Jogo de cartas marcadas?
Privatização da Sabesp é tragédia anunciada
Camila Rocha
Doutora em Ciência Política pela USP e pesquisadora do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) Estação de tratamento de água da Sabesp, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo - Foto: Gabriel Cabral - 26.jul.19/Folhapress
Processo que vem
sendo conduzido sob a batuta de Tarcísio de Freitas é o pior possível
A Sabesp é uma das maiores empresas de saneamento do mundo. Sua rede de água abastece mais de 28 milhões de pessoas, e mais de 25 milhões são beneficiadas por sua coleta de esgoto. Sozinha, a Sabesp é responsável por cerca de um terço de todo o investimento em saneamento básico do Brasil. Apesar disso, houve apenas uma empresa interessada em ser sua acionista de referência.
A Equatorial Energia
S.A. é uma holding brasileira que atua, principalmente, no fornecimento
de energia elétrica. Empresa que se tornou proprietária da Sabesp é novata na área de abastecimento de água e tratamento de esgoto
Alvo de inúmeros processos por deixar as populações dos diversos estados brasileiros onde atua sem luz, a empresa afirma que entrou recentemente no setor de saneamento. Por “recentemente” leia-se: em 2022 a Equatorial passou a atuar com saneamento ao se tornar responsável pela oferta do serviço em 16 cidades do Amapá.
Hoje o estado do Amapá possui cerca de 750 mil habitantes. Para efeito de comparação, apenas o bairro do Grajaú, localizado na zona sul da capital paulista, possui mais de 348 mil habitantes.
Além da diferença abissal no tamanho da população dos dois estados, há também uma enorme diferença na prestação do serviço.
De acordo com o Censo de 2022, São Paulo é o estado que possui o melhor serviço de esgoto do país. Mais de 90% da população paulista tem acesso à coleta de esgoto, enquanto a média nacional é de 62,5%. Já no estado do Amapá, onde a Equatorial passou a atuar, apenas 11% da população tem acesso a esgoto.
Apesar disso, São Paulo ainda enfrenta desafios na universalização do serviço. De acordo com dados do DataSUS de 2019, a região metropolitana de São Paulo, que abrange 39 municípios do estado, gastou naquele ano mais de R$ 3 milhões com internações relacionadas a doenças cuja água é o principal meio de transmissão.
Mais de 6.000 pessoas foram internadas e 139 morreram. No mesmo ano, 7 pessoas por dia morreram no Brasil pelos mesmos motivos.
No entanto os problemas que preocupam a Equatorial parecem ser de outra ordem. DANIEL DANTAS é um dos principais acionistas do Banco Opportunity, a holding que controla a EQUATORIAL ENERGIA SA
Em uma apresentação voltada a investidores
realizada no início deste mês, a holding, que possui entre seus principais
acionistas o banco Opportunity, de Daniel Dantas, já elencou suas ações prioritárias
junto à Sabesp:
* “redefinir” a relação com
sindicatos,
* implementar programas de
demissão voluntária,
* “reestruturar” times,
* estabelecer uma “cultura de
resultados”,
* “otimizar benefícios e
políticas de remuneração” e
* implementar a “cultura de dono”.
No caso, “dono” refere-se aos acionistas da empresa, e não ao povo paulista, por óbvio.
Na apresentação, a Equatorial deixa clara sua preocupação em aumentar o retorno de investidores por meio de cortes de gastos com funcionários, a despeito da Sabesp ser uma empresa lucrativa.
A “economia” já se dá, inclusive, com a própria oferta de compra das ações a um valor inferior ao de mercado. Curiosamente, Karla Bertocco, que fazia parte do conselho da Equatorial até dezembro de 2023, assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração da Sabesp meses antes de a Equatorial fazer sua proposta.
A privatização da Sabesp em si é absurda e contrária à tendência mundial no setor. Porém o processo que vem sendo conduzido sob a batuta de Tarcísio de Freitas é o pior possível. Sem dúvida é uma tragédia anunciada.
Deputados Estaduais de São Paulo
que
votaram a favor da privatização: 62 votos
Lembre-se,
bem, do nome deles em 2026
Agente Federal Danilo Balas (PL)
Alex Madureira
(PL)
Altair Moraes
(Republicanos)
Ana Carolina
Serra (Cidadania)
Analice
Fernandes (PSDB)
Atila
Jacomussi (Solidariedade)
Barros Munhoz
(PSDB)
Bruna Furlan
(PSDB)
Bruno Zambelli
(PL)
Capitão
Telhada (PP)
Carla Morando
(PSDB)
Carlão
Pignatari (PSDB)
Carlos Cezar
(PL)
Clarice Ganem
(Podemos)
Conte Lopes
(PL)
Delegado Olim
(PP)
Dirceu Dalben
(Cidadania)
Dr. Eduardo
Nóbrega (Podemos)
Dr. Elton
(União Brasil)
Edmir Chedid
(União Brasil)
Edna Macedo
(Republicanos)
Fabiana
Bolsonaro (PL)
Felipe Franco
(União Brasil)
Gerson Pessoa
(Podemos)
Gil Diniz (PL)
Gilmaci Santos
(PL)
Guto Zacarias
(União Brasil)
Helinho
Zanatta (PSD)
Itamar
Borges (MDB)
Jorge Caruso
(MDB)
Jorge Wilson
Xerife do Consumidor (Republicanos)
Leonardo
Siqueira (Novo)
Léo Oliveira
(MDB)
Letícia Aguiar
(PP)
Lucas Bove
(PL)
Major Mecca
(PL)
Oseias de
Madureira (PSD)
Mauro Bragato
(PSDB)
Milton Leite
Filho (União Brasil)
Marta Costa
(PSD)
Marcos Damasio
(PL)
Maria Lúcia
Amary (PSDB)
Paulo Correa
Jr (PSD)
Paulo Mansur
(PL)
Rafael Saraiva
(União Brasil)
Rafael Silva
(PSD)
Rafa Zimbaldi
(Cidadania)
Ricardo França
(Podemos)
Ricardo
Madalena (PL)
Rodrigo Moraes
(PL)
Rogério
Nogueira (PSDB)
Rogério Santos
(MDB)
Rui Alves
(Republicanos)
Sebastião
Santos (Republicanos)
Solange
Freitas (União Brasil)
Tenente Coimbra (PL)
Thiago Auricchio (PL)
Tomé Abduch
(Republicanos)
Valdomiro
Lopes (PSB)
Valeria
Bolsonaro (PL)
Vinicius
Camarinha (PSDB)
Vitão do
Cachorrão (Republicanos)
Observação: os nomes de deputados em vermelho indicam aqueles eleitos pela região de São José do Rio Preto (SP).
Fonte: Folha de S. Paulo – Política/Colunista – Segunda-feira, 8 de julho de 2024 – Pág. A8 – Internet: clique aqui (Acesso em: 10/07/2024).
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