«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Solenidade da Ascensão do Senhor – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 24,46-53 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

O Cristo não se separa de seus discípulos, mas ascende aos corações de seus seguidores

Para compreender a passagem que a liturgia nos apresenta na festa da Ascensão, devemos nos referir à concepção cosmológica, ou seja, como a relação entre a terra e o céu era compreendida no tempo dos evangelistas. Deus estava localizado em cima, nos céus, seres humanos eram colocados na terra, de modo que tudo que vinha de Deus era dito que descia para os homens, e tudo que ia dos homens para Deus subia.

Então vamos ler o que o evangelista nos escreve, é o capítulo 24, versículos 46-53. Em primeiro lugar, o evangelista escreveu que Jesus “abriu-lhes a inteligência para entenderem as Escrituras” (Lc 24,45). Não basta ler as Escrituras, é preciso abrir a mente, ou seja, abrir-se para o novo, caso contrário não as compreenderemos. 

Lucas 24,46:** «Jesus disse aos seus discípulos: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dentre os mortos ao terceiro dia,...»

Jesus já ressuscitou, confirma que tudo isso fazia parte do plano de Deus, mas sobretudo que a morte não impediu Jesus. Jesus ressuscitou ao terceiro dia e o número três, sabemos agora, pela simbologia bíblica, significa o que está completo, o que é definitivo, daí a vitória definitiva sobre a morte. 

Lucas 24,47: «... e em seu nome será proclamado o arrependimento, para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém.»

O termo usado pelo evangelista indica as nações pagãs, portanto é uma mensagem que é universal. Aqui, o evangelista retoma o mesmo anúncio de João Batista, modificando-o ligeiramente. João Batista havia anunciado um batismo de conversão para o perdão dos pecados, aqui o batismo é omitido e a conversão é proclamada a todos os povos.

A conversão significa uma mudança nos valores que orientam a vida de uma pessoa. Se você viveu para si mesmo até agora, a partir de agora você vive para os outros.

A mudança de vida, deixando para trás o egoísmo que orientou a existência e abrindo-se ao novo, obtém o cancelamento do passado pecaminoso.

E, sublinha o evangelista, parece uma ênfase leve, mas na realidade tem um grande significado, “começando por Jerusalém”. É um desafio que Jesus lança porque era em Jerusalém, no templo, que as pessoas tinham que ir para obter o perdão dos pecados trazendo oferendas, sacrifícios a serem feitos a Deus. Bem, para Jesus não há mais necessidade de um espaço sagrado, não há mais necessidade de um rito litúrgico para o perdão dos pecados, mas é necessária a mudança de vida. 

Lucas 24,48: «Vós sois as testemunhas destas coisas.»

Mas não só isso, Jesus havia dito que “será proclamado a todos os povos”, indicou os povos pagãos, e nos coloca “a partir de Jerusalém”. Jerusalém, a cidade santa, sede da instituição religiosa, é equiparada por Jesus aos povos pagãos, “sois as testemunhas destas coisas”. 

Lucas 24,49: «Eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto.”»

Jesus está anunciando o envio de seu Espírito que dará força aos discípulos para entender sua mensagem e, sobretudo, traduzi-la em atitudes vivificantes para os outros. Mas Jesus pede que, até aquele momento, literalmente, “permaneçam sentados”, portanto, imóveis, inativos, “até que sejais revestidos da força do alto”. Assim é o anúncio do que, mais tarde, será o Pentecostes. 

Lucas 24,50: «Então, Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os.»

Aqui, o evangelista usa um verbo técnico, que é o usado no livro do Êxodo, para indicar a ação libertadora de Deus ao povo judeu, escravizado no Egito. O Senhor é aquele que tirou seu povo da terra da escravidão. Bem, o fato de o evangelista usar essa mesma expressão significa que a terra prometida, realmente, se transformou em terra de escravidão.

Foi a instituição religiosa que aprisionou Deus e aprisionou seu povo por seu próprio interesse, por sua própria conveniência.

E, então, o êxodo de Jesus termina por tirar os homens dessa instituição, tornando-os totalmente livres.

Este levantar das mãos é um sinal de vitória. Aqui, o evangelista se refere ao livro do Êxodo, quando Moisés levanta as mãos na batalha contra Amalec [Ex 17,10-11]. Quando Moisés levanta as mãos ele vence, então o de Jesus é um gesto de vitória. Ele triunfou sobre a morte, ele triunfou sobre a instituição religiosa. 

Lucas 24,51: «E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu.»

Eis que, como dissemos no início, o que o evangelista quer nos dar não é uma cena de separação, mas de proximidade. Não é um distanciamento, uma ausência aquilo que o evangelista nos está apresentando, mas uma presença ainda mais intensa. Jesus está, agora, na plenitude da condição divina. O homem que os sumos sacerdotes assassinaram, considerando-o amaldiçoado, na realidade, tem em si a plenitude da condição divina! 

Lucas 24,52-53: «Eles se prostraram, adorando-o. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no templo, bendizendo a Deus.»

O final do evangelho é decepcionante:Eles se prostraram, adorando-o. Em seguida voltaram para Jerusalém”. Mas como? Jesus os tirou de Jerusalém e eles voltam para lácom grande alegria”. E, aqui, está a surpresa final: “E estavam sempre no templo, bendizendo a Deus”. Mas como no templo? Eles não perceberam que o véu do templo foi rasgado [cf.: Lc 23,45] e que Deus não estava mais no templo?

Aquele templo que Jesus denunciou como covil de ladrões, como covil de bandidos [cf.: Lc 19,45-48], e pelo qual esperava desaparecer [cf.: Lc 21,5-6], aquele templo que era o lugar mais perigoso para Jesus, para os discípulos é o lugar que lhes dá segurança.

Será necessário o Espírito Santo, será necessário o Pentecostes para libertá-los de tudo isso. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Assim como ele subiu ao céu sem se afastar de nós, também nós já estamos com ele, embora o que ele nos prometeu ainda não tenha sido realizado em nosso corpo.” (Santo Agostinho (354 – 430): filósofo, teólogo, escritor)

Muita atenção!!!

Essa festa da Ascensão pode nos induzir a um grave erro, como nos bem adverte J. M. Castillo: «Nunca se deve entender esta celebração como a superação do “humano”, para transcender a um plano superior, que seria o plano do “divino”. Jesus ressuscitado e glorificado é sempre a plenitude do humano. E segue sendo a imagem do divino, encarnado no humano. Jesus segue sendo tão humano quanto divino». 

O Espírito Santo não substitui Jesus! Ele segue sendo, até o final dos tempos, a presença de Deus entre os seres humanos. Contudo, o Espírito Santo possui um papel fundamental: manter sempre viva e atual essa presença, essa recordação do que Jesus Cristo foi, é e sempre será! 

Por outro lado, é muito reconfortante saber que Jesus, nos momentos finais de sua vida na Terra, trazia em seu coração a preocupação de que o anúncio do perdão e da misericórdia divinos chegassem a todos os povos, incluindo os pagãos! Ele queria e, ainda, quer, que o chamado a CONVERSÃO e a oportunidade de viver na intimidade com o Pai cheguem a todas as pessoas da Terra!

Jesus deseja que todos saibam que Deus compreende e ama seus filhos e filhas sem limites!

Agora, aqui temos uma novidade! Quem Jesus encarrega de levar essas BOAS NOVAS que elencamos acima a todos os povos?

Ele quer «testemunhas» (Lc 24,48: «Vós sois as testemunhas destas coisas») que comuniquem não teorias, mas sua experiência de um Deus bom e contagiem as pessoas com seu estilo de vida ao trabalharem por um mundo mais humano!

O grande perigo é nos esquecermos que, nós cristãos, somos os portadores dessa BOA NOVA de Cristo, bem como, de sua BÊNÇÃO ao mundo! 

Como nos adverte J. A. Pagola:

«Nossa primeira tarefa é sermos testemunhas da bondade de Deus, manter viva a esperança, não nos rendermos perante o poder do mal. Este mundo, que às vezes parece um “inferno maldito”, não está perdido. Deus o olha com ternura e compaixão

Jamais podemos duvidar que as pessoas podem mudar, elas podem ser diferentes:

* mais solidárias e menos egoístas,

* mais austeras e menos consumistas,

* mais pacíficas e menos violentas,

* mais bondosas e menos invejosas,

* mais honestas e não corruptas...

Há que se promover um cristianismo da BONDADE! O mundo precisa sentir, perceber e visualizar em cada cristão uma das TESTEMUNHAS DE CRISTO, o amor e a misericórdia de nosso Deus!


 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, vou te louvar no meio da assembleia.

Louvai o Senhor, vós que o temeis, que toda a raça de Jacó lhe dê glória, que o tema toda a estirpe de Israel; pois ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre; não lhe ocultou a sua face, mas ao gritar por socorro o atendeu.

Tu és o meu louvor na grande assembleia, cumprirei meus votos diante dos seus fiéis.

Os pobres comerão e ficarão fartos, louvarão o Senhor os que o procuram: “Viva para sempre o coração deles!”

Recordarão e voltarão ao Senhor todos os confins da terra: diante dele se prostrarão todas as famílias dos povos.

Pois o reino pertence ao Senhor, ele domina sobre as nações.

Só diante dele se prostrarão os que dormem debaixo do chão; diante dele se curvarão os que descem ao pó da terra. Quanto a mim, para ele viverei, a ele servirá a minha descendência. Do Senhor se falará à geração futura; anunciarão a sua justiça; dirão ao povo que vai nascer: “Eis a obra do Senhor!”»

(Salmo 22[21], 23-32)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Ascensione del Signore – 02 giugno 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 22/05/2022).

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