que veem a Deus, e o chama: “Simão, filho de Jonas”. Por que filho de Jonas? Quem é Jonas? Porque Jonas é o único profeta que fez exatamente o oposto do que Deus lhe havia ordenado. Deus lhe ordenou que pregasse a conversão em Nínive e Jonas foi para outro lugar; então, eventualmente, ele se converte. Desse modo, chamando-o de filho de Jonas, Jesus fotografa Pedro para fazer entender qual será o seu itinerário, sempre em oposição a Jesus, mas depois ele finalmente se converterá. E Jesus afirma que foi o Pai quem lhe revelou isto. 

Mateus 16,18: «Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la.»

E aqui está um versículo muito difícil, mas não tanto pelo conteúdo quanto pelas traduções. Vejamos: “eu te digo que tu és Pedro” — Pedro é a tradução do termo grego “petros” que indica uma pedra, um tijolo ou, em qualquer caso, algo adequado para uma construção — prossegue o evangelista “e sobre esta pedra” —, e o evangelista usa o termo “petra” que não é o feminino de “petros”, mas significa rocha. É um pouco como em português, se eu disser “o porto” e “a porta”, não é que um substantivo seja masculino e o outro seja feminino. Então Jesus diz: “Tu és um tijolo sobre esta rocha que eu sou”. Jesus já havia falado desta rocha, é aquela onde o homem constrói a sua casa e quando chegam as chuvas, as enchentes e os ventos, ela fica parada (cf. Mt 7,24-25). A rocha é a fé em Jesus ou Jesus mesmo, por isso esta distinção entre “petros” que significa tijolo e “petra”, a rocha sobre a qual construir, é importante.

Vendo que finalmente um dos discípulos compreendeu que ele é o Filho de Deus que comunica vida, Jesus diz: “Eis que tu és o primeiro tijolo com o qual construir”, edificarei a minha Igreja. O termo grego “ekklesia” significa assembleia dos convocados. E as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. O local onde Jesus e seus discípulos se encontram é importante: dissemos que existia esta famosa caverna que se acreditava ser a entrada para o reino dos mortos; pois bem Jesus está dizendo: “Eis que as forças da morte nunca terão poder sobre uma comunidade fundada no Deus vivo”, a vida será sempre mais forte que a morte! 

Mateus 16,19: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.»

Prossegue Jesus, dizendo: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus”; é útil lembrar que “Reino dos Céus” em Mateus não significa a vida após a morte, mas a sociedade alternativa que Jesus veio inaugurar. Essas chaves não são como Pedro ficou na imaginação de muitos, como sendo as chaves que ele abre e fecha o Reino de Deus. Não são isso! Qual é, então, o significado dessas chaves? Aquele a quem eram entregues as chaves da cidade era o responsável pela saúde e bem-estar das pessoas que ali se encontravam; este é o significado de ter as chaves: cuidar, proteger.

Então Jesus usa uma expressão típica dos rabinos: “tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. É a linguagem rabínica usada para indicar o ensino, interpretando a lei declarando a doutrina verdadeira ou não. Os escribas eram aqueles que tinham as chaves da ciência. Portanto, Jesus assegura que uma comunidade que se baseia na fé no Deus vivo e, portanto, coloca em primeiro lugar o objetivo da criação, o bem, o bem-estar do homem, o ensinamento desta comunidade é endossado pelo céu. 

Mateus 16,20: «Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias.»

Mas há algo que não deu certo! Jesus ordenou aos seus discípulos que não contassem a ninguém que ele era o Cristo, por quê? Se Pedro respondeu certo, por que não divulgar? Porque Pedro não expressou a resposta totalmente correta! Ele afirmou que Jesus era “o Messias/o Cristo”. Empregando o artigo definido “o”, indica o messias da tradição, aquele que será o vencedor, aquele que conquistará o poder. Então Jesus ordena não esparramar essa falta notícia a ninguém, pois ele começará a explicar qual é a realidade do verdadeiro messias. E aqui haverá o confronto com Pedro, aquele que foi chamado de “pedra de construção”, depois de alguns minutos, se tornará pedra de tropeço (cf. Mt 16,23)! 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Que eu te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido!»

(Santo Agostinho: 354 a 430 — bispo, filósofo, teólogo e Doutor da Igreja)

Tinha razão, Jesus, em querer afastar seus discípulos do ensinamento e da mentalidade dos fariseus e saduceus, conforme relata Mateus antes da passagem do Evangelho deste domingo (cf. Mt 16,6-12). Jesus já havia alertado seus seguidores: “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo repuxa o tecido e o rasgão fica maior ainda” (Mt 9,16). É melhor deixar totalmente de lado algumas mentalidades e costumes, do contrário eles não permitirão que o novo, a novidade aconteça! A proposta do Reino de Deus trazida por Jesus não frutificaria, caso as pessoas seguissem com a velha mentalidade. 

E uma das questões fundamentais desse Reino trazido pelo Cristo, refere-se ao exercício da autoridade. Na Igreja, isso é importante ter claro, não deve haver “poder”, mas “autoridade”, que é a função de quem cuida, administra, aconselha, protege e ajuda a preservar os verdadeiros objetivos. Ao invés do poder, Jesus propôs a diaconia, ou seja, o serviço: “Afinal, quem é o maior: o que está à mesa, ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). Por isso, na Igreja e no Reino de Deus o maior, quem pode mais, quem mais aparece é aquele que mais serve! Jesus inverte os valores da sociedade de seu tempo! Devido a isso, seus seguidores tiveram — e têm ainda hoje (!) — tanta dificuldade em compreender e aceitar o tipo de Messias, o tipo de Salvador que ele foi e é! 

Pedro, e por conseguinte os papas, não tem um poder absoluto nem concentra em si o poder de abrir ou fechar a porta do céu e do inferno para as pessoas! As famosas “chaves” que Jesus dá a Pedro têm a ver com o cuidado, a proteção e a promoção do bem-estar que compete ao líder da Igreja. Assim como Deus é um Pai, o Papa, cuja palavra significa, justamente “pai”, tem por função cuidar e pastorear a Igreja com amor paternal e, inclusive, maternal! Se isso vale para o Papa, tanto mais vale para os bispos, padres e religiosos de modo geral. 

Jesus quis um líder que não deixasse as “portas do inferno/Hades” (Mt 16,18) prevalecerem sobre o “Povo de Deus”, a sua Igreja, os seus seguidores verdadeiros. Não há perigo maior para a nossa Igreja e as demais que se autoproclamam de cristãs, do que fazer como Pedro: diante de Cristo (dentro de nossos templos) dar uma resposta formalmente exata (“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” – Mt 16,16), porém, nas ações, decisões e atitudes do dia a dia, viver em busca de poder, dinheiro, influência, glória, fama e prazeres (“Deus te livre, Senhor! Que isso nunca te aconteça!” – Mt 16,22). Uma Igreja assim, cristãos e cristãs desse modo, jamais conseguirão ser pedras de construção do Reino de Deus! 

Cesareia de Filipe, atual BANIAS (norte de Israel)

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Eu te amo, meu Deus, em teus dons; amo-te no meu nada, porque até nisso compreendo a tua infinita sabedoria; amo-te nos muitos, variados ou extraordinários acontecimentos com que acompanhas a minha vida... Amo-te em tudo, seja na angústia ou na paz; porque não procuro, nem nunca procurei, as tuas consolações; mas tu, Deus das consolações. Portanto, nunca me glorifiquei ou me alegrei com o que tu me fizeste sentir em teu amor Divino somente pela graça gratuita, nem me angustiei e perturbei se lançada na aridez e na insignificância.»

(Fonte: Beata Teresa Scrilli, O.Carm., Autobiografia, 62 apud: Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 503.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 21ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 23 agosto 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 23/08/2023).

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