«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

2º Domingo da Quaresma – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 9,2-10 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

A morte não nos destrói

O evangelista Marcos, nas tentações de Jesus no deserto, não pretendeu apresentar um período da vida do Senhor, mas mostrar que toda a existência de Jesus foi no deserto, tentado por satanás. E no decorrer do evangelho, o evangelista mostrou quem é esse satanás. Quando Jesus anuncia pela primeira vez aos seus discípulos que não vai a Jerusalém para conquistar o poder, mas para ser morto pelo poder, surge uma reação violenta e temerária, aquela de um dos discípulos, Simão, a quem Jesus deu um apelido negativo, que indica a sua teimosia, Pedro, duro como pedra, agarra-o e Jesus dirige-se a este discípulo com palavras terríveis chamando-o de “satanás” (cf. Mc 8,33). Ele não o afasta, mas diz: “Volte e fique atrás de mim, Satanás”. Assim é Simão, apelidado de Pedro pela sua teimosia, a teimosia que depois levará à traição de Jesus. É ele que Jesus e o evangelista identificam como o satanás tentador. 

Marcos 9,2a: «Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte...»

Mas não é à toa que se chama Pedro, por isso ainda continua a tentar Jesus e, logo após este embate entre Jesus e os seus discípulos, que não aceitam o fato de o Messias poder morrer, Jesus mostra-lhes qual é a condição do ser humano que passa pela morte. É a passagem de hoje, conhecida como episódio da transfiguração, capítulo 9 do Evangelho de Marcos. Que começa com uma indicação muito importante: “O sexto dia ou seis dias depois”. O sexto dia recorda o dia da criação do ser humano; aqui, então, o evangelista apresenta-nos o ser humano criado segundo Deus:

o ser humano que não sucumbe à morte, mas com a morte inicia uma nova existência luminosa.

Seis dias depois Jesus levou consigo” e levou consigo os três discípulos mais difíceis, aos quais deu um apelido negativo que indica o seu carácter: Simão, que se chama Pedro, o teimoso, e depois Tiago e João, a quem chamou em aramaico “boanerges” que é “os filhos do trovão”, pela sua violência, pela sua ambição, aqueles que então correrão o risco de arruinar, de dividir o grupo. 

Marcos 9,2b-3: «... sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar.»

Sobre uma alta montanha” que indica a condição divinae foi transfigurado diante deles”. Jesus mostra qual é a condição do ser humano que passa pela morte.

A morte não só não destrói o indivíduo, mas liberta todas as suas energias e fortalece-o.

Por isso o evangelista usa uma expressão que pode parecer banal, diz: “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”; significa que não é com o esforço humano que esta condição é alcançada, mas através da energia divina que é comunicada ao ser humano. 

Marcos 9,4: «Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.»

Neste momento, Elias apareceu-lhes com Moisés. O que chamamos de Antigo Testamento, no mundo judaico, foi dividido entre a LEI, a qual foi transmitida através de Moisés, e os PROFETAS. O maior dos profetas era aquele que fez cumprir a lei com violência, o profeta Elias. Observe-se que eles não conversam com os discípulos, eles conversam com Jesus. Elias e Moisés não têm mais nada a dizer aos discípulos de Jesus, a menos que sua mensagem seja filtrada através dos ensinamentos e obras de Jesus. 

Marcos 9,5-6: «Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo.»

E, aqui, novamente Simão continua sua ação como um satanás tentador. O evangelista escreve: “Tomando a palavra” e usa apenas o apelido negativo, “Pedro”, que indica o teimoso, “disse a Jesus” e o chama exatamente como Judas o chamará, “Rabbi” (mestre), uma expressão de respeito com a qual as pessoas costumavam dirigir-se aos escribas, aqueles que ensinavam a lei. “É bom a gente estar aqui”, em seguida vem a tentação:vamos fazer três tendas”. Por que três tendas? Houve e ainda há uma celebração no mundo judaico entre setembro e outubro com a qual é lembrada a grande libertação da escravidão egípcia. Para comemorar e celebrar este aniversário, as pessoas vivem em cabanas durante uma semana e a tradição diz que o novo libertador de Israel chegará na memória do antigo libertador, portanto o novo messias se manifestará na memória de Moisés.

Eis, então, a tentação de Pedro: ele quer que Jesus se manifeste assim, como? E eis o que Pedro diz: “Vamos fazer três tendas, uma para você, uma para Moisés e uma para Elias”. Quando há três personagens, onde está o mais importante? No centro. No centro para Pedro ainda não está Jesus, no centro está Moisés. É como se Pedro dissesse: “Aqui está o messias que eu quero, aquele que vive de acordo com a lei de Moisés e a aplica de acordo com o espírito violento do profeta Elias”. É a tentação de ser um messias de poder. Mas, escreve o evangelista, que ele não sabia o que estava dizendo. 

Marcos 9,7: «Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”»

E aqui está a intervenção de Deus através da nuvem, imagem divina, e a sua voz diz: “Este é meu filho, o amado”, o amado significa o herdeiro, “nele está tudo de mim”. E, então, uma ordem imperativa “Escutai-o”. Eles não precisam mais ouvir Moisés ou Elias; e seus ensinamentos devem ser filtrados e interpretados de acordo com os ensinamentos e obras de Jesus. Por isso, o convite no imperativo: “Escutai-o”. 

Marcos 9,8-10: «E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.»

E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém.” Ainda procuram Moisés e Elias porque é a tradição que lhes dá segurança, e só encontram Jesus e se sentem perdidos. Então Jesus ordena-lhes que não falem do que viram porque experimentaram qual é a condição do homem que passa pela morte, mas ainda não sabem o que será esta morte, a infame da cruz

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas, se morre, produz muito fruto.»

(João 12,24)

A cena da transfiguração sobre o monte ocorre, logo após, a cena da profissão de fé de Pedro e o primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus (cf. Mc 8,27-33). Portanto, ela vem completar a manifestação do mistério de Cristo, o qual é constituído pela cruz e a glória da ressurreição. Para o evangelista Marcos, não há ressurreição, não há glória sem a cruz! Nos tempos de hoje, isso é fundamental! Afinal, ressurge uma tendência de se focar, apenas, no Cristo glorioso, vencedor, rei, majestoso, esquecendo-se do Cristo na cruz! Muitos cristãos atuais não querem “beber do cálice” que Jesus bebeu (cf. Mt 20,22-23; Jo 18,11). 

A ordem divina, nesta cena, para “escutar” seu Filho amado (cf. Mc 9,7b) não é casual nem um mero detalhe! De fato, o que há de mais importante para nós, cristãos, é escutar o Cristo. Isso se dá, especialmente, na leitura, meditação e oração de sua palavra, presente nos Evangelhos. O Pai se reconhece totalmente em seu Filho, Jesus! Ele é o seu herdeiro. O modo de ser de Jesus é o mesmo de seu Pai. Assim sendo, escutar Jesus é viver segundo o que o Pai deseja. 

Uma Igreja que não escuta o seu mestre, não pode ser fiel e confiável! A incompreensão que se observa nos discípulos, naquela época (cf. Mc 8,33; 9,10.32), pode ser encontrada em nós, hoje. Custamos a crer e extrair as consequências do fato de seguirmos um mestre, e crermos em um messias, um salvador, que foi esmagado e morto em uma cruz! 

Mediante Jesus, Deus nos mostra que a sua salvação chega até nós, pela doação/morte de seu próprio Filho! Aquilo que Deus não permitiu que Abraão fizesse, ou seja, sacrificar o seu próprio filho (cf. Gn 22,1-19), ele o faz agora! Com isso, Deus demonstra que o seu amor é infinito, é ilógico, é algo que escapa à nossa compreensão! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor meu Deus, escuta a minha prece, e que a tua misericórdia atenda ao meu desejo, porque não é só por mim que ele arde, mas quer ser útil também ao meu amor pelos irmãos. Tu vês o meu coração e sabes que é assim. Deixa que eu te ofereça em sacrifício o serviço do meu pensamento e da minha palavra, e concede-me aquilo que desejo oferecer-te. Sou pobre e desvalido, tu és rico para todos os que te invocam.» Amém.

(Fonte: Confissões 11,2 – Santo Agostinho)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 2ª Domenica di Quaresima – Anno B – 28 febbraio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 21/02/2023).

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