«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

5º Domingo da Páscoa – Ano C – Homilia

 Evangelho: João 13,31-35 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Há, apenas, um mandamento a seguir: amar!

No capítulo 13 do Evangelho de João, o evangelista apresenta a Última Ceia de Jesus com seus discípulos, na qual, até o último momento, Jesus faz a tentativa de oferecer seu amor também ao discípulo que o trairá, a Judas. Oferece-lhe o pão, que representa a sua vida, mas Judas não come este pão, ou seja, não assimila Jesus, toma-o e sai. O evangelista diz que “afundou na noite” [Jo 13,30b]. 

João 13,31:** «Depois que Judas saiu, Jesus disse: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele.»

Quando Judas saiu (do Cenáculo), pegou o bocado de pão que lhe foi dado, não o assimilou, mas foi trair a pessoa de Jesus, Jesus disse: “Agora...” Ao longo do Evangelho esta hora de Jesus foi anunciada e o evangelista diz que, agora, está acontecendo. Por que Jesus diz isso depois que Judas o traiu para condená-lo à morte?

Porque no amor incondicional que também é oferecido ao inimigo, a glória de Deus se manifesta ali, ou seja, a glória é a manifestação visível do que Deus é. E o que é Deus?

Deus é amor que se oferece também ao inimigo, ao traidor.

Jesus fala de si mesmo como o “Filho do Homem”, por que usa essa expressão que lhe é muito cara? “Filho do Homem” significa homem com a condição divina, então...

Jesus é filho de Deus, Deus na condição humana, e é filho do Homem, ou seja, homem com a condição divina.

E Deus foi glorificado nele.” O evangelista apresenta uma dinâmica contínua na vida de Jesus, que deve ser também a do crente, do amor recebido e do amor comunicado. 

João 13,32: «Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo.»

Este é um versículo que é omitido em muitos manuscritos, onde o evangelista não faz nada além de repetir o mesmo conceito. Como ele irá glorificá-lo imediatamente? Dando-lhe a capacidade de enfrentar a morte, a qual não será um fim, mas um começo, porque na morte de Jesus o Espírito se derramará sobre sua comunidade. 

João 13,33: «Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’.»

Então Jesus, pela primeira vez, a única vez, tem uma expressão de tanta e profunda ternura para com seus discípulos. Ele os chama de “Filhinhos”, literalmente “criancinhas ou minhas crianças”. Aqui, quando menciona o que disse aos judeus, Jesus está equiparando os discípulos a seus adversários, às autoridades. Por que eles não podem ir com Jesus? Porque os discípulos estão prontos para morrer por Jesus, mas não para morrer como Jesus, para dar a vida com ele e como ele. É por isso que Jesus diz que, por enquanto, eles não podem ir para onde ele vai. E, em seguida, está a conclusão deste capítulo extraordinário, capítulo 13, a novidade de Jesus. 

João 13,34: «Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.»

Eu vos dou um mandamento novo”. Jesus não diz: “Eu vos dou um novo mandamento” [como, aliás, consta da tradução da CNBB], ou seja, há os de Moisés e agora eu vos dou o meu. “Dou-vos um mandamento novo”, a palavra grega para “novo” significa o melhor, que substitui tudo o mais. O evangelista havia dito isso no Prólogo de seu Evangelho: “A lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” [Jo 1,17].

A nova relação que Jesus estabeleceu com o Pai e os discípulos não poderia se enquadrar nos termos da antiga aliança e precisa de uma nova aliança que se expressa em um único e novo mandamento.

Portanto, “novo” na medida em que a qualidade deste mandamento eclipsa todos os outros.

É importante observar que Jesus não fala com verbos no futuro, ele não diz “como eu vos amarei”. Jesus não está anunciando a morte, o sacrifício total que fará na cruz, mas diz “como eu vos amei”. E como é que Jesus amou? Estamos no contexto da Última Ceia segundo João, quando Jesus começou a lavar os pés dos discípulos.

O amor não é real se não for transformado em SERVIÇO que purifica a vida dos outros.

Este é o amor que Jesus requer de nós. 

João 13,35: «Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros.”»

O serviço é o único traço distintivo do crente na comunidade de Jesus e, de fato, Jesus confirma: “Nisso”, isto é, no amor que se torna serviço, “conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros”.

Jesus, com esta afirmação muito clara, exclui qualquer outro distintivo.

Portanto, NÃO aos brasões, roupas, sinais ou condecorações que queiram mostrar a relação que se tem com o Senhor, mas apenas um amor que se põe a serviço dos outros.

E quando esses substitutos são usados, é uma luz de alarme que se acende, uma luz de alerta que acende, que talvez esse amor que se transforma em serviço não seja tão comum a ponto de ser o único distintivo da comunidade cristã.

Portanto, Jesus deixa um único mandamento, ele que o evangelista apresentou como a palavra de Deus, a palavra se fez carne, e esta palavra de Deus é formulada e expressa com um único mandamento que eclipsa todos os outros. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 3. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2019. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.” (Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944): escritor, ilustrador e piloto francês)

No relato do Evangelho deste domingo, Jesus faz a mais surpreendente afirmação de toda a sua vida! Isso mesmo! Afinal, quem poderia esperar dele que falasse de “glorificação”, “ser glorificado” ao constatar que um de seus amigos mais íntimos havia decidido traí-lo e entregá-lo à morte? No cume do sofrimento e do fracasso, em meio a uma das mais dolorosas situações de sua vida, Jesus levanta sua voz e proclama: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (João 13,31). 

O esplendor do poder divino, a glorificação, para Jesus, não está na vitória, em ser bem sucedido, mas em seu aparente fracasso e derrota! Isso que se parece a algo desumano, na verdade, é a realização da mais plena humanidade: amar e ser amado! É neste momento de sua vida, que Jesus revela o seu TESTAMENTO, aquilo que ele quer deixar para todos os que o seguirem: amem-se uns aos outros como eu vos amei! Portanto, como bem sintetiza J. M. Castillo:

«Aquele que ama o ser humano, seja quem for, este é o que ama a Deus

E o cristianismo se resume a isso!!!

Mas, atenção, não se trata de um amor qualquer! O amor que Jesus pede de cada um de nós é: “como eu vos amei (João 13,34). E como é que ele nos amou? Ele nos amou, resumindo, de três modos:

a) Como amigos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (João 15,15). Na Igreja e fora dela, todos devemos nos amar como amigos. E entre amigos há igualdade, proximidade e apoio mútuo. Ninguém que é verdadeiro amigo se sente e se coloca acima do(a) outro(a) amigo(a).

b) Como servidor: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10,45 // Mt 20,28; Lc 22,27b). Na Igreja não deve haver disputa por posições, cargos, fama, poder. Pelo contrário, o protagonismo está em SERVIR, em vir ao encontro das necessidades dos outros.

c) Acolhendo a todos: essa comunidade de amigos, reunida entorno a Jesus, não se fecha em si mesma! Ao contrário, a amizade com Jesus e entre os seus seguidores promove a abertura e acolhida de todos, especialmente, dos pecadores, dos excluídos e desprezados. E Jesus simboliza isso, mediante a figura de uma criança: “Quem recebe, em meu nome, uma só criança como esta, recebe a mim mesmo” (Marcos 9,37 // Mt 18,5; Lc 9,48). 

É inevitável surgir as seguintes questões em nossa mente:

* O modo como nós vivemos, hoje, na Igreja e fora da comunidade eclesial, indica que somos cristãos?

* As pessoas, observando nossas atitudes, palavras e ações nos identificam, imediatamente, como seguidores de Jesus Cristo?

* Será que grande parte de nosso insucesso em atrair mais pessoas para Cristo, não se deve ao fato de não sermos um “outro Cristo” para o mundo onde vivemos? 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Eu te amo por ti mesmo, eu te amo por teus dons,

Eu te amo por tua causa

e eu te amo tanto que,

se algum dia Agostinho fosse Deus

e Deus fosse Agostinho,

eu gostaria de voltar a ser o que sou, Agostinho,

para fazer de ti o que tu és,

porque só tu és digno de ser quem tu és.

Senhor, tu vês,

minha língua enlouquece,

Não sei me expressar,

mas o coração não enlouquece.

Tu vês o que eu sinto

e o que eu não posso te dizer.

Te amo, meu Deus,

e meu coração é estreito para tanto amor,

e minhas forças se rendem a tanto amor,

e meu ser é pequeno demais para tanto amor.

Eu saio da minha pequenez

e todo em ti, eu mergulho,

eu me transformo e me perco.

Fonte do meu ser,

fonte de todo o meu bem:

meu amor e meu Deus.»

(Santo Agostinho, Confissões)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – V Domenica di Pasqua – 19 maggio 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 10/05/2022).

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