«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Sínodo: um balanço da primeira sessão

 Sínodo: o não dito, os adiamentos e as questões abertas pelo Papa 

Alberto Melloni

Professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia (Itália) e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por «Corriere della Sera», 26-10-2023 

ALBERTO MELLONI: historiador da Igreja, especialista em concílios e, mais especificamente, em Concílio Vaticano II 

 Deve-se prosseguir a reflexão, pois há muito a ser repensado na Igreja Católica

Francisco deu ao Sínodo da Igreja Católica uma forma diferente: aquela de um “concílio não geral”, que reúne uma parcela do colégio episcopal, alguns fiéis católicos e poucos cristãos de outras Igrejas. Ele o convocou para uma sessão que agora está prestes a terminar com um documento intermédio, e a uma segunda sessão no próximo ano: na véspera de uma longa intersessão na qual o Sínodo não está nem dissolvido nem reunido, não é possível tirar conclusões, mas certamente listar algumas questões.

O Sínodo se cercou de um segredo paradoxal. Das conversas papais feitas de improviso com os jesuítas de todos os lugares, conhecemos cada suspiro: da maior assembleia cristã desde o Vaticano II nada. A proibição de comunicação foi imposta por Francisco com a pia fraus [= mentira contada com boas intenções] que nos sínodos sobre a família e sobre a Amazônia foram os jornalistas que ditaram a agenda da comunhão de pessoas divorciadas e sobre os padres casados ​​(que haviam sido admitidos por Bento XVI, mas apenas se ex anglicanos). Resultado: houve comunicação, mas disse urbi et orbi que a Igreja Católica fez uma escolha autorreferencial, numa murmuração global realizada justamente no mesmo momento que uma inundação de sangue banhava a terra de Israel e de Gaza, acrescentando um capítulo chave à terceira guerra mundial em episódios.

PAPA FRANCISCO discursa durante a Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, outubro de 2023, Vaticano

No discurso mais importante do seu pontificado ― porque a conciliaridade é o conteúdo mais importante do pontificado ― Francisco limitou-se a dizer que o sínodo não é um parlamento e é feito pelo Espírito. Princípio sacrossanto: o Sínodo não é “representação” de uma audiência, mas “representação” da Igreja universal e recebe autoridade imediatamente de Cristo, para intuir partes de verdade cristalizadas pelo desuso e redescobertas na medida em que à luz da história “amadurece” a compreensão do Evangelho (o “maturetur” da Dei Verbum 12); e a ação do Espírito é demonstrada não pela adoção de uma comportada etiqueta eclesiástica, mas pela capacidade de falar às vidas concretas da fé concreta. No entanto, nada resultou daqueles princípios: ou pelo menos nada que deixasse claro que a diferença entre um bispo e um Luca Casarini não vem de uma lógica de casta, mas pelo fato de que a consagração episcopal torna o bispo voz da communio ecclesiarum [= comunhão de igrejas], sem a qual a policromia das Igrejas se torna federalismo de estranhos.

A preocupação do Papa em não submeter ao Sínodo documentos já prontos (como acontecia nos sínodos de Paulo VI a Bento XVI) levou a secretaria a uma obsessão “metodológica”. Os otimistas dizem que isso evitou o conflito que era esperado, especialmente em temas geralmente mantidos sob os panos. Os pessimistas dizem que ele adiou. Os realistas dizem que não tendo que discutir, foi posto de lado o problema dos problemas que é a proximidade entre bispos e teólogos: é graças a isso que funcionaram as grandes reuniões conciliares da Igreja com a história, como o Vaticano II e o Tridentino, durante o qual os bispos tinham que assistir à discussão dos teólogos antes de tomar a palavra e votar.

O sistema de mesas temáticas em que cada um diz o que pensa e depois o que entendeu dos outros, silenciou os saberes (exegéticos, históricos, canônicos); sedou, portanto, a fobia romana pelos bispos de fora da Itália; e silenciou o desajeitado partido dos dubia, que gostariam de reprovar o Papa no exame de catolicismo. Mas também garantiu que as intervenções na plenária de três minutos pudessem produzir uma torrente de pensamentos fragmentados: um longo tik-tok “igrejístico”, em cujo fluxo ninguém entende para onde se esteja indo ou para onde de deva ir.

A dinâmica de mesas temáticas durante a Assembleia Sinodal

Christoph Theobald, o teólogo de mais alto nível no Sínodo, descreveu isso em um livro que está sendo publicado, como “um novo concílio que não diz o seu nome” (ou seja, não se define como concílio). Mas que estejamos assistindo a um Vaticano III em pequena escala, capaz de curar as muitas feridas que a Igreja conheceu e se infligiu durante os últimos três pontificados, não é certo. O Sínodo, de fato, é o instrumento com o qual a comunhão expressa no ato litúrgico produz decisões com as quais a Igreja confessa que “não é o evangelho que muda, mas nós que estamos começando a entendê-lo melhor” (Roncalli). Mas até agora a única decisão tomada foi adiar tudo para 2024 sem dizer nada sobre o intersessão, que é o momento crucial.

CHRISTOPH THEOBALD: teólogo jesuíta alemão, professor de Teologia Fundamental e Dogmática na Faculdade de Teologia do Centre-Sèvres de Paris, França

Portanto, para evitar que 2024 delibere sobre o nada ou precipite posições que devolveriam à Suprema Autoridade a tarefa de dizer se uma orientação é “ideológica” (quando algo não lhe agrada, assim diz Francisco) ou não, é preciso entender que o Sínodo se prolonga durante a intersessão e requer muita reflexão, muita sabedoria e muita confiança.

Não é um problema novo: foi assim entre o primeiro e o segundo períodos do Vaticano II, quando funcionou uma comissão de coordenação e quando Paulo VI escolheu quatro “moderadores” com poderes para dirigir a discussão, abrir sessões de votação, submeter questões, de forma a evitar que o debate se enrolasse sobre si mesmo; repensar tais instrumentos para a intersessão sinodal talvez poderia ser a única maneira de evitar que a Igreja apareça, no piedoso silêncio em que terminou o Sínodo, ocupada apenas com os seus próprios assuntos, enquanto o mundo arde à espera da Palavra que salva. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 27 de outubro de 2023 – 14h50 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 10/11/2023).

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