«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

3º Domingo do Advento – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 11,2-11 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)

Jesus: messias misericordioso que promove a vida

O evangelista Mateus escreve para uma comunidade de judeus e apresenta a figura de Jesus segundo as linhas da vida e das obras de Moisés. Moisés libertou seu povo, fazendo com que Deus lançasse as dez pragas, as famosas dez pragas do Egito, contra aqueles que se opunham à libertação dos judeus da escravidão. Pois bem, o evangelista apresenta Jesus que não realiza dez pragas, dez castigos contra os seus adversários ou inimigos, mas dez obras com as quais comunica a vida, e também comunica a vida aos seus rivais, aos seus inimigos. Tudo isso desconcerta, porque a atividade de Jesus não é a esperada, aquela que tinha sido anunciada por João Batista - lembremo-nos do Messias carrasco que tem o machado na mão, corta toda a árvore que não dá fruto e joga no fogo, esse Messias que viria para dividir o povo em puros e impuros, bons e maus. E, de fato, é o próprio João que entra em crise. Vamos ler o Evangelho de Mateus, capítulo 11, versículos 2 a 11. 

Mateus 11,2a: «Ora, João Batista estando na prisão,...»

O evangelista dá por conhecida a prisão de João Batista, embora na realidade ele nos conte isso apenas no capítulo 14. Por que João está na prisão? Segundo Mateus, é porque João Batista havia acusado Herodes de se casar com a mulher de seu irmão, mas há um historiador da época, Flávio Josefo, que nas “Antiguidades Judaicas” nos dá uma leitura política do encarceramento e depois do assassinato de João Batista. Flávio Josefo escreve que Herodes estava preocupado com o sucesso, com as pessoas que seguiram o Batista e diz: “Herodes, portanto, decidiu que teria sido muito melhor atacar com antecedência e se livrar dele, antes que sua atividade levasse a uma revolta”. Portanto, para Josefo, há uma razão política. 

Mateus 11,2b-3: «... ouviu falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?»

João está na prisão, diríamos na super prisão de uma fortaleza construída por Herodes, o Grande, na costa oriental do Mar Morto, Maqueronte. “Ouviu falar das obras do Cristo”, todas são obras com as quais Jesus, o Messias, comunica vida também aos pecadores, até aos inimigos. É estranho que apareçam os discípulos de João Batista, vê-se que eles não aceitaram Jesus como aquele a seguir. O pedido de João Batista tem todo o sabor de uma excomunhão,

... porque este Jesus não é aquele Messias que João Batista tinha anunciado, aquele Messias carrasco, que vinha cumprir o castigo de Deus.

Então João Batista, em profunda crise, envia-lhe esta excomunhão: “És tu, aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. Jesus não responde à controvérsia com argumentos teológicos ou bíblicos, mas com obras

Mateus 11,4-5: «Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recobram a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho.»

O que estais ouvindo e vendo”, isto é, o que vocês experimentam. E, aqui, Jesus enumera seis obras, seis ações, o número seis recorda os dias da criação, portanto Jesus, em extensão com o Deus da criação, continua comunicando vida, e são todas ações com as quais se comunica, retribui ou alegra a vida das pessoas. É bom recordar que os leprosos não eram considerados doentes, mas amaldiçoados, punidos.

E qual é a boa notícia que os pobres esperam? O fim da pobreza.

Jesus extrai esta lista das ações do Messias, conforme haviam sido anunciadas pelo profeta Isaías, em dois capítulos de seu livro, no capítulo 35 e no capítulo 61, mas, em ambas as passagens, Isaías também havia anunciado a vingança de Deus contra os pagãos, contra os pecadores. Jesus omite essa vingança: a ação de Deus, por meio de Jesus, é uma oferta de amor a todos, não há forma de vingança ou punição

Mateus 11,6: «E bem-aventurado quem não se escandaliza por causa de mim!”»

Por isso Jesus proclama bem-aventurado “... quem não se escandaliza por causa de mim! Portanto, há uma nova bem-aventurança neste evangelho. Qual é o escândalo? É o escândalo da misericórdia. Isso é estranho. Enquanto castigo, o castigo de Deus sem dúvida intimida, mas não escandaliza as pessoas, a misericórdia escandalizava e, ainda, continua a escandalizar as pessoas, principalmente os religiosos, aqueles que pensam que Deus os ama pelos seus méritos, pelos seus esforços, não podem suportar esta imagem de um Deus de misericórdia. Deus de misericórdia significa que o seu amor não conhece os obstáculos dos homens, o seu amor quer chegar a todos.

Jesus o anunciara: seu Pai não é o Deus da religião, em toda religião Deus recompensa os bons e castiga os maus.

Jesus havia dito: não, a ação do Pai é como a do sol que incide sobre os maus e sobre os bons, e igualmente da chuva (cf. Mt 5,45). A ação do Pai de Jesus é a de uma comunicação de amor, independentemente do comportamento e da resposta das pessoas. Isto é o que escandaliza: que mesmo os que não merecem, mesmo os indignos, mesmo os impuros, os pecadores, possam ser objetos do amor de Deus, sem uma penitência prévia, sem uma purificação prévia, este é o escândalo da misericórdia. Ora, Jesus proclama bem-aventurados os que não se escandalizam. 

Mateus 11,7: «Enquanto os enviados se afastavam, Jesus começou a falar às multidões sobre João: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?»

Eles saem sem nenhuma reação, o que significa, por um lado, incompreensão e, por outro, desacordo com o que Jesus disse. A atividade da cana era proverbial, também em uma fábula conhecida de Esopo. O que é a cana? Ela é aquela que se dobra ao vento, ela é a imagem da pessoa oportunista, aquela que está sempre disposta a dobrar as costas, apenas para ficar no lugar. O vento sopra para um lado, sopra para o outro, a cana entorta sempre, daí a imagem do oportunista. 

Mateus 11,8: «O que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Olhai, os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.»

Nos palácios dos reis há os cortesãos. Quem são os cortesãos? São aqueles que obedecem aos poderosos do momento, sempre prontos para mudar de lado, de casaca, de crença, para se manter sempre à tona. 

Mateus 11,9: «Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta.»

Por que Jesus disse que João Batista é mais que um profeta? Porque João Batista é aquele que foi enviado por Deus para preparar o caminho para Jesus. Então Jesus nos faz entender que, para ser enviados por Deus, colaboradores de Deus, não se pode ser nem oportunista, nem cortesão, mas deve-se sempre seguir em frente à sua maneira. 

Mateus 11,10: «Este é de quem está escrito: ‘Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti’.»

Aqui o evangelista reúne duas expressões do Antigo Testamento do livro do Êxodo (23,20) e do profeta Malaquias (3,1). O evangelista apresenta a figura de João Batista como a de Moisés, que conduziu seu povo à Terra Prometida, mas não entrou nela. Foi Jesus quem, posteriormente, conduzirá este povo à libertação. 

Mateus 11,11: «Em verdade, eu vos digo: entre todos os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.»

E, finalmente, o elogio de Jesus a João Batista. O Reino dos Céus, recordamos, em Mateus é a sua comunidade, uma sociedade alternativa, uma comunidade na qual se entra com a aceitação e acolhimento da primeira bem-aventurança, a da pobreza: “Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). João Batista não pôde entrar nesta comunidade precisamente porque estava encarcerado e, sobretudo, não pôde renascer de novo, renascer pelo Espírito, passando de filho de uma mulher a filho de Deus. Por isso, se diz: “é maior do que ele”. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Deus quer que as suas misérias sejam o trono da Sua misericórdia.”

(São Pio de Pietrelcina: 1887-1968 – padre e frade capuchinho italiano)

O Advento nos reserva grandes surpresas! Mediante o Santo Evangelho deste domingo, nos é revelado que aquilo que Jesus fazia deixou desconcertado e em dúvidas o profeta encarregado de preparar os caminhos ao messias! A tal ponto, que João, o Batista, não hesita em enviar até Jesus uma dupla de discípulos para “tirar a limpo” quem era, de fato, Jesus de Nazaré. Ora, se João Batista mostra-se desconfiado, imaginemos os homens e mulheres de hoje! 

Agindo com misericórdia e colocando a VIDA, a DIGNIDADE e a FELICIDADE das pessoas acima de tudo, incluindo leis e costumes tradicionais, Jesus não se encaixa nos moldes de messias que o judaísmo havia criado! E não se encaixa em nossos moldes atuais, também! Bem em nosso íntimo, bem no fundo, a maioria de nós acha que seja normal Deus agir com “justiça” para com aqueles que não vivem conforme os seus mandamentos, as suas normas e preceitos! O pecador deve receber algum tipo de castigo ou punição! Afinal, Deus não pode tratar de modo igual os desiguais! Deus não pode ser bondoso com aqueles que não foram bondosos! É a “justiça retributiva” funcionando, poderosamente, em nossas mentes e corações!

Quantas igrejas, ainda hoje, não fundamentam a sua pregação, justamente nesse binômio: pecado > punição/castigo, arrependimento > salvação! O medo da condenação eterna, o medo de terríveis castigos, o medo de ser expulso da comunidade dos “santos” de Deus, torna mais fácil o domínio, o controle e a manipulação de muitos fiéis por parte de vários pastores, padres e religiosos em geral. 

Ocorre, no entanto, que Deus não tem por princípio de ação esse tipo de justiça inventada pelos seres humanos. O que não cabia na mente de João Batista é o mesmo que não cabe na nossa, nos dias de hoje:

«João tinha sua esperança em um Messias que lutaria contra o pecado. Mas Jesus lutou contra o sofrimento. Assim, Jesus modificou a religião... E anunciou um Reino de Deus baseado no humano, ao invés do religioso» (José María Catillo).

Jesus atuou no sentido de:

* aliviar as penas humanas,

* dar vida plena às pessoas,

* proporcionar ocasiões de felicidade e

* difundir boas notícias aos seres humanos.

A sua preocupação principal não foi com o pecado, como ocorre com tantos religiosos nos tempos atuais, mas com o sofrimento, com a dor humana que destruía, por completo, o plano de seu Pai para a humanidade: uma vida de AMOR! Pois, somente, o amor é digno de fé!

Se não compreendermos isso, como João Batista e seus discípulos tiveram dificuldade de compreender e aceitar, não seremos, jamais, autênticos seguidores/as de Jesus, o Cristo! A nossa missão principal é “curar as feridas” de todas as pessoas machucadas pela sociedade, pelo mundo injusto e cruel no qual vivemos, bem como, “caminhar com as pessoas à noite, saber falar e até descer na noite e na escuridão sem se perder” (Papa Francisco).

 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus que “estás para vir”, não retardes mais e escuta o grito dos pobres que olham para ti para ter salvação, justiça e alegria. Dá-nos olhos límpidos e coração puro para saber discernir a tua presença ativa e fecunda, mesmo nos acontecimentos do nosso “hoje” que nos parece tão cinzento e privado de raios de esperança! Vem, Senhor Jesus!

“O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’ E quem ouve também diga: ‘Vem!’ Quem tem sede, venha, e quem quiser, receba gratuitamente a água da vida. Aquele que dá testemunho destas coisas diz: ‘Sim, eu venho em breve’. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20)»

(Fonte: Marianerina De Simone. 3ª Domenica di Avvento. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 56.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – III Domenica di Avvento – Anno A – 15 dicembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 07/12/2022).

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