«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Solenidade da Santa Mãe de Deus – Ano A – Homilia

 Evangelho: Lucas 2,16-21 

Frei Alberto Maggi*

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Quem experimenta o amor de Deus o reconhece nos pequenos e simples

O primeiro dia do ano novo se abre com uma BOA NOTÍCIA. E qual é essa Boa Notícia? Aqueles que a religião considera os mais afastados e distantes de Deus, para Jesus, são os mais próximos. Vejamos o que o evangelista Lucas nos diz no capítulo 2, versículos de 16 a 21. Para compreender melhor aquilo que o evangelista nos diz, é necessário dar um passo atrás. Os pastores eram considerados pessoas impuras, marginalizadas devido à sua atividade. Eram excluídos como pecadores, porque viviam em um modo fora a lei religiosa, por isso, não podiam participar das funções religiosas do templo e da sinagoga. Acreditava-se, então, que quando o Messias viesse, os castigaria, os puniria. No entanto, quando o anjo do Senhor, que é o próprio Deus, entra em contato com eles, não os incinera em sua ira, mas os envolve com a sua luz, isto é, com o seu amor! Com isso, o evangelista desmente a doutrina tradicional, a qual dizia que Deus recompensa os bons e castiga os maus!

Quando Deus se encontra com os pecadores, não os repreende, não os pune, mas os circunda com o seu amor.

Portanto, esse é o fato que precede a passagem do Evangelho deste domingo. 

Lucas 2,16:** «Naquele tempo, os pastores foram, então, depressa e encontraram Maria e José e o recém-nascido deitado na manjedoura.»

O Filho de Deus, que lhes foi anunciado, não nasceu em um palácio real ou em um templo, mas na condição que eles conhecem. 

Lucas 2,17: «Quando viram o menino, contaram o que lhes fora dito a respeito dele.»

O que lhes foi dito por parte do anjo do Senhor? O anjo do Senhor lhes tinha comunicado uma grande alegria pelo nascimento do Salvador. Portanto, não a chegada do justiceiro, aquele que premiaria os bons e castigaria os malvados, mas do Salvador. Essa Boa Notícia seria para todo o povo! 

Lucas 2,18: «Todos os que ouviram, ficaram admirados com as coisas que os pastores lhes contavam.»

É estranho que, da parte daqueles que escutam os pastores, não há alguma reação de alegria diante dessa notícia, mas, apenas, perplexidade! Há algo que não está certo! Porque na doutrina tradicional, Deus castiga os pecadores. Então, como essas pessoas que são pecadoras e impuras (os pastores) têm a coragem de dizer que Deus os circundou e envolveu-os com o seu amor?! Portanto, os que escutam estão chocados com as notícias trazidas pelos pastores. Desaba aquilo que a religião ensinava. A novidade é o escândalo da misericórdia de Deus para com os pecadores, que será o fio condutor de todo o Evangelho de Lucas! 

Lucas 2,19: «Maria, porém, guardava todos esses acontecimentos, meditando-os em seu coração.»

Mesmo Maria ficou abalada com toda essa novidade. Meditar, aqui, possui o significado de examinar, interpretar, buscar o verdadeiro sentido. Porém, ela não rejeita essa novidade! Ela inicia a sua reflexão, o seu exame de todos esses acontecimentos. Portanto, o evangelista faz notar o grande crescimento de Maria, que a levará até a cruz de seu filho. Ela é grande não tanto por ter dado à luz Jesus, tendo sido a sua mãe, mas ter tido a coragem de segui-lo, tornando-se uma sua discípula! 

Lucas 2,20: «E os pastores voltaram, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, de acordo com o que lhes fora dito.»

Agora, para bem compreender o que o evangelista nos diz, se faz necessário recorrer à cultura da época, a qual, em um livro intitulado primeiro livro de Enoque, apresenta Deus, no alto dos céus, separado dos homens. Ao redor dele, encontram-se sete anjos, chamados “anjos do serviço”. O que fazem esses sete anjos privilegiados por estarem mais próximos a Deus? Eles louvam e glorificam a Deus, continuamente. Pois bem, o evangelista nos diz que os “pastores voltaram, louvando e glorificando a Deus”. Portanto, aqueles que a religião da época e a sociedade consideravam os mais distantes e excluídos por Deus, uma vez que experimentaram o amor de Deus, são os mais próximos a Ele, exatamente como os sete “anjos do serviço” do livro de Enoque! 

Lucas 2,21: «Completados os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo, antes de ser concebido no ventre de sua mãe.»

Mas, esse plano divino encontra a resistência dos seres humanos. A novidade trazida por Jesus é difícil de ser acolhida. Os pais de Jesus pretendem, com a circuncisão, fazer filho de Abraão aquele que foi anunciado como o Filho do Altíssimo. Portanto, há, ainda, o apego à lei, à tradição, o Espírito encontrará barreiras para entrar e tornar compreensível essa novidade! Contudo, ele o conseguirá. Mais adiante, neste Evangelho, veremos como Jesus colocará em crise esse casal de genitores, porque eles suspeitam que ele siga os passos dos pais, enquanto Jesus seguirá o Pai

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Que os humildes o vejam e se alegrem; buscai a Deus, e o vosso coração reviverá, pois o Senhor escuta os pobres.”

(Salmo 69[68],33-34a)

No Evangelho deste primeiro dia do ano, nos deparamos com três situações que nos interpelam, nos desafiam, mexem conosco por dentro. O evangelista faz de propósito. Vejamos: 

1ª) Após a cantoria dos anjos – “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados!” (Lc 2,14) – seria o caso de uma mudança de cena e de personagens também. No entanto, eis que permanecem... os pastores! O evangelista tem um apego a esses personagens, que na época de Jesus, eram pobres, excluídos e pecadores! A ralé da sociedade é que reconhece e acolhe o menino nascido em Belém, o Messias! Eles dirigem-se depressa para o encontro com o menino (vers. 16), essa é outra característica de Lucas: todos que fazem uma experiência forte com Jesus têm pressa! Por exemplo: [a] Maria vai apressadamente para a casa de Zacarias, auxiliar Isabel, sua parente (Lc 1,39); [b] os pastores, sabendo do nascimento do Salvador, vão depressa encontrar o Menino Deus, em Belém (Lc 2,16); [c] Zaqueu desceu depressa da árvore a fim de acolher Jesus em sua casa (Lc 19,6). Não há tempo a perder e nada que deva nos distrair quando se trata de estar junto a Jesus e realizar a sua vontade! Isso serve, muito, para os tempos atuais onde temos pouco foco naquilo que fazemos! 

2ª) Enquanto todos se sentem sacudidos, aturdidos pela experiência dos pastores, justamente por serem eles quem eram (!), Maria se destaca pela sua atitude! Quando o evangelista diz que ela “guardava todos esses acontecimentos”, não significa que ela estava preocupada em reter a maior quantidade de lembranças possíveis de Jesus. Significa que ela colocava juntos os fatos, conectava-os uns aos outros, sabendo colher o sentido deles e descobrir o seu fio condutor. Lucas quer nos dizer que Maria não se deixava condicionar pelas ideias, convicções e tradições de seu povo! Caso contrário, ela não teria sido receptiva e preparada para as surpresas de Deus na vida de seu Filho! E nós, hoje, estamos abertos ao NOVO, refletimos e analisamos as SURPRESAS divinas no mundo e em nossa vida? Conseguimos romper com esquemas e estruturas velhas e estéreis que não nos ajudam mais a compreender e viver a VONTADE de Deus neste mundo? Temos a coragem de ir em busca de novidades, temos iniciativas, somos criativos? 

3ª) Já no finalzinho do Evangelho de hoje, somos colocados diante da cena da circuncisão de Jesus e o conferimento de seu nome. O mais importante, aqui, é a confirmação do nome, pois ele era a identidade do ser humano, indicava a sua missão neste mundo. Geralmente, era a mãe que atribuía um nome ao filho, tendo ouvido o pai. No caso de Jesus foi diferente! O seu nome não procede de seus pais, mas do PAI (Lc 1,31)! Deus não podia receber um nome, pois não era controlável nem subordinado a nada e a ninguém neste mundo! Porém, ao desejar entrar em diálogo com os seres humanos, encarnando-se, tornando-se um deles, Ele teria necessidade de indicar o seu nome, revelar a sua identidade. Portanto, ao escolher o nome de seu Filho, Deus nos diz quem Ele é! Ele é “o Senhor salva”. Essa é a identidade de Deus: aquele que salva! Ele não faz outra coisa, não é destinado a nada diferente do que salvar a humanidade! Não é por acaso que esse nome – Jesus (= o Senhor salva) – apareça 566 nos quatro evangelhos, como que para gravar na mente e no coração das pessoas que não deve haver outra imagem de Deus a não ser a de SALVADOR!

Em Lucas, no entanto, não são os santos, os justos, os muito “religiosos” que chamam Jesus pelo nome. São os marginalizados e aqueles que estão à mercê das forças do mal que o chamarão pelo nome:

a) os endemoniados (Lc 4,34);

b) os leprosos (Lc 17,13);

c) o cego (Lc 18,38); e

d) o criminoso que morre crucificado ao lado dele (Lc 23,42).

É fundamental termos presente esse fato, pois ele revela quais são os destinatários preferenciais de Deus em seu projeto de salvação, de Reino! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ao anúncio angélico do mistério divino, o que tu fazias, Mãe de um Deus que reina para sempre, preferias – e é um mistério maravilhoso – o tesouro inefável da tua virgindade. Agora compreendo como a tua alma, Virgem Imaculada, é mais querida ao Senhor do que o seu belo Paraíso: compreendo que nela, humilde e doce vale, contém o meu Jesus, oceano de Amor. Amo-te, chamando-te a pequena serva de Deus que encantas com a tua humildade. Esta grande virtude torna-te onipotente porque enamorou a Santíssima Trindade.»

(Fonte: Santa Teresa do Menino Jesus. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 90.) 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – S. MADRE DI DIO – 1° gennaio 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 29/12/2022).

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