«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

6º Domingo da Páscoa – Ano C – Homilia

 Evangelho: João 14,23-29 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Somente quem serve os outros com amor tem algo a ver com Jesus e nele habita Cristo e o Pai

três perguntas feitas por três discípulos a Jesus, o número três, como sabemos, indica aquilo que está completo - então eles não são tanto três discípulos, mas toda a comunidade que se expressa através deles. E essas três perguntas são objeções, Tomé perguntando a Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos saber o caminho?” (Jo 14,5). E Jesus responderá que ele é o caminho a seguir. Filipe que lhe diz: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8) e Jesus responderá: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9), e Judas (não o Iscariotes, mas o outro discípulo) que lhe pergunta: “Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?” (Jo 14,22). É uma tentação que Judas faz a Jesus. Judas quer que Jesus se manifeste como o messias esperado.

E aqui está a resposta de Jesus nesta passagem deste domingo, uma resposta que contém uma das pedras angulares do Evangelho de João e uma afirmação que, se compreendida, muda radicalmente a relação com Deus e consequentemente com os outros. Vamos ouvir o que João nos diz. 

João 14,23:** «Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada.»

Guardar a palavra de Jesus” significa fazer da própria vida um dom de amor ao serviço dos outros, como ele. Bem, a resposta de Deus é:meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada”. Essa afirmação de Jesus não é uma promessa para o além [= após a vida terrena], mas a resposta do Pai para aqueles que aderem a Jesus. No início de seu Evangelho, no Prólogo, o evangelista havia escrito que Deus, este Verbo, havia armado sua tenda entre nós, em NÓS [Jo 1,14]. Agora, Jesus está dizendo algo extraordinário: para aqueles que o amam, portanto, quem, como ele, dirige sua vida para o bem dos outros, é objeto do amor do Pai e ele e o Pai vêm a esse indivíduo e passam a residir com ele.

Deus pede a cada pessoa para ser acolhido em sua vida, para se fundir com ela, expandir sua capacidade de amar e fazer de cada indivíduo e de cada comunidade o único verdadeiro santuário do qual irradia o amor misericordioso de Deus.

Portanto, não há mais um templo onde o Senhor reside, mas toda criatura é o templo onde Deus se manifesta.

Esta afirmação de Jesus tem uma importância muito grande. Para a vida, Deus não é algo externo, Deus não é uma entidade distante, mas Deus é íntimo do ser humano e esse Deus que é íntimo do homem, nas profundezas do homem, se manifesta sempre que o homem é mais humano.

Quanto mais o ser humano é HUMANO, mais ele manifesta o divino que está nele.

Mas esta afirmação de Jesus não diz respeito apenas à vida do indivíduo, mas também à passagem pela morte. Costuma-se dizer que quando uma pessoa morre vai para o céu, voltou para a casa do Pai, não, não vamos para o céu porque o céu está em nós, não vamos para a casa do Pai porque nós somos esta casa.

Portanto, esta é a declaração extraordinária de Jesus. 

João 14,24: «Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou.»

Quem não faz de sua vida um serviço de amor ao bem dos outros não tem nada a ver com Jesus.

As autoridades tendiam a separar Jesus do Pai, e Jesus, aqui, afirma que há perfeita unidade, há perfeita harmonia, porque juntos eles continuam a ação criadora ao comunicar vida, ao restaurar a vida, ao enriquecer a vida dos outros. 

João 14,25-26: «Eu vos tenho falado dessas coisas estando ainda convosco. Ora, o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.»

O que é este Paráclito? Ele é quem vem em socorro, o protetor. Esta é a ação do Espírito. Não é uma ação que vem no momento da emergência, mas uma ação que a precede. Por isso, Jesus convida a sua comunidade à plena serenidade e confirma a presença do Espírito Santo.

Esta é a garantia para a comunidade cristã, para a Igreja. Tendo dentro de si o Espírito Santo, esse protetor, esse ajudante, ele sempre poderá dar novas respostas às novas necessidades que surgirão na sociedade. Este é o significado das palavras de Jesus: “ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”:

* compreender,

* tornar-se plenamente consciente da mensagem de Jesus e

* saber reformulá-la de uma forma completamente nova diante de novas situações que surgem na comunidade. 

João 14,27: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Eu não a dou, como a dá o mundo. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração.»

Não é um desejo. Jesus não diz: “A paz esteja convosco”. Mas é um dom, onde a paz é tudo o que contribui para a plenitude da vida. E, então, ele diz: “Eu não a dou, como a dá o mundo”. A paz era a saudação que se fazia no momento da despedida. Para Jesus não é uma despedida, mas uma presença ainda mais intensa. É por isso que ele diz: “Não como o mundo dá”.

Jesus não quer que haja medo em seus seguidores, mas amor. 

João 14,28: «Ouvistes o que vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.»

Aqui, Jesus não está pensando em seus sofrimentos, mas apenas no bem dos seus. Por que ele diz: “Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai”? Porque na plena dimensão divina com o Pai, a ação de Jesus será ainda mais incisiva com os seus seguidores.

Ao ir ao Pai, Jesus não só não se separa dos seus, mas torna esta presença mais intensa.

Há pouco vimos: “Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos a nossa morada”, de modo que ir ao Pai não significa um afastamento de Jesus, mas uma presença no indivíduo que emergirá através das ações da vida da pessoa. 

João 14,29: «Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais.”»

Jesus propõe um desafio. Ele será condenado como alguém amaldiçoado por Deus. Então, Jesus pede aos discípulos que decidam em quem acreditar, ou no sumo sacerdote ou nele. Se eles acreditam em Jesus, eles não acreditarão mais no sumo sacerdote. Se eles acreditam em Jesus, não acreditarão mais nas instituições religiosas que sentenciaram o Filho de Deus à morte. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.” (Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), no livro “O Pequeno Príncipe”)

Antes de morrer, Jesus revela aos seus amigos e amigas, aos seus seguidores, os seus últimos e mais íntimos desejos. E, como sabemos, os últimos desejos de uma pessoa são os mais importantes de sua vida! Porque são fruto do amadurecimento e da longa vivência que essa pessoa teve. Portanto, devemos prestar uma atenção especial àquilo que Jesus nos diz neste evangelho dominical. 

Inspirando-nos na bela síntese que J. A. Pagola faz, podemos dizer que, basicamente, são três os desejos maiores de Jesus:

1º) Que sua mensagem não se perca, não seja esquecida e deturpada: Jesus deseja que seus seguidores e seguidoras mantenham viva a recordação e execução de seu projeto humanizador, o projeto do Reino de Deus. Um projeto de mundo onde predomina o amor, a justiça, a paz e a misericórdia! Por isso, Jesus é tão insistente e sério, quando diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14,23).

* Será que nossa Igreja está guardando fielmente a mensagem de Cristo ou a estamos manipulando segundo os nossos próprios interesses?

* O Evangelho que apresentamos ao mundo, em nossas celebrações eucarísticas, em nossos cursos e assembleias, em nossas reuniões e encontros é autêntico ou ocultamos a Boa Nova com nossas doutrinas e teorias?

2º) Não quer deixar órfãos os seus seguidores e seguidoras: por isso, garante que o Pai enviará um Consolador, um Defensor, um Mestre denominado Espírito Santo! Jesus conhece as limitações, as fragilidades de seus discípulos e discípulas. A tarefa do Espírito Santo, segundo Jesus, é dupla: a) “ele vos ensinará tudo”, ou seja, não permitirá que nos desviemos da palavra, da vontade de Cristo. E a vontade de Cristo é que os pobres sejam evangelizados, acolhidos e protegidos; b) “ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”, isto é, educará as pessoas no estilo de vida de Jesus, fazendo com que não se esqueçam do que é ser cristão.

* Na Igreja, nós nos deixamos guiar, de verdade, pelo Espírito de Deus?

* Sabemos atualizar a mensagem de Jesus para os tempos de hoje, mantendo-a sempre viva e eficaz?

* Vivemos atentos aos que sofrem? Sabemos interpretar os sinais dos tempos?

3º) Quer que seus discípulos(as) vivam na mesma paz que ele: essa paz de Jesus era fruto de sua união íntima com o Pai. Portanto, somente Jesus pode nos dar essa sua PAZ! Acolhendo o Espírito de Deus, podemos experimentar, de fato, essa paz em nós. Ela nos impulsiona a abrir caminhos para um mundo mais saudável e justo. Quem experimenta a PAZ DE CRISTO jamais terá medo: “Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração” (Jo 14,27b). A pior coisa da vida é viver com medo, viver movido(a) pelo medo! “Se cremos em Jesus, o medo jamais poderá ser o motor de nossas decisões” (J. M. Castillo)!

* Por que, após mais de vinte séculos de cristianismo, o medo do futuro, o medo da sociedade presente nos paralisa?

* Por que tanto medo da morte, das doenças, das dificuldades da vida? Há muita gente com fome de Jesus, o que estamos fazendo por elas?

 


Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«O Senhor firma os passos do homem e se agrada de seu caminho. Quando cair, não ficará prostrado, pois o Senhor sustentará a sua mão. Fui jovem, agora estou velho, e nunca vi um justo abandonado nem um seu descendente mendigando pão. Todo dia, ele se compadece e empresta, e a sua descendência será abençoada. Foge do mal e faze o bem, e habitarás sempre na tua casa. Pois o Senhor ama o direito e não abandonará os seus fiéis. Os injustos serão dispersos para sempre e a descendência dos ímpios, exterminada. Os justos, porém, herdarão a terra e nela para sempre habitarão. A boca do justo medita a sabedoria, e a sua língua enuncia palavras de justiça; a lei de Deus está no seu coração e seus passos não vacilarão.»

(Salmo 37[36], 23-31)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – VI Domenica di Pasqua – 26 maggio 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 17/05/2022).

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