«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 9 de novembro de 2019

Um Brasil que ninguém quer ver!

13,5 milhões na extrema pobreza,
2,4 milhões “nem-nem” e
desigualdade em alta

Redação RBA

Em tempos de corte de gastos públicos, IBGE destaca necessidade de políticas voltadas para segmentos mais vulneráveis da população
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O Brasil tinha 13,5 milhões de pessoas na extrema pobreza em 2018, 6,5% da população, nível recorde desde 2012, segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada hoje (6 de novembro) pelo IBGE. O instituto adota critério do Banco Mundial, que inclui na extrema pessoa quem tem renda mensal per capita inferior a US$ 1,90 por dia. “Esse número é equivalente à população de Bolívia, Bélgica, Cuba, Grécia e Portugal”, diz o IBGE. A pesquisa inclui outros dados negativos, como a desigualdade no mercado de trabalho, e a chamada geração “nem-nem”. Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, queixou-se que os pobres “consomem tudo” o que ganham.

Em um momento de corte de gastos públicos, o gerente do estudo, André Simões, afirma a necessidade de políticas públicas voltadas para esse segmento mais vulnerável da população. “Esse grupo necessita de cuidados maiores que seriam, por exemplo, políticas públicas de transferência de renda e de dinamização do mercado de trabalho. É fundamental que as pessoas tenham acesso aos programas sociais e que tenham condições de se inserir no mercado de trabalho para terem acesso a uma renda que as tirem da situação de extrema pobreza”, afirma o IBGE.

O país tem também 52,5 milhões na chamada linha da pobreza, vivendo com menos de R$ 420 per capita por mês. O índice até caiu de 2017 para 2018, de 26,5% para 25,3% da população, mas, como lembra o instituto, está longe do melhor resultado da série: 22,8%, em 2014. “Em 2012, foi registrado o maior nível da série para a pobreza, 26,5%, seguido de queda de 4 pontos percentuais em 2014. A partir de 2015, com a crise econômica e política e a redução do mercado de trabalho, os percentuais de pobreza passaram a subir com pequena queda em 2018, que não chega a ser uma mudança de tendência”, diz o analista Pedro Rocha de Moraes.

Mesmo o valor do indicador de pobreza do Bolsa Família, R$ 89, é inferior ao parâmetro global, equivalente a R$ 145. Mas o pesquisador do IBGE Leonardo Athias observa que, em 2011, o valor de R$ 70 para o BF era compatível com o valor global da época, de US$ 1,25 por dia. “Por falta de correções monetárias, hoje o valor de R$ 89 é abaixo do valor global indicado pelo Banco Mundial”, acrescentou.

Brancos ganham 74% a mais que negros

Em outro aspecto da pesquisa, o IBGE mostrou que no ano passado pretos e pardos – classificação usada pelo instituto – correspondiam a dois terços (66%) dos chamados subocupados por insuficiência de horas – quem trabalha menos de 40 horas semanais e gostaria de trabalhar mais. As mulheres, que são 43,7% dos ocupados, correspondem a 54,6% dos subocupados.

A taxa de desemprego para a população preta e parda foi de 14,1%. Entre os brancos, 9,5%, e eles também ganhavam, em média, 73,9% a mais. Quando se calcula o rendimento-hora, a diferença é de 68,3%. Dos pretos e pardos, 47,3% estão na informalidade, ante 34,6% dos brancos.

Ainda de acordo com o IBGE, 2,4 milhões de jovens de 15 a 29 anos não estudavam nem trabalham em 2018, a chamada geração “nem-nem”. O total corresponde a 23% das pessoas nessa faixa etária. “Este patamar coloca o Brasil entre os cinco piores colocados entre os 41 países membros ou parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, observa o instituto. Mais da metade (57,4%) desses jovens era de desalentados.

Fonte: Rede Brasil Atual – Economia – Quarta-feira, 6 de novembro de 2019 – 15h31 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

A desigualdade trava o crescimento

Entrevista com Joseph Stiglitz
Prêmio Nobel de Economia (2001)*

Francesco Manacorda
Jornal «La Repubblica» - Roma (Itália)
07-11-2019

"Precisamos de uma caixa de ferramentas para reparar o capitalismo.
Caso contrário, os populistas de todo o mundo se unirão."
JOSEPH E. STIGLITZ

"O capitalismo não está acabado, mas precisa de um novo contrato social". O Prêmio Nobel de Economia Joseph E. Stiglitz - uma das vozes mais fortes do mundo na crítica à globalização e ao liberalismo - pede que sejam revistas as regras para chegar a um "capitalismo progressivo". Ele explica isso em seu último livro, lançado este ano nos Estados Unidos, People, Power, and Profits [trad. livre: Povo, Poder e Lucro], e o explicará nos próximos dias em uma série de encontros na Itália que se iniciam com esta entrevista.

Stiglitz certamente não é um revolucionário: se na cena estadunidense é um iconoclasta que se tornou por sua vez objeto de culto por teorias que muitos veem se embrenhando pelos territórios proibidos do socialismo, na Europa sua proposta soa muito mais familiar. Não muito diferente, no fundo, daquela que poderia apresentar um socialdemocrata sueco ou mesmo um bom e velho democrata-cristão da esquerda social. "Mas, se não ajustarmos o quanto antes o capitalismo - ele diz - corremos o risco de sermos tragados pela força das desigualdades que esse sistema sem controles está nos impondo" e pela igualmente violenta reação dos populistas de todo o mundo que também tendem a se unir, justamente como Marx pediu para fazer cento e setenta anos atrás - desde então com altos e baixos - aos proletários.

Eis a entrevista.

Ajustar o capitalismo, professor Stiglitz. Mas com que ferramentas? Para que ter à disposição ferramentas para tentar mudar o que não está dando certo? E quem deveria fazer isso?

Joseph E. Stiglitz: Os Estados devem fazer isso e da caixa de ferramentas devem retirar normas fortes que limitem o excessivo poder das empresas; investimentos públicos em infraestrutura e que, em geral, aumentem a eficiência e a produtividade da economia; um sistema tributário progressivo (onde os ricos paguem em proporção mais impostos do que os pobres, ndr) em vez de regressivo como é hoje nos Estados Unidos; impostos sobre a poluição e as transações financeiras; um Estado de bem-estar que não seja apenas assistência social, mas ajude as pessoas a investirem em si mesmas.

Em suma, um forte papel do Estado, como regulador, investidor, redistribuidor de recursos. Muitos o consideram completamente anti-histórico.

Stiglitz: Certamente precisamos de um melhor equilíbrio entre Estado e mercado. Quando se deixa um mercado sem regras, quando prevalece aquele "neoliberalismo" que reinou nos últimos quarenta anos, então acontece tudo o que vimos nos Estados Unidos nesta década:
* bancos que assumem riscos excessivos,
* empresas que se aproveitam de seus clientes e dos poupadores,
* crises financeiras,
* empresas automobilísticas que tentam enganar sobre as emissões poluentes de seus carros,
* gigantes da alimentação que induzem as crianças a comer produtos que poderiam torná-las diabéticas.
E só estou fazendo uma lista parcial.

Por muitos anos, pensou-se que nenhum poder estatal pudesse limitar o poder das grandes corporações, semelhante a navios corsários que não usavam nenhuma bandeira nacional. É isso mesmo?

Stiglitz: Não, acredito que os Estados Unidos e a Europa tenham uma maneira de incidir profundamente sobre o comportamento das grandes corporações, principalmente atuando sobre as práticas anticoncorrenciais ou evitando concentrações excessivas e melhorando a regulamentação financeira. Os países maiores, incluindo a China, na realidade têm um poder enorme.

Parar o poder esmagador das grandes corporações também não significaria parar, ou pelo menos, pôr em risco o crescimento econômico?

Stiglitz: Foi o que tentaram e tentam nos fazer acreditar. Mas o que a longo prazo realmente trava o crescimento e o desenvolvimento é o aumento das desigualdades, o fato de que os que estão embaixo têm cada vez menos oportunidades e os que estão no topo podem agir sem restrições.
 
Plataforma Troll A - em campo de gás na costa oeste da Noruega.
É a estrutura mais alta e mais pesada que já foi movida para outra posição,
em relação à superfície da Terra, e está entre os maiores e mais complexos projetos de engenharia da história.
Existe um paradoxo, no entanto. Na Europa, a partir da Itália, temos um capitalismo muito temperado pela intervenção do Estado. No entanto, a Europa, em termos de puro crescimento do PIB, está bem atrás dos altamente desregulados Estados Unidos. Por quê?

Stiglitz: Antes de tudo, acho que devemos ser muito cautelosos com a forma como se mede a produção de uma empresa. Se o PIB aumenta, mas também aumentam os obesos ou os alcoólatras que precisam de tratamento, qual é o efeito geral sobre o crescimento de um país? Além disso, o crescimento da população e da força de trabalho nos EUA nas últimas décadas foi muito superior àquela da Europa e contribuiu para impulsionar o crescimento econômico. Finalmente, há uma infinidade de fatores que podem influenciar a relação entre estado, mercado e crescimento econômico. Veja a Suécia ou a Noruega, que tiveram crescimento satisfatório e uma intervenção estatal. De maneira mais geral, se considerarmos o período que abrange aproximadamente o último século, aqueles que colocaram o Estado e o mercado em campo tiveram um crescimento mais justo e mais forte do que aqueles que não o fizeram.

Ninguém nega que em cada país as desigualdades tenham crescido nos últimos quarenta anos. Mas o neoliberalismo não reduziu também as desigualdades no mundo? Você não acha que, no fundo, suas ideias são um exemplo de primazia cultural ocidental?

Stiglitz: Sim, os países do sudeste da Ásia, principalmente a China e a Índia, estão entre os que mais se beneficiaram do crescimento e, em muitos casos, tiveram uma redução das desigualdades dentro deles. Mas, para atingir esse objetivo, o Estado interveio de maneira forte. Portanto, vejo o que aconteceu naqueles países como a prova de que o mercado, para funcionar da melhor maneira possível, deve ser temperado por um forte papel do Estado.

Sabe-se que você é um crítico do euro e das políticas de austeridade ligadas à manutenção da moeda única. Hoje precisamos menos ou mais da Europa? Ou apenas de uma Europa diferente?

Stiglitz: Existe uma percepção generalizada de que os acordos atuais na base da Europa, incluindo o euro, não funcionam bem. Os baixos níveis de crescimento no continente demonstram isso. Acredito que precisamos de mais Europa: a união bancária, um fundo de solidariedade entre países europeus, um seguro de desemprego em nível continental. Mas se não conseguirmos chegar a isso, então é melhor um pouco menos Europa. Não critico a construção europeia, mas apenas a moeda única que obriga países com políticas orçamentárias muito diferentes a se adaptarem à mesma moeda. Além disso, nem todos os países da UE adotam o euro.

As democracias sociais do norte da Europa são o verdadeiro exemplo de seu "capitalismo progressivo"?

Stiglitz: É preciso olhar ao redor do mundo e entender os diferentes aspectos do capitalismo progressivo. Claro, a Suécia tem muito a nos ensinar: por exemplo, sobre o sistema de ensino ou sobre o Estado de bem-estar social, enquanto a Noruega é provavelmente o melhor país do mundo em capacidade de gerenciar seus recursos naturais. Outros países conseguiram alcançar um bom grau de cooperação entre as empresas e seus reguladores. Mas é um processo em constante mudança, no qual não se pode parar de tentar, de experimentar.

* Joseph Eugene Stiglitz: clique aqui para informações detalhadas de sua carreira acadêmica, profissional e política.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 8 de novembro de 2019 – Internet: clique aqui

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