«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Descréditos de carbono [Uma "solução" e ameaça!]

Evaristo E. de Miranda *
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O planeta buscava um substituto para o petróleo. Parece ter encontrado: o gás de xisto e o carvão mineral. O crescimento da produção norte-americana do gás de xisto mudou o panorama da geração de energia. Esse gás substitui a cada dia mais carvão, cujo excedente é exportado para a Europa a baixo preço. Isso derrubou o preço do carvão em todo o mundo, principalmente na Ásia. O mundo prepara-se para trocar um combustível fóssil por outro, mais abundante e barato.

As termoelétricas europeias a carvão mineral aumentam seus lucros. Sobra carvão e, com preços tão baixos, empresas como a norueguesa Statkraft, a alemã E·ON, a checa CEZ e a britânica SSE fecham e hibernam centrais a gás, incluindo plantas moderníssimas. Os lucros caíram mais de 90% no primeiro semestre de 2013 em usinas com ciclo combinado de gás. A RWE, a maior geradora da Alemanha, obtém 62% de sua produção do carvão mineral e incrementou a produção em 16% em 2012.

A Xstrata, a maior empresa exportadora de carvão mineral, baixou em 17,3% seus contratos para a geradora japonesa Tohoku. Depois de Fukushima, o Japão substitui a energia elétrica atômica pelo carvão. O adicional de emissões de dióxido de carbono (CO2), tanto no Japão como na Alemanha, pelo fechamento das usinas atômicas, é enorme.

O uso do carvão aumentou as emissões de CO2 na União Europeia (UE), tão engajada no discurso ambiental. Os países europeus não cumpriram as metas de redução de CO2 previstas no Protocolo de Kyoto, apesar da crise econômica e da substituição de sua produção industrial pela China. A importação de carvão estadunidense pela Europa cresceu 23% e atingiu 66,4 milhões de toneladas em 2012. Nos 27 países da UE, a geração de energia a partir de carvão ultrapassou o gás e atingiu seu nível máximo dos últimos 17 anos.
O chamado mercado de carbono, essencialmente europeu, veio abaixo. Sobram cotas de carbono e ninguém se interessa. Em abril o Parlamento Europeu votou uma sentença de morte para o mercado de carbono: rejeitou limitar as autorizações de emissões de CO2 propostas pela Comissão Europeia. Uma tonelada de CO2 valia 30 em 2008. Caiu para 2,75, seu nível histórico mais baixo. Para completar, a European Union Emissions Trading Scheme envolveu-se em escândalos, como roubo de licenças de emissão de CO2 e fraudes fiscais. O descrédito do mercado de carbono freou investimentos em alternativas de geração de energia. A UE aliviou as exigências ambientais para a indústria, em face da crise econômica. Ocorre uma renacionalização da política climática e o abandono da política de bloco.

No futuro os EUA exportarão gás em volume capaz de mudar o panorama mundial. A reserva americana é suficiente para abastecer o mercado por mais de cem anos, segundo cálculos da Administração de Informação de Energia. O avanço tecnológico na extração do gás de xisto prossegue e deve reduzir diversos problemas ambientais, como a contaminação hídrica e as emissões de metano.

As 48 reservas de gás de xisto encontram-se em 28 Estados americanos e 26 estão em exploração. Na Pensilvânia, em Nova York, Ohio e Virgínia Ocidental há 6 mil poços em operação, só na formação geológica de Marcellus. O gás de xisto, menos poluente, deslocará o carvão na geração de energia elétrica nos EUA, onde metade da eletricidade ainda é gerada em térmicas a carvão.

O gás de xisto já substitui o diesel em ônibus e caminhões. São poucos postos com o combustível nos EUA, mas a rede de gasodutos tem 38 mil quilômetros. O gás será um combustível cada vez mais competitivo e, ao levar ao túmulo o mercado de carbono, talvez carregue junto o sonho do etanol como commodity internacional, destinando-o a ser, basicamente, um produto de consumo interno nos países produtores. Se tanto.

Como essa nova realidade interfere na política brasileira de produção de biocombustíveis? E no mercado internacional de etanol? Uma equipe da Embrapa Gestão Territorial estuda seus impactos na agroenergia, mas o alcance da mudança pode ser muito maior. Por causa da produção crescente de gás de xisto nos EUA e de seu baixo preço, companhias brasileiras já suspenderam projetos de construção de hidrelétricas na América Central. Em outras situações, a energia hidrelétrica poderá perder competitividade com a termoelétrica.
O gás de xisto pode afetar o futuro do pré-sal. Já é real a fuga de investimentos produtivos no setor petroquímico do Brasil para os EUA, onde o preço da matéria-prima é menor. Apesar de a Agência Nacional do Petróleo ter marcado o primeiro leilão de blocos de gás de xisto para o fim de outubro, ainda falta o País conhecer e dominar a tecnologia envolvida nessa exploração.

Muitos no agronegócio brasileiro discutem combustíveis renováveis, redução das emissões de CO2, pegadas de carbono, agricultura de baixo carbono e propõem programas ambientais em cenários ultrapassados. A era da energia fóssil está longe de acabar. Esses cenários viraram carvão. O Brasil está destinado a compensar e fixar o carbono emitido pela China e países desenvolvidos? Deve renunciar ao pré-sal e à exploração de suas reservas de gás de xisto? Os carbonários do carbono ignoram os impactos desse gás e das novas tecnologias e mudanças associadas a ele.

A surpreendente emergência do gás de xisto ilustra o quanto é fundamental a inovação tecnológica e desafia o planejamento nacional. Ao ser alertado sobre o possível esgotamento das reservas de petróleo pela intensidade de sua exploração, uma autoridade saudita declarou: "A prioridade é vender as reservas antes da emergência de novas tecnologias". A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra.

* Evaristo E. de Miranda é doutor em Ecologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço aberto - Segunda-feira, 30 de setembro de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,descreditos--de-carbono-,1080264,0.htm

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