Você quer compreender o Brasil?
Então, leia este livro, sem falta!
Gilberto Costa
Agência Brasil
A
cada dia fica mais claro o seguinte: alguns, neste País, dão certo devido à
família e às condições em que nascem, outros estão destinados a serem a “ralé”,
ou seja, os que sempre vão perder!
A desigualdade social que se desdobra nas diferenças de classe, gênero, cor e idade, é, para alguns cientistas sociais, o principal problema a ser pesquisado na sociedade brasileira.
Essa é a opinião do sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que está [re]lançando o livro “A Ralé Brasileira” (Editora Contracorrente, 2020 – 3ª edição ampliada com nova introdução), que organizou com artigos seus e de outros autores.
“A ralé é a grande questão esquecida. O Brasil não tem 500 problemas, mas um grande problema, que é essa desigualdade abissal do qual decorre mais de mil problemas”, afirmou.
De acordo com levantamento estatístico contido no livro, um terço dos brasileiros vivem sob condições precárias e excluídos socioculturalmente.
Para Jessé, o problema da ralé é “a questão mais
importante no Brasil moderno” e está associado a outros problemas:
* como a segurança pública,
* o trabalho informal [os “bicos”,
serviços temporários etc.],
* o racismo e
* o preconceito regional.
Apesar da importância social que tem, “a desigualdade não é nem percebida enquanto tal. Nós a naturalizamos”, na avaliação do sociólogo. Ele, no entanto, acredita que esse pensamento não é algo racional, mas tem uma função mais eficiente justamente por ser “pré-reflexivo”.
“As ideias estão dentro da cabeça para justificar nosso
comportamento”, assinala.
«Queremos que matem a ralé, mas ninguém vai dizer “eu odeio
pobre, eles têm mais é que morrer”. O comportamento efetivo, a ação do
brasileiro, porém, vai ser de bater palmas»,
disse referindo-se ao episódio em que um policial militar matou um homem que fazia uma mulher refém, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, há cerca de um mês.
Segundo Jessé, a imagem do policial militar dando um tiro certeiro no homem – repetida várias vezes na televisão – dá margem a críticas à mídia brasileira que, para ele, “é conservadora” e pautada pelo interesse econômico. Na sua avaliação, a mídia reproduz um comportamento predominante no país, “mesquinho, medíocre, avesso ao debate”.
O professor critica os seus pares, inclusive autores da sociologia clássica brasileira, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso, além do antropólogo Roberto Da Matta, que, na sua opinião, ajudaram a construir e perpetuar o mito da “brasilidade”, com conceitos sofisticados”. Para ele, a criação do mito foi extremamente eficiente, “está em todas as células dos brasileiros. Ela é uma verdadeira cegueira [por meio da qual] nós possamos nos perceber e nos autocriticar”.
“A nossa ciência se construiu em continuidade e não em crítica. A ciência social foi montada para uma sociedade que é autoindulgente [tolerante com seus erros], que não é autocrítica”, opina. Em sua avaliação, “o debate científico, assim como o debate público e do senso comum, é pobre e fragmentário e não capta a totalidade. É exatamente isso do que o dinheiro precisa”.
Além do mito da brasilidade e da baixa autocrítica, a
sociedade também se caracteriza pela ausência de transformações políticas e
revoluções sociais, segundo Jessé Souza.
“O Brasil é uma sociedade que se modernizou apenas
economicamente. Não houve processo de aprendizagem coletiva por meio da luta”,
diz o professor ao lembrar o processo que ocorreu na Revolução Francesa, no século 18, quando a ralé teve voz ativa, diferentemente da população brasileira excluída.
De acordo com ele, o livro também mostra como, em vez da luta, a ralé brasileira compartilha do consenso que legitima a desigualdade e a exclui. A importância do livro, na visão dele, é a possibilidade de reflexão. “Não existe crescimento de sociedade sem autocrítica”, acredita Jessé.
Fonte: EcoDebate – Notícia – 28/10/2009 – Internet: clique aqui.
Abrindo
o Sumário do livro
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
Após a INTRODUÇÃO, o livro nos traz 15 capítulos divididos em duas partes, acrescidas de CONCLUSÃO (“A Má-Fé da Sociedade e a Naturalização da Ralé”), POSFÁCIO (“Sobre o Método da Pesquisa”), REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e dois anexos: a) Posições de Classes Destituídas no Brasil e b) Os Números dos Destituídos no Brasil.
Eis o título de cada uma das 2 partes e dos 15 capítulos que compõem essa obra:
PARTE 1 O
mito brasileiro e o encobrimento da desigualdade
Capítulo 1 A
construção do mito da “brasilidade”
Capítulo 2 Senso
comum e justificação da desigualdade
Capítulo 3 Como o
senso comum e a “brasilidade” se tornam ciência conservadora?
Capítulo 4 A tese
do patrimonialismo
Capítulo 5 Os
limites do politicamente correto
PARTE 2 O
Brasil além do mito – Novo olhar e novos conflitos
Capítulo 6 Como é
possível perceber o Brasil contemporâneo de modo novo?
As mulheres da ralé
Capítulo 7 “Do
fundo do buraco”
Capítulo 8 A
miséria do amor dos pobres
Capítulo 9 A dor e
o estigma da puta pobre
Os homens da ralé
Capítulo 10 O crente
e o delinquente
Capítulo 11 O
trabalho que (in)dignifica o homem
A má-fé institucional
Capítulo 12 A
instituição do fracasso: A educação da ralé
Capítulo 13 “Fazer
viver e deixar morrer”: A má-fé da saúde pública no Brasil
Capítulo 14 A má-fé
da Justiça
O racismo no Brasil
Capítulo 15 Cor e
dor moral: Sobre o racismo na ralé
CONCLUSÃO
A má-fé da sociedade e a naturalização da ralé
POSFÁCIO
Sobre o método da pesquisa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
Anexo I Posições
de classes destituídas no Brasil
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