«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

29º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 22,15-21 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Não dar aos homens o que é de Deus

Após uma série de palavras violentas com que Jesus acusou os líderes espirituais do povo de serem ladrões e assassinos — ladrões porque se apoderaram do povo e assassinos porque usaram a violência — há agora um contra-ataque por parte destes líderes, os quais, porém, têm um problema. Jesus é seguido por tantas multidões que há necessidade de desacreditá-lo.

O evangelho que lemos, no capítulo 22 de Mateus, versículos 15 a 21, é o primeiro de uma série de ataques com os quais os líderes religiosos, os líderes espirituais tentarão desacreditar Jesus, prepararão armadilhas para difamá-lo e desacreditá-lo perante as pessoas. 

Mateus 22,15: «Naquele tempo, os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra.»

Em grego, no início desse versículo, encontramos a expressão “então”. Esse “então” relaciona esse episódio à denúncia que Jesus fez com a parábola dos convidados do casamento que recusaram esse convite por motivos de interesse. A conveniência é o que determina as ações dos líderes religiosos. Então os fariseus foram embora e “fizeram um plano”, esta expressão, nos Evangelhos, sempre tem um significado negativo de uma conspiração contra Jesus. Como fica evidente aqui: “para apanhar Jesus em alguma palavra”. 

Mateus 22,16a: «Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes, para dizerem a Jesus:»

Portanto, agora há uma série de armadilhas preparadas para Jesus, mas das quais ele se sairá bem, inclusive, armando armadilhas para seus acusadores. Aqui, há uma surpresa: a presença de herodianos junto aos discípulos dos fariseus! Os fariseus e os herodianos se odiavam porque os herodianos eram do partido de Herodes, o qual era um rei fantoche inventado pelos romanos, e os fariseus odiavam esse rei. Havia grande inimizade entre eles, mas agora enfrentam um perigo comum. Jesus é perigoso tanto para os fariseus quanto para os herodianos, então eles se unem para eliminá-lo. 

Mateus 22,16b: «Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências.»

Mestre: prestemos atenção a este título, no Evangelho de Mateus ele está sempre na boca dos adversários de Jesus ou daqueles que lhe são hostis, mas faz parte daquela linguagem curial usada para suavizar o que querem dizer.

“... ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros”: esta afirmação é verdadeira, por isso reconhecem que Jesus afirma o caminho de Deus segundo a verdade, mas por quê? O contrário é que, por outro lado, Jesus os acusou de que tudo o que fazem é para serem admirados, essa é a diferença. Tudo o que os fariseus fazem é para serem glorificados, para serem admirados, tudo o que Jesus faz não é para sua própria conveniência, mas para a conveniência do bem do ser humano. Quando se coloca o valor do ser humano como princípio absoluto que regula a nossa existência, não se olha para ninguém, não se importa com a opinião das pessoas. 

Mateus 22,17: «Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”»

E aqui está a armadilha. Eles se dirigem a Jesus usando o termo no imperativo, então, não é um pedido, mas uma imposição. O que era o tributo a César? Desde que um procurador romano foi nomeado para a Judéia, no ano 6 d.C., havia impostos para todos, homens e mulheres, dos 12 aos 65 anos de idade. A pergunta é tendenciosa. Por quê? Porque justamente por causa do pagamento desse tributo, houve muitas revoltas. Basta pensar no famoso Judas, o Galileu, que se rebelou contra esse imposto. Pois bem, a pergunta é uma armadilha, porque lhe questionam se é lícito ou não pagar o tributo a César, não esqueçamos que estamos dentro da área do templo, desse modo, se Jesus responde, se prejudica!

Porque se Jesus disser: “Sim, é lícito pagar tributo a César” vai contra a lei segundo a qual o único Senhor do povo, o único reconhecido como tal, é Deus. Se, ao contrário, diz: “Não, não paguemos”, então mostra-se um subversivo, um rebelde, como Judas, o Galileu, havia sido. Estamos dentro do templo, há guardas e Jesus pode ser preso imediatamente.

Portanto, a resposta de Jesus prejudica a si mesmo, quer diga que é a favor ou contra o pagamento desse tributo. Assim, os fariseus e herodianos prepararam uma armadilha para Jesus; ele, por sua vez, preparou uma armadilha para eles. 

Mateus 22,18-19: «Jesus percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha? Mostrai-me a moeda do imposto!” Levaram-lhe então a moeda.»

À queima-roupa, Jesus pede a moeda com a qual se pagava o imposto a César. E eles lhe deram um denário. Mas, no templo, era terminantemente proibido trazer moedas romanas, porque segundo a lei expressa no livro do Deuteronômio, nos mandamentos (cf. Dt 5,8 > 4,15-20), é proibido fazer qualquer figura humana.

Portanto, no lugar mais sagrado de Jerusalém, o templo, era absolutamente proibido trazer moedas, moedas romanas, que tivessem efígies humanas. Na entrada do templo havia cambistas que trocavam moedas romanas por moedas permitidas naquele local. Mas o interesse – esta é a queixa que o evangelista faz – é o verdadeiro deus desses fariseus. Eles, que são obcecados pela ideia do puro e do impuro, que são meticulosos, que são escrupulosos, quando se trata de dinheiro não são tão sutis! Porque, no templo, no lugar mais sagrado, carregam uma moeda que, aos olhos da religião, é considerada impura. Mas por interesse próprio, por conveniência, eles passam por cima de tudo isso. 

Mateus 22,20-21a: «E Jesus disse: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?” Eles responderam: “De César”.»

Aqui está, então, a armadilha de Jesus quando ingenuamente lhe apresentam um denário. Na verdade, o denário romano trazia, de um lado, a imagem de Tibério com a inscrição “César, filho do divino Augusto, pontífice máximo”, e no verso, a mãe do imperador representada como a deusa da paz (veja a imagem abaixo). Portanto, duas figuras humanas estavam representadas na moeda. 

Mateus 22,21b-22: «Jesus então lhes disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.»

Perguntaram se era lícito pagar ou não, Jesus não responde se é lícito pagar ou não, usa outro verbo que é “dar”, ou melhor, “restituir/devolver”. É como se Jesus lhes dissesse: “Se não quereis o domínio dele, não deveis usar os benefícios dele, então esse dinheiro não é vosso, devolvei-o a César!”

Mas, aquilo que Jesus diz em seguida é aonde o evangelista quer chegar: “E a Deus o que é de Deus”. O que é que eles devem restituir para Deus, e que é de Deus? Na parábola dos vinhateiros assassinos (cf. Mt 21,33-44), Jesus fez menção aos líderes religiosos e aos líderes espirituais que, por interesse, tomaram posse da vinha do Senhor, colocaram-se entre Deus e o povo, impondo as suas tradições, as suas leis, escondendo e obscurecendo o amor de Deus pelo seu povo.

Portanto, o que Jesus, no fundo, está dizendo é que, por um lado, deve-se desconhecer o senhorio de César, mas restituir aquele de Deus que foi usurpado pelos fariseus!

A estas palavras, comenta o evangelista (cf. Mt 22,22), ficaram estupefatos, maravilhados e, deixando-o, foram-se embora. Eles vão embora, mas para retornar depois. De fato, voltarão com um deles, com um perito, com um doutor da lei (cf. Mt 22,34-40). E esta é apenas a série de ataques contra Jesus que os fariseus, herodianos, saduceus e doutores da lei farão. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«A humanidade tem dupla moral: uma que prega, mas não pratica, outra que pratica, mas não prega.»

(Bertrand Russell: 1872 a 1970 ― matemático, filósofo e historiador britânico)

Tudo em excesso faz mal! Disso todos nós sabemos. No entanto, quando se trata de fé, de religião, parece que não aplicamos essa máxima de sabedoria! Em nome de normas, costumes e tradições religiosas já se cometeu e segue-se cometendo muitos exageros, muitas barbaridades: guerras, violência, machismo, misoginia, intolerâncias, discriminações, autoflagelação, sacrifícios penosíssimos e muitas outras ações fruto do fanatismo com que se vive a fé em Deus. Por detrás de toda pessoa fanática, exageradamente religiosa, esconde-se alguém aprisionado em suas próprias convicções e crenças! Alguém que divide o mundo, somente, em dois lados: os que pensam e agem como eu e os outros que são diferentes de mim e não possuem as mesmas ideias que eu, portanto, eles são os meus inimigos! No fundo, essa pessoa se fecha em suas convicções absolutistas e inquestionáveis para não ter que lidar com a sua própria fragilidade! 

É exatamente isso que constatamos no Evangelho deste domingo, ou seja, dois grupos com posições radicais se unem para derrubar Jesus, cujas ideias, mas, sobretudo, práticas contrariavam e questionavam o modo de vida deles. Estamos falando dos:

* fariseus: achavam que, por serem religiosos fervorosos, podiam decidir pelos outros em nome de seu Deus! Inclusive, eram contrários ao pagamento do tributo ao césar ― título que se dava aos imperadores romanos ―, pois somente a Deus, na realidade, ao templo, se deveria pagar impostos.

* Herodianos: eram os partidários do vice-rei Herodes Antipas, o qual gerenciava a Judeia em nome do imperador romano. Esses, aliás, eram favoráveis ao importo ao césar, uma vez que a autoridade de seu chefe provinha de Roma.

A conveniência une os hipócritas! Apesar de divergirem sobre a legitimidade de se pagar o imposto aos romanos, convergiam em eliminar Jesus, uma vez que sua vivência e atitudes os incomodavam! 

Com sua resposta ― “Devolvei, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” ― Jesus reafirma a soberania de Deus sobre tudo e sobre todos! Somente ele é o Senhor do universo! Isso é o mesmo que afirmar:

“Não deis a nenhum césar o que somente é de Deus, isto é, a vida de seus filhos”.

Ora, era isso, justamente, o que faziam Herodes Antipas e seus partidários, ao compactuarem com o imperialismo romano! Eis a hipocrisia! Por outro lado, os fariseus que desejavam e aparentavam ser tão religiosos, ortodoxos, zelosos pela tradição e os bons costumes, estavam com uma moeda romana, o denário, em seus bolsos, justamente em um local sagrado, o templo de Jerusalém, onde somente Deus poderia ser adorado e onde imagem alguma poderia estar presente! Por conveniência e interesse próprio infringiam a lei que tanto diziam defender e preservar! 

Portanto, tomemos cuidado para não perdermos nosso tempo e nossas vidas na observância de algumas práticas e tradições religiosas secundárias, esquecendo-nos do principal, daquilo que conta, de verdade, para Cristo: a dedicação e a luta pela justiça e implantação do Reino de Deus neste mundo

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Pai, obrigado por dar-me a presença de seu Filho Jesus nas palavras luminosas deste Evangelho; obrigado por me fazer ouvir sua voz, por abrir meus olhos para reconhecê-lo; obrigado por me colocar em seu caminho para segui-lo e entrar em sua casa. Obrigado porque posso habitar com ele, nele e porque ele, contigo, está em mim. Obrigado por, mais uma vez, ter me chamado, fazendo nova a minha vida. Faz de mim, por favor, um instrumento do teu amor: que eu nunca pare de anunciar o Cristo que vem; que eu não me envergonhe, não me feche, não me apague, mas me torne cada vez mais feliz, para levar a ele e a Ti, os irmãos que me fazes encontrar todos os dias. Amém.»

(Fonte: MESTERS, Carlos, O.Carm. 29ª Domenica del Tempo Ordinario: orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 571.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 29ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 18 ottobre 2020 – Internet: clique https://www.studibiblici.it/videoomelie27.html (Acesso em: 17/10/2023).

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