2º Domingo da Quaresma – Ano B – Homilia
Evangelho:
Marcos 9,2-10
Naquele tempo:
2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e
João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E
transfigurou-se diante deles.
3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão
brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar.
4 Apareceram-lhe Elias e Moisés, e
estavam conversando com Jesus.
5 Então Pedro tomou a palavra e disse a
Jesus: «Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti,
outra para Moisés e outra para Elias.»
6 Pedro não sabia o que dizer, pois
estavam todos com muito medo.
7 Então desceu uma nuvem e os encobriu
com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai o
que ele diz!»
8 E, de repente, olhando em volta, não
viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles.
9 Ao descerem da montanha, Jesus
ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto,
até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado
dos mortos.
10 Eles observaram esta ordem, mas
comentavam entre si o que queria dizer «ressuscitar dos mortos».
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
![]() |
"Transfiguração do Senhor" - mosaico de Marko Rupnik SJ na capela da relíquia do Santuário Nacional do Papa São João Paulo II Washington (DC) - Estados Unidos |
A
QUEM ESCUTAR?
Os
cristãos ouviram falar desde crianças de uma cena evangélica chamada
tradicionalmente «a transfiguração de Jesus». Não é mais possível saber com
segurança como se originou esse relato. Foi acolhido na tradição cristã,
sobretudo, por dois motivos: ajudava a recordar a «realidade oculta» encerrada
em Jesus e convidava a «escutá-lo» somente a ele.
No
cume de uma «montanha alta» os discípulos mais próximos veem Jesus com o rosto
«transfigurado». Acompanham-no dois personagens legendários da história de
Israel: Moisés, o grande legislador
do povo, e Elias, o profeta de fogo,
que defendeu Deus com zelo abrasador.
A
cena é sugestiva. Os dois personagens, representantes da Lei e dos Profetas,
têm o rosto apagado: somente Jesus
irradia luz. Por outro lado, não proclamam nenhuma mensagem, vêm «conversar»
com Jesus: somente este tem a última
palavra. Somente ele é a chave para ler qualquer outra mensagem.
Pedro não parece tê-lo
entendido.
Propõe fazer «três tendas», uma para cada um. Põe os três no mesmo plano. A Lei e os Profetas seguem ocupando o
lugar de sempre. Não captou a NOVIDADE de Jesus. A voz saída da nuvem vai
esclarecer as coisas: «Este é o meu Filho amado. Escutai-o». Não há que escutar a Moisés ou Elias, mas a
Jesus, o «Filho amado». Somente suas
palavras e sua vida nos revelam a verdade de Deus.
Viver escutando Jesus
é uma experiência única. Finalmente, está escutando alguém que diz a verdade. Alguém que sabe porque e para que se deve
viver. Alguém que oferece as chaves para construir um mundo mais justo e
mais digno do ser humano.
Entre
os seguidores de Jesus não se vive de qualquer crença, norma ou rito. Uma comunidade vai se fazendo cristã quando
põe em seu centro o EVANGELHO e somente o EVANGELHO. Aí se joga nossa
identidade. Não é fácil imaginar um fato coletivo mais humanizador que um grupo
de crentes escutando juntos o «relato de Jesus». Cada domingo, poderão escutar
seu chamado a olhar a vida com olhos
diferentes e a vivê-la com mais sentido e responsabilidade, construindo um
mundo mais habitável.
A
ARTE DE ESCUTAR
Os seres humanos não têm
mais tempo para escutar. Resulta-nos difícil aproximar-nos em silêncio, com calma e sem preconceitos
do coração do outro para escutar a mensagem que todo homem e mulher pode nos
comunicar.
Fechados
em nossos próprios problemas, passamos perto das pessoas sem quase nos determos
para escutar realmente alguém. Pode-se
dizer que o ser humano contemporâneo está esquecendo a arte de ESCUTAR.
Neste
contexto, tampouco resulta tão estranho que os cristãos tenham se esquecido que ser crente é viver escutando
Jesus. E, no entanto, somente a partir dessa escuta a vida cristã
adquire verdadeiro sentido e originalidade. Mais ainda. Somente a partir da
ESCUTA nasce a verdadeira fé.
Um
famoso médico psiquiatra dizia, em certa ocasião: «Quando um enfermo começa a
escutar-me ou a escutar de verdade os outros... então, está já curado». Algo
semelhante pode se dizer do crente. Se
começa a escutar de verdade a Deus, está salvo.
A experiência de escutar
Jesus pode ser desconcertante. Não é o que nós esperávamos ou havíamos imaginado.
Inclusive, pode suceder que, em um primeiro momento, decepcione nossas
pretensões ou expectativas.
Sua pessoa nos escapa. Não se encaixa em nossos
esquemas normais. Sentimos que nos
arranca de nossas falsas seguranças e intuímos que nos conduz para a
verdade última da vida. Uma verdade que não queremos aceitar.
Porém,
se a escuta é sincera e paciente, há algo que vai se impondo. [...] Começa a
iluminar-se nossa vida com uma luz nova. Começamos
a descobrir com Jesus e a partir dele, qual é a maneira mais humana de
enfrentar os problemas da vida e o mistério da morte. Damo-nos conta de
onde estão os grandes equívocos e erros de nosso viver cotidiano.
Contudo,
não estamos mais sozinhos. Alguém próximo e único nos libera uma e outra vez do
desânimo, do desgaste, da desconfiança ou da fuga. Alguém convida-nos a buscar
a felicidade de uma maneira nova, confiando ilimitadamente no Pai, apesar de
nosso pecado.
Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Comentários
Postar um comentário