«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 27 de agosto de 2022

22º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 14,1.7-14 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Tudo fazer por amor, pelo bem do outro, jamais por interesses pessoais mesquinhos

É a terceira e última vez que Jesus almoça na casa de um fariseu. Sempre que Jesus está à mesa com os fariseus, esses piedosos, esses líderes espirituais, é sempre uma ocasião de conflito. Desta vez o conflito foi causado por Jesus, pois nesta refeição há um doente e Jesus pergunta se é permitido curá-lo no dia de sábado, dia em que há descanso total.

Bem, os fariseus não respondem. Então Jesus os ataca dando-lhes de hipócritas, dizendo: “Mas vocês, se lhes interessa, podem transgredir a lei do Senhor”. Após esta repreensão, Jesus continua. 

Lucas 14,1.7:** «Certo sábado, Jesus foi tomar a refeição na casa de um dos chefes dos fariseus, e eles o observavam. Ao observar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus propôs-lhes uma parábola:»

Jesus propõe a parábola aos fariseus, há apenas eles como convidados. O evangelista estigmatiza esta ambição, esta vaidade, que é própria das pessoas religiosas, sobretudo se ocupam cargos importantes. Como tais pessoas se sentem importantes, apresentam a necessidade de se expor e se manifestar, de dar a conhecer a todos a sua importância, escolhendo os primeiros lugares. 

Lucas 14,8-10a: «“Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e aquele que convidou a ti e a ele venha dizer-te: ‘Cede o lugar a este’. Então irás com vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, ocupa o último lugar, para que o que te convidou venha dizer-te: ‘Amigo toma um lugar mais importante!’»

Jesus se refere a um ditado muito famoso e muito popular contido no livro de Provérbios, capítulo 25, versículos 6 a 7: “Não te mostres presunçoso diante do rei nem te ponhas no lugar dos grandes. É melhor que te digam: 'Sobe para cá!', do que seres humilhado diante do príncipe”. E, aqui, está a lição que Jesus dá, e é uma lição que deve ser bem compreendida, pois não é por humildade, mas um convite a fazer estas coisas por amor:quando fores convidado, ocupa o último lugar”. Por quê? Para permitir que outros, aqueles que se sentariam nos últimos lugares, ficassem na frente. Portanto, não é humildade, mas amor. Jesus está invertendo a escala de valores da sociedade.

Jesus convida esses fariseus, a quem já repreendeu dizendo que tudo o que fazem é por interesse, para passar da categoria de interesse para a do dom. 

Lucas 14,10b-11: «Então serás honrado na presença de todos os convidados, pois todo o que se exaltar será humilhado, e o que se humilhar será exaltado”.»

Jesus, que se fez último, que se coloca ao lado dos rejeitados e excluídos, afirma que aqueles que se fazem últimos têm comunhão com ele, a plenitude da condição divina. Aqueles que, ao contrário, pretendem colocar-se acima dos outros, separando-se dos outros serão excluídos. 

Lucas 14,12: «E disse também ao que o tinha convidado: “Quando ofereceres um almoço ou uma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos, para que não te convidem por sua vez e isso te sirva de retribuição.»

Então Jesus, ao fariseu que o convidou, dirige uma advertência muito importante que deve ser entendida à luz daqueles laços de amizade, parentesco, interesse, laços que sustentam a sociedade, que sustentam grupos eclesiais, grupos religiosos, que se protegem à custa dos outros. Portanto, é um aviso muito grave e muito atual.

Jesus fala de uma espécie de panelinha onde há amizade, há parentesco e, sobretudo, há interesses comuns. Uma camarilha que se protege dos outros, que exclui os outros e isso, apenas, em seu próprio interesse. Assim, Jesus denuncia em um contexto farisaico a atitude dos fariseus de que tudo o que fazem é por interesse. Eles não sabem o que é indiferença, generosidade e dom. Em seguida, está a oferta de solução que Jesus lhes dá. 

Lucas 14,13: «Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos!»

Os pobres que naturalmente não têm como retribuir. E depois Jesus insere os “aleijados, coxos e cegos”, que são aquelas categorias de pessoas que foram excluídas do templo e do sacerdócio devido à sua enfermidade. Então Jesus, em uma esfera muito piedosa, muito religiosa, como a dos fariseus que se consideravam os mais próximos de Deus e, de acordo com suas normas, suas regras religiosas, separavam e excluíam os outros de Deus, Jesus diz: “Não, convide justamente aqueles que são excluídos”.

Como isso pode ser traduzido, como pode ser interpretado hoje? Essas categorias de pessoas que nós, com base em convicções religiosas, espirituais, étnicas e raciais, consideramos os excluídos, os invisíveis, os rejeitados, são precisamente para tais pessoas que a nossa atenção deve se dirigir. 

Lucas 14,14: «Então serás bem-aventurado, pois esses não têm como te retribuir! Receberás a retribuição na ressurreição dos justos”.»

Bem-aventurado sabemos que significa plenamente feliz. Portanto, Jesus convida esta comunidade de fariseus a agir não mais com interesse, mas com desinteresse, sempre por generosidade e amor ao próximo. Jesus está falando aos fariseus, por isso ele usa categorias religiosas que os fariseus pudessem entender: a ressurreição dos justos.

Assim, Jesus convida-lhes a não prestar atenção à recompensa imediata:Eu lhe faço um favor porque você me faz isso”. Criando essa panelinha que exclui os outros de seus próprios interesses e bem-estar, mas a voltar toda a atenção para o bem e para o bem-estar dos outros e então Deus será sua recompensa. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.


 Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“A vontade de retribuir vem naturalmente e um pequeno gesto acaba se multiplicando. Quando se planta cuidado, colhe-se gratidão.”

(Charles Chaplin: 1889-1977 – ator, diretor e produtor cinematográfico inglês)

Jesus, na passagem do Evangelho deste domingo, encontra-se participando de um banquete oferecido por um dos principais fariseus da região, onde ele se encontra. É uma refeição de sábado, preparada na véspera, uma vez que não se pode exercer atividades no dia dedicado ao Senhor. Sobre os convidados, podemos inferir que sejam outros fariseus de grande prestígio, doutores da Lei e amigos íntimos do dono da casa. Nós não veríamos, nisso, nada de anormal ou reprovável, afinal, cada um gosta de estar com os conhecidos, com os amigos, com pessoas como nós. 

No entanto, não é assim que o Filho de Deus vê as relações entre os seres humanos! Como sempre, Jesus nos desconcerta! Pois ele sente a ausência dos pobres, dos aleijados, dos coxos e dos cegos, isto é, gente que todos esquecemos, gente que não conta, gente desprezada! Porém, esses são os verdadeiros AMIGOS DE JESUS! A preocupação de Jesus é sempre a mesma: humanizar a humanidade! Tornar esse mundo, verdadeiramente, humano! 

É muito comum vivermos em um círculo de relacionamentos onde nossos interesses e vontades sejam contemplados! Ocorre, por demais, que as relações sejam fruto de algum tipo de interesse: faço isso a alguém para conseguir dele algo que necessito. Convido este ou aquele à minha casa, para que eu possa ser aceito e acolhido no grupo seleto de amigos daquela pessoa. Cultivo a “amizade” com este ou aquele porque é alguém influente, que pode me proporcionar algo no futuro, e assim por diante. É raro haver a verdadeira e autêntica gratuidade em nossas relações pessoais, familiares, políticas e, inclusive, religiosas! 

Cabem, aqui, as proféticas palavras de Papa Francisco proferidas na homilia da missa celebrada quando visitou a ilha italiana de Lampedusa (08/07/2013), local de recepção de imigrantes ilegais provenientes da África, sobretudo:

«A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!»

Todos nós, que nos dizemos seguidores de Jesus, devemos ter bem claro o seguinte: o mais importante não é fazer crescer a religião, a nossa igreja, a nossa comunidade, mas promover a construção de uma sociedade onde os menores, os últimos, os mais pobres, todos, enfim, possam ter vida digna, vida humana, de verdade! Enquanto permitirmos que no mundo haja um pequeno grupo de pessoas que tudo possuem, inclusive em excesso (!), e outros passem falta, até, do alimento, não podemos dizer que somos cristãos, de fato!

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, graças à tua luz que desceu em mim, a convicção de que sou pecador se espalhou por toda a minha vida. Compreendi, um pouco mais profundamente, que teu Filho Jesus é meu Salvador. Minha vontade, meu espírito, todo o meu ser se apega a ele. Que a onipotência do teu amor me ganhe, meu Deus. Supera as resistências que muitas vezes me tornam rebelde, as nostalgias que me levam a ser apático, preguiçoso; conquiste tudo o teu amor para que eu seja um feliz troféu da tua vitória. Minha esperança está ancorada em tua fidelidade. Mesmo que seja para crescer no turbilhão da civilização, sou um convertido em flor e tu velas por esta primavera florida pelo Sangue de teu Filho. Um por um, tu olhas para nós, tu cuidas de nós, tu nos guardas; tu, o Cultivador desta fonte de vida eterna: tu, Pai de Jesus e nosso Pai; tu, meu Pai! Amém. »

(Anastasio Ballestrero. 22ª Domenica del tempo ordinario. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 530-531.) 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXII Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 1 settembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 24/08/2022).

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