18º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia
Evangelho: João 6,24-35
Frei
Alberto Maggi *
Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)
Jesus é a resposta completa às necessidades humanas
Vimos, no Evangelho do domingo passado que, com o episódio da partilha dos pães e dos peixes que representa a Eucaristia, Jesus levou a multidão a crescer, a se tornar ser humano, ser humano adulto. Infelizmente, falhou. Os participantes não compreenderam o significado do gesto de Jesus. A passagem que, hoje, lemos é o sexto capítulo de João, é a continuação, são os versículos 24 a 35.
João
6,24-25:** «Naquele tempo, quando a multidão
viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram
à procura de Jesus, em Cafarnaum. Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe:
“Rabi, quando chegaste aqui?”»
E novamente aqueles a quem Jesus trouxe à condição de seres adultos e maduros se encontram como uma multidão, porque não entenderam. Essa multidão sai “à procura de Jesus”. Este verbo “procurar”, no Evangelho de João, tem sempre uma conotação negativa, indica capturar, apedrejar, matar. Eles o procuram, o encontram e se voltam para ele chamando-o de “Rabi”, mestre da lei, é isso que eles querem: Jesus queria libertá-los, eles querem se submeter.
João
6,26-27: «Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais
me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos.
Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece
até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai
marcou com seu selo”.»
E “Jesus
respondeu”, a afirmação dele é precedida de uma declaração solene: “Em
verdade, em verdade, eu vos digo”. Isto é, o que eu vos digo é certo, é
verdadeiro: “estais me procurando não porque vistes sinais”, qual
foi o sinal?
Fazer-se
alimento para os outros, este é o significado da Eucaristia e da partilha
dos pães.
Prossegue o Evangelho: “mas porque comestes”, isto é, por causa do alimento em si mesmo, “pão e ficastes satisfeitos”. Portanto, Jesus os convidou a fazerem-se pão para os outros, eles só entendiam o pão para si. E aqui o verbo está no imperativo: “Esforçai-vos”, literalmente, trabalhai, “não pelo alimento que se perde”, qual é a comida que não dura? Aquilo que diz respeito ao corpo, à parte física, biológica, “mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”, a vida que se chama eterna não tanto pela duração indefinida, mas pela qualidade indestrutível. Porque o Pai, Deus, colocou seu selo sobre ele. Jesus é a garantia da presença divina, Jesus manifesta a presença de Deus.
João
6,28-29: «Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as
obras de Deus?” Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que
ele enviou”.»
E, novamente, há um mal-entendido. Jesus os convida a serem livres, eles querem submeter-se, não estão habituados a uma relação com Deus de liberdade, mas de submissão e perguntam o que devem fazer. E aqui está a resposta de Jesus: “Esta é a obra de Deus”. “A obra de Deus” a única vez que aparece no Antigo Testamento é no livro de Êxodo, capítulo 32, versículo 16, e indica as tábuas da lei. Então esta é “a obra de Deus”, ou seja, aquilo que substitui as tábuas da lei, “é que acrediteis naquele que ele enviou”. Não é mais obedecer a uma lei, mas se assemelhar a uma pessoa que é Jesus e Jesus é o amor de Deus por toda a humanidade.
João
6,30-31: «Eles perguntaram: “Que sinal realizas, para que possamos
ver e crer em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como
está na Escritura: ‘Pão do céu deu-lhes a comer’”.»
Mas, mesmo assim, o diálogo é entre surdos, eles não entendem. É típico da religião pedir um sinal para ver para, depois, poder crer, mas Jesus nunca aceita, ele dá uma reviravolta: não um sinal para se ver e, depois, crer, mas crer para tornar-se sinal para ver. E eles se referem aos seus pais: “Nossos pais comeram o maná no deserto”. Jesus acabou de falar do Pai e eles se referem aos pais. Jesus fala do presente e eles se referem ao passado, Jesus fala pela humanidade e eles se referem a Israel.
João
6,32-33: «Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, não foi
Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão
do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.»
A resposta de Jesus, novamente, é precedida por uma declaração solene: “Em verdade, em verdade vos digo”. A ênfase de que o de Jesus é o pão verdadeiro indica que há outros pães que são falsos e se o outro pão é falso não pode transmitir vida, mas apenas comunicar a morte. A observância da lei não realiza a pessoa. E aqui está a conclusão de Jesus: “Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu”, isto é, que tem origem divina, “e dá vida ao mundo”, novamente este tema da vida indestrutível retorna.
João
6,33-35: «Então pediram: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Jesus
lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê
em mim nunca mais terá sede”.»
Finalmente,
eles começam a entender: “Então pediram: ‘Senhor’”, finalmente o
chamam de Senhor, antes, o haviam chamado de Rabi, creram que fosse
um profeta. Finalmente, enxergam nele algo a mais: “Senhor, dá-nos sempre
desse pão”, é a frase que se assemelha ao pedido do Pai Nosso. “Jesus
lhes disse: ‘Eu sou’”». “Eu sou” é o nome de Deus, portanto Jesus
reivindica a condição divina. Prossegue Jesus: “o pão da vida. Quem vem a
mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. O que se
quer dizer com esta declaração solene? Que Jesus é a resposta completa às
necessidades do ser humano.
O desejo de plenitude que todo homem carrega dentro de si se encontra em Jesus, como? Jesus não convida as pessoas a se concentrarem em si mesmas, em sua própria perfeição espiritual, tão distante e inatingível quanto é grande essa ambição, mas na doação de si aos outros que é alcançável, que é imediata e que dá plenitude de vida ao ser humano.
* Traduzido e editado do italiano por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
«Buscar o amor é bom; melhor é achá-lo.»
(William Shakespeare: 1564-1616 ― dramaturgo e poeta
inglês)
Fica muito claro, no Evangelho deste domingo, que a grande reviravolta que Jesus operou na vida dos seres humanos que tiveram contato com ele foi: deixarem de ser dependentes, apegados ao que é primário, ou seja, à busca pela saúde e pelo alimento, para se dedicarem ao que é essencial: a vida plena, a vida madura, a vida livre!
Aquilo que levou os seres humanos a criarem suas várias religiões, a grosso modo, foi a busca por segurança/proteção, por abundância de alimentos, saúde e por prosperidade. Mas, tudo isso é voltado, apenas, para a sobrevivência neste mundo. Aos poucos, o ser humano sentiu a necessidade de algo que desse um sentido para a sua vida. Algo que justificasse o motivo dele estar sobre esta Terra. A razão dele viver e existir.
E é sobre isso que Jesus fala às multidões que o “procuram” pelo pão que sacia o estômago, mas não promove uma vida distinta da existência que a pessoa tinha antes, a denominada “vida eterna”. Jesus dá nome a essa proposta: o “pão da vida”, que é ele mesmo! Doravante a salvação, a libertação e a esperança humanas não dependerão mais de leis, normas, ritos e tradições, mas da adesão a uma pessoa, à sua mensagem e ao seu estilo de vida, estamos falando de Jesus Cristo, o Filho de Deus!
O fundamental, na vivência da fé cristã, é viver uma vida de bondade, respeito e solidariedade pelos outros seres humanos! Pois, como observa o teólogo espanhol José María Castillo, “quando esse é o tipo de vida que se impõe, resolve-se, não somente o problema da fome, mas tantos outros problemas humanos que nos tornam desgraçados ou, se se resolvem, fazem-nos felizes”.
O Senhor dá o pão aos famintos
«Aleluia! Louva o Senhor, minh’alma,
louvarei o Senhor enquanto eu for vivo, enquanto
viver, cantarei hinos a meu Deus.
Não confieis nos poderosos, em seres
humanos que não podem salvar,
Exalam o espírito e voltam ao pó da
terra; nesse dia se acabam seus planos.
Feliz quem recebe auxílio do Deus de
Jacó, quem espera no Senhor seu Deus,
criador do céu e da terra, do mar e de
quanto contém. Ele é fiel para sempre,
faz justiça aos oprimidos, dá alimento a
quem tem fome. O Senhor livra os prisioneiros,
o Senhor devolve a vista aos cegos, o
Senhor levanta quem caiu, o Senhor ama os justos,
o Senhor protege os estrangeiros, ampara
o órfão e a viúva, mas transtorna o caminho dos ímpios.
O Senhor reina para sempre, o teu Deus,
Sião, por todas as gerações. Aleluia!»
(Fonte: Salmo 146 [145])
Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XVIII Domenica Tempo Ordinario – 01 agosto 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 25/07/2024).
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