«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

É a hora da verdade!

 Tensão conflitante na Igreja

 José María Castillo

Estudou TEOLOGIA na Faculdade de Teologia de Granada (Espanha). Obteve o DOUTORADO EM TEOLOGIA na Universidade Gregoriana de Roma. Foi professor de Teologia Dogmática na Faculdade de Teologia de Granada e Professor visitante nas seguintes Universidades: Comillas (Madri), Gregoriana (Roma), UCA (San Salvador). Possui título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Granada. Autor de vários artigos e livros, dentre os quais: “Jesus, a humanização de Deus. Ensaio de cristologia”, publicado pela editora Vozes, em 2015. 

A religião está em declínio crescente. Mas esse declínio não é um infortúnio fatal

É um “segredo aberto” que há um profundo mal-estar na Igreja. Um mal-estar que foi destapado e que preocupa os ambientes religiosos e eclesiásticos. Esta situação desagradável e perigosa foi acentuada pela morte do ex-Papa Bento XVI. 

Evidentemente, os dois últimos papas, Joseph Ratzinger e Jorge Mario Bergoglio, foram e são dois homens muito diferentes. Mas o problema não está no que foram – ou são – esses dois homens. O problema está no que ambos representam. 

Ex-papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) com Papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio)

Claramente, na Igreja, todos os papas representam a suprema autoridade. Mas não esqueçamos que, em qualquer caso e quem quer que seja, estamos falando da suprema autoridade “na Igreja”, que deve ser exercida “segundo o que ensina o Evangelho”. Tendo sempre presente que, na Igreja, ninguém pode ter autoridade para viver ou decidir “contra o que ensina o Evangelho”. Claro, na medida e de acordo com as limitações inerentes à condição humana. 

Bem, assumindo isso, sabemos que Jesus anunciou aos seus doze apóstolos, em três ocasiões (Mc, 8,31 e paralelos; 9,30-32 e paralelos; 10,32-34 e paralelos; J. Jeremias, Teología del Nuevo Testamento. Salamanca, Sígueme, p. 321-331), que em Jerusalém seria condenado à morte mais baixa que uma sociedade pode julgar: a de um criminoso executado (Gerd Theyssen, El movimiento de Jesús, Salamanca, Sígueme, p. 53). 

Pois bem, a partir do momento em que os discípulos souberam que o fim de Jesus se aproximava, e que tudo terminaria num fracasso inimaginável, o comportamento daqueles apóstolos tomou um rumo inesperado. Simplesmente, aqueles que “seguindo Jesus” abandonaram tudo o que tinham (família, trabalho, lares...) (cf. Mt 8,18-22; Lc 9,57-62), com uma generosidade incrível, visto que isso levou ao fracasso mais cruel e vergonhoso, sem dúvida, e precisamente por isso, foi então que aqueles “seguidores” de Jesus começaram a discutir qual deles era “o maior” (grego: meison) (Mc 9,33-35, cf. 10,43; Lc 22,24-27) (cf. S. Légasse, Diccionario Exegético del Nuevo Testamento, vol. II, Salamanca, Sígueme, 207). Ou seja, aquele que tinha que ter o poder máximo e tinha que aparecer como o mais importante. Jesus, ao contrário, muda radicalmente tais critérios:

... o primeiro, entre seus discípulos, não deve ser o maior, mas o contrário: o menor, aquele que representa o que é visto como criança (Mc 9,37 e paralelos).

Mas esta não é a coisa mais importante que Jesus ensinou a seus discípulos e apóstolos. Após o terceiro anúncio da paixão e morte, quando já subiam a Jerusalém (Mc 10,32 e paralelos), às vésperas do iminente fracasso, “os filhos de Zebedeu, Tiago e João”, tiveram a audácia desavergonhada de pedir a Jesus que as primeiras posições lhes fossem dadas! Ao que Jesus respondeu: “Vós não sabeis o que estais pedindo” (Mc 10,34 e paralelos). E, sobretudo, o problema grave é que os outros discípulos ficaram indignados com o pedido de Tiago e João (Mc 10,41). Em outras palavras, todos queriam estar situados nas posições mais importantes

A resposta de Jesus foi enfática. Ele convocou todos eles e disse-lhes que não poderiam desejar o que os “chefes das nações” desejam. Deviam desejar e viver como “doulei” (grego), como “servos e escravos” dos outros (Mc 10,42-45 e paralelos). 

Na Igreja, se produziu uma dupla adulteração:

1ª) Antes de tudo, o Evangelho exigia o “seguimento” de Jesus, que se realiza no despojamento de tudo o que se tem (Mt 8,18-22; Lc 9,57-62). Ou seja, não viver preso aos bens que nos privam da liberdade, para tornar possível a bondade sem limites. Mas o que fizemos foi deslocar o “seguimento” de Jesus para a “espiritualidade”, que é privilégio de poucos eleitos.

2ª) E a outra adulteração – a mais decisiva na Igreja – é aquela que brotou, já nos primeiros discípulos, quando Jesus os informou que deviam despojar-se, não só “do que cada um tinha” (dinheiro, bens, casa, família...), mas também e sobretudo, “desfazer-se de si” (Eugen Drewermann). Isto explica porque quando Jesus informou os discípulos – pela segunda vez – do fim que o esperava (Mc 9,30-32 e paralelos), aqueles fiéis homens começaram a discutir “qual deles era o primeiro e o mais importante” (Mc 9,34-35 e paralelos). Ao que Jesus respondeu que, em seu projeto, quem quisesse “ser o primeiro” deveria “ser como uma criança e ser o último” (Mc 9,33-37 e paralelos). 

Sem dúvida, aqueles primeiros apóstolos “seguiram” Jesus. Mas aqueles seguidores de Jesus “não haviam renunciado a si mesmos”. Ou seja, eles queriam seguir Jesus, mas sendo os primeiros, os mais importantes, os que mandam. E a verdade é que, quando Jesus foi preso, para matá-lo, Judas vendeu Jesus, Pedro o negou três vezes e, claro, “todos os discípulos o abandonaram e fugiram” (Mc 26,56). 

PAPA SÃO PIO X

A partir desse momento, foram colocados os pilares de uma Igreja que vive em tensão conflituosa. No século passado, o Papa São Pio X disse em uma famosa encíclica (Vehementer Nos):

“Só na hierarquia residem o direito e a autoridade necessários para promover e direcionar todos os membros para o fim da sociedade. Quanto à multidão, não tem outro direito senão deixar-se conduzir e, docilmente, seguir os seus pastores” (cf. Y. Congar, Ministerios y comunion eclesial, Madri, Fax, 1973, p.14).

Assim era vista a Igreja nos primeiros anos do século XX. Um século depois – agora – tal Igreja é insuportável. Neste momento, estamos num processo de transformação que recupera urgentemente o que Jesus começou, quis e quer, como ficou claro no Evangelho. A Religião está em declínio crescente. Este declínio não é um infortúnio fatal. É o passo inevitável para que o centro da vida da Igreja não se realize nos conflitos clericais, mas na recuperação do Evangelho. 

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Fonte: Religión Digital – Teología sin censura – Sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023 – Internet: clique aqui (Acesso em: 09/02/2023).

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